Quando o Dr. Alfredo Duailibe deixou a política e a medicina, atividades nas quais se projetou no Maranhão como uma das mais importantes figuras humanas e profissionais, eu, conquanto não fosse de sua geração, sempre o visitava, a princípio na sua confortável casa, no Calhau, que trocou depois por um apartamento bem amplo, no bairro Renascença, onde, morava em companhia da idolatrada esposa, Maria, e da filha Teresa.
Nessas costumeiras visitas, geralmente vespertinas, conversávamos sobre assuntos diversos, mais do passado do que do presente, sobretudo do tempo em que militou na vida pública, quando nela ingressou a convite do interventor federal Saturnino Bello, para dirigir o Departamento de Instrução Pública, em 1946, na transição da ditadura para a democracia, época em que conheceu Vitorino Freire, com o qual forjou uma longa e fraterna amizade.
Ao longo de nossas conversas, Dr. Alfredo, dotado de memória privilegiada, não fazia reservas ou deixava de contar, com riqueza de detalhes, tudo que eu perguntava sobre pessoas, atos e fatos de uma das fases mais polêmicas e importantes da política maranhense, relatos que tenho gravado e de onde selecionei algumas pérolas políticas, para conhecimento das novas gerações, que ignoram por completo as figuras humanas que pontificavam no cenário político maranhense, no qual Alfredo Duailibe, brilhou pela competência, honradez e integridade, como deputado federal, secretário de Estado, suplente de senador, senador, vice-governador e chefe do Executivo.
Ele nasceu em São Luís a 19 de outubro de 1914, filho de Linda Sady e Salim Nicolau Duailibe, ambos libaneses. Formado pela Faculdade Nacional de Medicina, do Rio de Janeiro. Faleceu a 24 de abril de 2010, com a idade de 95 anos.
AS PÉROLAS POLÍTICAS
– O governador Sebastião Archer da Silva, ao contrário do que aparentava, era um político sabido, astucioso, esperto e primava pelo cavalheirismo e refinada educação.
– Vitorino Freire jamais interferiu em qualquer administração estadual ou procurou tutelar qualquer governador do Maranhão.
– A competência política de Vitorino podia ser medida pelo tipo de oposição que enfrentava no Maranhão, gente de luta e de capacidade, a exemplo de Clodomir Cardoso, Lino Machado, Genésio Rego, Clodomir Millet, Neiva Moreira, Fernando Viana e Henrique de La Rocque.
– Quem começou a quebrar o comando político de Vitorino no Maranhão não foi Newton Bello, mas Renato Archer, pelo enorme prestígio que desfrutava no governo do presidente Juscelino Kubitscheck.
– Dos governadores eleitos por Vitorino, Newton Bello foi o que menos se enquadrou ao vitorinismo.
– Eugênio Barros era muito amigo de Vitorino, mas não tolerava o seu secretário de Interior, Justiça e Segurança, Benu Lago.
– Foi com a Revolução de 1964, que adotava o figurino político da UDN, que Vitorino começou a perder o prestígio político que tinha no plano federal.
– Vitorino só fez bem aos militares, mas a Revolução foi ingrata com ele.
– Vitorino tinha uma qualidade nobre: sabia respeitar as amizades dos amigos com seus adversários políticos. Ele jamais questionou o meu bom relacionamento com Sarney.
– Eu aconselhei Sarney a não renunciar ao mandato de governador, quando foi pressionado pelos militares, em 1968, baseado no fato de ser eleito pelo povo e não pela Revolução.
– Fraude eleitoral no Maranhão sempre houve. Quando o PSD fazia era de acordo com os oposicionistas.
– Os três melhores governadores que o Maranhão teve em todos os tempos: Paulo Ramos, Newton Bello e José Sarney.
– Chico Abreu, próspero comerciante de Ipixuna, atual, São Luís Gonzaga, não era profeta, mas costumava dizer ao meu pai, Salim Duailibe: – O seu filho, Alfredo, quando crescer vai ser médico e governador do Estado.
– No final do governo Newton Bello, ele mandou sondar-me para assumir o cargo de governador e assinar o ato de sua aposentaria de consultor jurídico. Diplomaticamente, não concordei com a proposta, mas aceitei ausentar-me do Estado, para que o seu substituto legal, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Aldenir Silva, satisfizesse os interesses pessoais do governador.
– O que eu consegui ao longo da minha vida, devo à medicina e ao magistério de nível superior. Da política, não ganhei materialmente nada. Dela só conquistei amizades.