LIÇÕES DE AMOR

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Quatro professoras tiveram influência marcante na minha vida: Celestina Nogueira da Cruz, conhecida por Celé, Anozilda dos Santos Fonseca, chamada Santinha, Maria de Jesus Carvalho e Maria Freitas.
As duas primeiras, Celé e Santinha, faziam parte do corpo docente do Grupo Escolar Gomes de Sousa, em Itapecuru-Mirim. Foram minhas professoras no curso primário, nos idos de 1950, quando o ensino em colégios públicos era de primeira qualidade, ministrado por profissionais preparadas e competentes. A elas, devo a boa base educacional adquirida nos meus primeiros tempos de convivência com os livros, legado esse que permitiu o meu ingresso direto no exame de admissão ao curso ginasial, no Colégio Maranhense São Francisco de Paula(Irmãos Maristas).
Na adolescência, quando já cursava o científico no inesquecível Liceu Maranhense, duas outras educadoras pontuaram indelevelmente a minha trajetória de estudante: Maria de Jesus Carvalho e Maria Freitas. Ambas, cultas, honradas e austeras, quer no exercício do magistério, quer nas atividades da vida cotidiana. Tive o prazer e a honra de ser aluno delas numa das fases mais importantes de minha existência, quando, além das magníficas aulas de Geografia, recebia lições e exemplos edificantes que não se apagam e jamais sairão da memória.
Ao deixar o Liceu, passei a não vê-las com a freqüência dos tempos escolares, mas sem deixar de acompanhá-las no que gostavam de fazer com dedicação e abnegação: lecionar, lecionar e lecionar, em colégios públicos e privados, jornada comprida e cumprida até a chegada da aposentadoria. Ao longo desse tempo, a admiração que nutria por elas nunca se arrefeceu, ao contrário, manteve-se firme e inquebrantável.
Anos depois, voltava a revê-las mais de perto. O destino novamente colocava Maria de Jesus e Maria Freitas na minha frente e a olhá-las não mais como jovem e discípulo privilegiado. Eu, então, com a vida organizada profissionalmente e no exercício de cargos públicos, revia aquelas duas mulheres, agora, mais maduras, bem conservadas, altivas, austeras, ciosas das responsabilidades e com a experiência a guiá-las na condução de outras tarefas que a vida lhes reservara.
O meu ponto de reencontro com Maria de Jesus deu-se na Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura de São Luis, nas gestões de Mauro Fecury e Roberto Macieira. Devotada à causa da espiritualidade, dedicava-se integralmente ao Centro Espírita Jardim das Almas, no Anil, onde, sem alarde e sem proveito pecuniário, ajudava os mais necessitados, prestando serviços médicos e educacionais.
Para ajudar a obra que realizava, assinei um convênio, pelo qual a Secretaria de Educação disponibilizava ao Jardim das Almas professoras, material de ensino e merenda escolar, para ampliar o atendimento às crianças que ela cuidava com desvelo e carinho.
Quanto a Maria Freitas, fui reencontrá-la na Sudema – Superintendência de Desenvolvimento do Maranhão, criada no governo José Sarney. Ali, contratada pelo seu ex-aluno, Joaquim Itapary, dirigia um grupo de geógrafos e estudantes, para fazer o levantamento do inventário dos recursos naturais disponíveis no Estado e o zoneamento do território maranhense.
Por falar em Maria Freitas, no final do ano passado, esteve em São Luís o jornalista José Louzeiro. Veio lançar o livro, intitulado “Lições de Amor”, com narrativas da vida e da obra da insigne professora. Com ajuda da sobrinha e filha adotiva, Marita Freitas, e depoimentos de pessoas que a conheceram de perto e privaram da intimidade da biografada, Louzeiro reconstituiu, de maneira brilhante e completa, os passos dados por Maria Freitas ao longo de sua produtiva e exemplar existência, dentro e fora do magistério.
Num dos capítulos do livro, o ilustre escritor e meu confrade na Academia Maranhense de Letras, ao reportar-se sobre a figura humana e política de José de Freitas, irmão da biografada, cita-me algumas vezes e acusa-me de incorrer em lamentável equívoco.
Segundo Louzeiro, sempre que eu, nos trabalhos jornalísticos publicados sobre o movimento comunista no Maranhão, nos anos de 1930, fiz questão de omitir a presença e ignorar a atuação de José Freitas, um dos mais combativos lutadores pela implantação do regime socialista, razão pela qual foi preso e perseguido.
Se José de Freitas, em São Luís, em 1935, por ocasião da intentonta comunista, lutou como um bravo e destemido revolucionário, quem sou eu para dizer o contrário. Mas asseguro: nas minhas pesquisas, jamais encontrei o seu nome arrolado ou envolvido naqueles históricos acontecimentos.
No que diz respeito à sua prisão e deportação, disse e confirmo, com a mais absoluta convicção: o irmão de Maria Freitas não fazia parte do rol dos considerados comunistas, presos na Penitenciária do Estado, e deportados para o Rio de Janeiro, a bordo do navio “Comandante Ripper”, no dia 8 de novembro de 1936, para serem julgados pelo Tribunal de Segurança Nacional. Os Freitas que figuravam naquela lista chamavam-se Byron, Mac-Lou, Odon e Iole.
Para comprovação disso, tenho sob meu poder a relação desses “oitenta extremistas”, publicada no Diário Oficial do Estado do Maranhão, bem como a cópia do ofício do chefe de Polícia, coronel José Faustino, ao ministro da Justiça, Vicente Rao, extraída do original, que se encontra conservada no Arquivo Público.

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