A partir de 1992, a legislação eleitoral estabeleceu que nos municípios com mais 200 mil eleitores, no caso de nenhum candidato obter a maioria absoluta da votação no primeiro turno, ou seja, a metade mais um dos sufrágios, haverá um segundo turno, entre os dois mais votados.
De 1992 a 2020, São Luís é a única cidade maranhense em que se realizaram eleições em dois turnos. Dos oito pleitos processados, só dois candidatos conseguiram vencer no primeiro turno, por maioria absoluta de votos: Jackson Lago, em 2000, e Tadeu Palácio, em 2004.
Nas eleições, deste ano, mais uma vez, o pleito foi decidido no segundo turno, entre os dois candidatos mais votados no primeiro turno: Eduardo Braid e Duarte Júnior.
Convém lembrar que Braid, em 2016, disputou e perdeu o segundo turno para o atual prefeito Edvaldo Holanda Júnior.
O GRUPO DO GOVERNADOR
Para enfrentar o deputado Eduardo Braid, que não reza na sua cartilha, o governador Flávio Dino pensava que poderia vencê-lo, no primeiro turno, por um dos quatro candidatos de sua base política: Rubem Júnior, Duarte Júnior, Neto Evangelista e Bira do Pindaré, deputados e ocupantes de cargos no primeiro escalão do atual governo.
O que melhor desempenho apresentou no primeiro turno, Duarte Júnior, não era o preferido do governador para enfrentar Braid no segundo turno. As fichas de Flávio no primeiro turno foram todas jogadas em Rubem Júnior, que, dos quatro, obteve a pior performance.
DUARTE SURPREENDE
Com uma atuação notável no primeiro turno, graças ao seu espírito de luta e de sua indomável coragem, que muitas vezes, ultrapassa os limites da tolerância política, Duarte obrigou Flávio Dino a arregaçar as mangas e assumi-lo como o seu candidato, para enfrentar e vencer Braid, façanha não materializada, pois não contou, como esperava, com os candidatos derrotados do seu grupo, que se omitiram ou fizeram corpo mole, por causa da antipatia devotada a Duarte.
O DESEMPENHO DE NETO EVANGELISTA
O único membro do governo de Flávio Dino, que teve atuação destacada e desassombrada no segundo turno da eleição, o deputado Neto Evangelista, que, como um leão, entregou-se de corpo e alma à campanha de Eduardo Braid, ao qual deve ter transferido boa parte da votação conquistada no primeiro turno.
Neto Evangelista foi peça fundamental na vitória de Braid, no segundo turno. Com a sua garra e simpatia, participou decididamente das caminhadas, carreatas e comícios, como se fosse o próprio candidato.
Se há alguém que Braid deve e muito pela retumbante vitória nas eleições de 2020, esse cara é Neto Evangelista e que tem tudo para se impor como uma nova liderança dessa nova geração política.
ACERTOS E ERROS DE DUARTE
Duarte Junior teve audácia e competência para se fazer candidato à prefeitura de São Luís, ultrapassando obstáculos e hostilidades do grupo político a que pertence, que não o vê com bons olhos.
Essa aversão a Duarte, se evidencia no plenário da Assembleia Legislativa, onde a sua figura humana e política, é repudiada pelos deputados estaduais, que o criticam em função de sua arrebatada personalidade e do seu impulsivo comportamento, aliás, expostas de maneira visível nos programas e entrevistas pelos meios de comunicação social, nos quais procurava descontruir de modo agressivo os adversários e seus familiares, fato que não o beneficiou eleitoralmente, ao contrário, contribuiu para desgastá-lo.
A AUSÊNCIA DE EDIVALDO DA SUCESSÃO
Quando da realização do primeiro turno das eleições municipais de São Luís, foi fartamente divulgado que o prefeito Edivaldo Holanda Junior se omitiria do processo eleitoral, resguardando-se para participar do segundo turno.
Os que imaginavam que o alcaide optasse por um dos candidatos no segundo turno, equivocaram-se redondamente, pois, Edivaldo sumiu por completo da campanha, mostrando o seu desinteresse pelo resultado do pleito e quem o sucederia no Palácio La Ravardiére, com a responsabilidade de dar continuidade ao bom trabalho que realiza na cidade, principalmente na segunda gestão.
Quem priva da amizade do prefeito, sabe que ele se omitiu da campanha para não entrar em choque com o governador Flávio Dino, que apoiava Duarte Júnior, candidato pelo qual não dispensa nenhuma simpatia.
A torcida do atual prefeito era por Eduardo Braid, no qual votou silenciosa e tranquilamente.
UMA CAMPANHA DE PROMESSAS
Eu sou, com muita honra, eleitor da terra onde nasci e pela qual tenho mórbida paixão: Itapecuru. Mas como vivo e moro em São Luís, acompanho com desusado interesse as eleições aqui transcorridas.
Quero com isso dizer que, das eleições municipais travadas em São Luís, de 1992 a 2020, nunca vi e ouvi tantas promessas mirabolantes, demagógicas e irresponsáveis dos candidatos à sucessão de Edivaldo Holanda.
Neste ano, os candidatos, sem exceção, no primeiro e no segundo turno, sem dó e piedade do eleitor, nos debates e entrevistas pelas emissoras de rádio e televisão, prometeram realizar coisas impossíveis, como se o Brasil não estivesse atravessando uma crise sem precedentes, provocada por uma pandemia, que afetou de modo brutal o sistema produtivo e terá uma brutal repercussão, nos próximos anos, nas transferências federais aos estados e municípios.
Outro problema, que observei com a devida atenção: nenhum candidato teve a preocupação de dar uma olhada no orçamento da prefeitura de São Luís, para saber através daquela carta de intenção, a disponibilidade de recursos para aplicar em diferentes setores da municipalidade.
Para os candidatos, não vale ver orçamento na campanha. Essa tarefa é para depois da posse e quando, no exercício do cargo, se defrontarem com uma realidade inimaginável.
Aí vem a frustração e o desespero, face à carência de recursos, pois os cofres da prefeitura não dispõem de lastro financeiro suficiente para o cumprimento das promessas descabidas e levianas.
MORTOS E VIVOS
Terminadas as eleições, que o candidato eleito se lembre daquela máxima do Marquês de Pombal, quando do terremoto que arrasou Lisboa em 1755: – Que se enterrem os mortos e cuidemos dos vivos.