Na semana passada, abordamos as tratativas de incineração da revista O Cruzeiro, a cargo do universitário e membro do Partido Comunista, Luis Almeida Teles, cuja operação não obteve completo sucesso.
Volto ao assunto, pois nos dias que antecederam à tumultuada eleição do jornalista Assis Chateaubriand, outro episódio, também, de repercussão nacional, aconteceu em São Luís, quando o PSD do Maranhão assumiu o compromisso de elegê-lo senador.
Os atos e os fatos vieram a lume por causa da demissão sumária, por ordem expressa de Chateaubriand, dos brilhantes jornalistas maranhenses, Franklin de Oliveira e Neiva Moreira, que trabalhavam nos Associados e do corpo redacional da revista O Cruzeiro.
Contrários à barganha política, que fez de Chateaubriand candidato ao Senado da República, os jornalistas maranhenses fizeram questão de vir para São Luís e participar do processo eleitoral, no qual tiveram, ainda que o tempo da campanha fosse limitado, atuação desassombrada e viril contra o ex-patrão.
Franklin de Oliveira chegou a ser o candidato oposicionista a suplente de senador na chapa liderada pelo coronel da Aeronáutica, Armando Serra de Menezes. Por isso, ele e Neiva Moreira, passaram a ser alvos principais da violenta e difamatória campanha, movida pelos jornalistas Associados, que Chateaubriand trouxe do Rio de Janeiro para cá.
David Nasser, o mais famoso repórter de O Cruzeiro, autor da reportagem “O velho capitão”, que exaltava a figura humana e política do patrão, em São Luis, através de O Imparcial e O Pacotilha, encarregava-se de falar mal, criticar, atacar e desmoralizar os ex-colegas de redação, tratando-os como traidores e de caráter duvidosos.
Os jornalistas maranhenses, contudo, não aceitavam aquelas diatribes sem respostas. Pelo Jornal do Povo, respondiam aos ataques e vilipêndios no mesmo tom e tratavam de mostrar à opinião pública que David Nasser estava aqui a serviço de um candidato que nada tinha a ver com o Maranhão e de que sua atividade profissional era marcada pela venalidade e pela corrupção.
O duelo entre os maranhenses e David Nasser, veiculado pela imprensa daqui e de fora, ganhou mais consistência e violência, com a presença de mais um jornalista, também maranhense e de projeção nacional: Amorim Parga.
Ao integrar-se ao movimento contra a eleição de Chateaubriand, Amorim Parga assumiu a defesa de Franklin de Oliveira e Neiva Moreira dos severos ataques a David Nasser, mais ainda, desafiando-o para um confronto físico em qualquer lugar da cidade.
Antes das eleições, escreveu um terrível artigo contra o repórter de O Cruzeiro. Dentre outras coisas disse: “Quem é David Nasser para me julgar? Ele que apenas passou de repórter de polícia de O Globo para ser repórter de escândalos e chantagens de Chatô. Roubou mais de 300 contos da sociedade de compositores, furtou um automóvel e está rico como simples jornalista”. E arrematou ferozmente: “Comigo nem tudo se lava com água. Para os homens dignos a honra só se lava com sangue ou se paga com a vida. Escolha as armas. Eu, de minha parte, atacarei onde o encontrar. Vamos ajustar nossas contas. Vamos ver quem tem coragem”.
Como David Nasser calou-se diante do desafio de Amorim Parga, este, no dia das eleições(21 de março de 1955), à tarde, resolveu ir ao Hotel Central, onde o repórter de O Cruzeiro estava hospedado. Ao vê-lo na portaria do hotel, acompanhado do radialista carioca Raul Brunini, Amorim, que estava armado, entregou o revolver a um amigo e imediatamente partiu para cima do jornalista dos Associados, que recebeu algumas bofetadas na cara. Depois se atracaram, mas foram apartados pelos circunstantes.
Após a briga, que logo virou notícia nacional, como mais um ingrediente da escandalosa eleição de Chateaubriand, surgiram múltiplas versões sobre o vencedor da briga. Enquanto os jornais de São Luís apontavam Amorim Parga como herói e o grande vingador do povo maranhense, os veículos de comunicação da poderosa cadeia Associada, afirmavam o contrário.
Depoimento de repórteres e fotógrafos do Rio de Janeiro, que vieram fazer a cobertura do pleito, denegriam a imagem do jornalista maranhense, e alardeavam que David Nasser mostrou o seu lado de homem e valente e não se intimidou com as bravatas de Parga, impondo ao seu agressor uma tremenda surra.