O LADO FOLCLÓRICO DE SARNEY

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Dos cinco livros em homenagem aos 90 anos de José Sarney, transcorridos no ano passado, não lançados e pouco divulgados por causa da pandemia do coronavírus, vanglorio-me de tê-los todos, oferecidos e autografados pelo notável o homem público brasileiro, que só é idoso do ponto de vista cronológico, pois quanto à lucidez política e da arte de bem escrever, continua como nos bons tempos.

Os que tiveram o privilégio de escrever textos sobre José Sarney, sob a ótica familiar, literária e política, foram felizes em suas abordagens e apreciações a respeito da mais ilustre e importante figura humana que o Maranhão deu ao Brasil no século XX.

Mas de tudo que li sobre José Sarney nos livros em sua homenagem, parece-me que um aspecto saliente da sua personalidade, não foi lembrado pelos que se debruçaram sobre a longa e rica vida privada e pública desse maranhense.

Trata-se do lado pitoresco da política e do aspecto humorístico dos políticos, que ele, com verve e versatilidade, deixou registrado em páginas jornalísticas e fazem parte do folclore político brasileiro, que o jornalista do quilate de Sebastião Nery, correu atrás, publicou em formato de livro e ganhou muito dinheiro.

O jornalista que vos escreve, em 1989, portanto, há 32 anos, por conta de um farto material folclórico produzido pelos nossos homens públicos, publiquei um livro intitulado “Politiqueiros, Politicalha, Politiquice, Politicagem e Política do Maranhão”, que alcançou estrondoso sucesso, motivo pelo qual preparo para reeditá-lo, ainda este ano, com mais matéria do ponto de vista folclórico e melhor apresentação.  

Políticos do quilate de José Sarney, Vitorino Freire, Líster Caldas, Baima Serra, Ivar Saldanha, Pedro Neiva de Santana, Epitácio Cafeteira, José Burnett e tantos outros, desfilam no livro como atores de uma fase em que o combate na vida pública era viril, mas não deixava de ser também protagonizado com boa dose de humor.

Em homenagem a José Sarney, pelos seus noventa e um anos que hoje completa, reproduzo neste pedaço de página, alguns atos e episódios que tiveram a sua participação e que o tempo se encarregou de propagar como coisas que o povo sabe por boca de um contar para o outro.

O ITAQUI E DUQUE DE CAXIAS

O ministro dos Transportes, Mário Andreazza, em São Luís participou de reunião técnica com o governador José Sarney, com vistas à construção do Porto do Itaqui.

Para acabar com a falácia de não haver estudos de viabilidade do porto, Sarney convenceu o Ministro dos Transportes com este argumento: – Ministro, desde os meados do século XIX, quando Duque de Caxias governou o Maranhão, por ocasião da Balaiada, legou aos maranhenses um estudo de viabilidade do Porto do Itaqui.

Sem pestanejar, Mário Andreazza autorizou a construção do porto no Maranhão com o seguinte despacho: – Quem sou eu para duvidar da palavra do governador Sarney e do estudo do Duque de Caxias.

RECLAMAÇÃO DE MAROCA

Respeitosamente, Sarney recebeu em audiência no Palácio dos Leões, Maroca, a mais famosa e importante dona de pensão da Zona do Meretrício de São Luís.

Maroca foi reclamar ao governador dos prejuízos que enfrentava por causa da criação do Maranhão Novo, após o que Colégio Rosa Castro passou a funcionar à noite e com o qual ela não tinha condições de concorrer.

CARTÕES VERMELHO E VERDE

Na eleição de 1978, Epitácio Cafeteira, candidato a deputado federal, apresentava nos comícios em São Luís, um cartão vermelho para o povo não votar nos candidatos apoiados por Sarney.

 No primeiro comício que participou em São Luís, Sarney contraditou Cafeteira com um cartão verde na mão e proclamou: – No Maranhão, não precisamos de cartão vermelho, que é do ódio e da mentira, mas de cartões verdes e brancos, que representam a esperança e a paz.

VELHICE PRECOCE

Quando Sarney completou 50 anos, em Pinheiro, sua cidade natal, a prefeitura organizou uma programação festiva para comemorar o evento.

O ponto alto da solenidade foi a inauguração de um busto do aniversariante, na principal praça da cidade.

Ao ver o busto, no qual parecia ser um longevo, comentou com a esposa Marly: – Daqui a cinquenta anos volto a Pinheiro para reinaugurar este busto no meu centenário de vida.

MORTO-VIVO

Na sua sucessão ao governo do Maranhão, o candidato escolhido por Sarney, o professor Pedro Neiva de Santana, ocupou o cargo de secretário da Fazenda.

Pela vida correta e ilibada, o professor não sofreu nenhuma restrição do regime militar. Para tranquilizá-lo quanto à eleição, Sarney deu este conselho ao professor: – Para ser governador, o senhor só precisa fingir que está morto.

MURO DAS LAMENTAÇÕES

Quando surgiram os primeiros desentendimentos entre o governador João Castelo e o seu assessor de Imprensa, Edson Vidigal, este, procurou o senador José Sarney para fazer as suas queixas.

Antes de Vidigal reclamar do tratamento do Chefe do Executivo do Estado, Sarney comentou: – Vidigal, pode falar à vontade, pois no governo do Castelo só desejo ser o muro das lamentações.

GUERRA AOS PINGUINS

José Sarney é conhecido nacionalmente como um supersticioso. No primeiro dia que pisou no Palácio dos Leões, chamou o coronel Eurípedes Bezerra, chefe da Casa Militar, e ordenou: – Coronel, convoque a guarda palaciana e expurgue todos os pinguins de porcelana aqui encontrados. 

RABO DE SAIA

Na tumultuada sucessão do governador Pedro Neiva, o senador Sarney conversava com o ex-deputado Líster Caldas, em Brasília, mas o papo não evoluía por causa da presença do padre Manoel Oliveira, à época, prefeito de São Domingos.

 Como a conversa era sigilosa, Sarney sabendo que o vigário era um fanático mulherengo, disse-lhe: – Padre, enquanto eu falo com Líster, veja se consegue alguma mulher dando sopa nos corredores do Congresso.

RATOS ESTRANGEIROS

Quando assumiu o governo do Estado, José Sarney passou uns tempos, com a família, residindo na casa do sogro, o médico Carlos Macieira, enquanto o Palácio dos Leões sofria uma reforma, que visava principalmente acabar com ratos (quadrúpedes) que habitavam o Palácio.

Eram tantos e de todos os tamanhos que o governador chegou a catalogá-los e identificá-los. Os maiores eram holandeses; os médios, portugueses e os menores, franceses.

EVACUAÇÃO NO MATO

Na campanha para governar o Maranhão, o candidato José Sarney viajava em companhia de Wilson Neiva, mas, em plena estrada sentiu vontade de defecar.

Para não sofrer vexame, invadiu mato e fez o serviço. Sem papel de qualquer natureza, limpou-se com as folhas do matagal.

Antes de prosseguir a viagem, comentou com Wilson Neiva: – Eu daria tudo para ver o Renato Archer vivendo a situação pela qual passei agora.         

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