A TELEVISÃO NO MARANHÃO
O Brasil comemora 70 anos da inauguração da primeira estação de televisão, a TV Tupi, em setembro de 1950, em São Paulo, solenidade que se repetiu na Cidade Maravilhosa, em janeiro de 1951, eventos presididos pelo poderoso dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, proprietário de quase todas as emissoras de rádio e jornais do País.
Eu tive o privilégio de ver a chegada da televisão em São Luís em dois marcantes momentos.
PRIMEIRO MOMENTO
Eu era estudante do Liceu Maranhense quando em fevereiro de 1955, por motivos políticos, o povo de São Luís teve a invejável oportunidade de conhecer uma novidade eletrônica, que o saudoso jornalista carioca, Stanislau Ponte Preta, chamava de “máquina de fazer doido”.
A população maranhense, em matéria de veículos comunicação social, desfrutava de três emissoras de rádio, cinco jornais e dezenas de serviços de alto falantes, de repente se dá conta de ser a terceira cidade do Brasil a ter diante dos olhos e ouvidos, imagens transmitidas pela televisão.
ELEIÇÃO DE CHATEAUBRIAND
Quem empreendeu tão arrojada iniciativa foi o jornalista Assis Chateaubriand, não por motivos financeiros ou culturais, mas por razões políticas, pois perdera a eleição de senador na Paraíba, sua terra natal.
Como Chatô era homem poderoso, o PSD precisava de sua cadeia de rádio, jornal e televisão, para apoiar a candidatura de JK à Presidência da República em 1955. Resultado: sob as bençãos do senador Vitorino Freire e do governador Eugênio Barros, o PSD maranhense assumiu o compromisso de realizar uma eleição fora de época.
Para isso, contaram como a colaboração do senador Antônio Bayma e do suplente Newton Bello, que renunciaram aos mandatos, bem como do TRE, que marcou para 5 de março de 1955, a nova eleição, na qual Assis Chateaubriand derrotou o candidato das Oposições, coronel da Aeronáutica, Armando Serra de Menezes.
A TV NA PROPAGANDA
Como não havia tempo para a realização de comícios e propaganda do candidato do PSD ao Senado, que estava sendo bombardeado pelos oposicionistas, que o denunciavam como barganha política, a direção dos Diários Associados trouxe para São Luís, técnicos e equipamentos da TV Tupi, e usaram os estúdios da Rádio Timbira, que funcionava no começo da Rua Osvaldo Cruz, de onde geravam imagens para os aparelhos de televisão, espalhados na Praça João Lisboa, para uma multidão que às noites comparecia para ouvir notícias, vocalizadas pelo famoso locutor Carlos Frias, bem como ver shows de artistas nacionais do rádio, cinema e teatro do nível de Adelaide Chiozzo, Trio Irakitan, Francisco Carlos, Emilinha Borba, Ivon Cury e de cantores da terra, a exemplo da Dupla Ponto e Vírgula, Orlandira Matos, Lourdinha Costa, Maria Emília, Hamilton Raiol e Joran Coelho.
SEGUNDO MOMENTO
O segundo momento da presença da televisão em São Luís, verificou-se quando eu cursava Direito, na antiga Faculdade da Rua do Sol.
Desta vez, a tevê veio para ficar, época em que a sociedade maranhense exigia inovações tecnológicas, na área da comunicação social, onde a televisão era a principal atração.
A inauguração da pioneira estação de TV em São Luís, surge oito anos depois do arremedo de televisão, que Chateaubriand instalou com finalidade eleitoral. Às 21 horas de 9 de novembro de 1963, o representante do Presidente da República, ministro da Justiça, Abelardo Jurema, o governador Newton Bello e o deputado Raimundo Bacelar apertaram um dispositivo eletrônico, fazendo com que as imagens da TV- Difusora, canal 4, fossem para o ar.
ENLATADOS E DE CHANCHADAS LOCAIS
Os irmãos Raimundo e Magno Bacelar, que não eram neófitos na área da comunicação social, pois fundaram o Jornal do Dia e a Rádio Difusora, adquiriram os equipamentos de televisão nos Estados Unidos e os instalaram nos últimos pavimentos do Edifício João Goulart, na Avenida Pedro II
Mesmo funcionando em espaços não adequados, a TV Difusora veiculava uma programação à base de enlatados, com filmes geralmente americanos e seriados, intercalados com programas de artistas locais, que, sob à direção do saudoso Reynaldo Faray, apresentava shows, entrevistas e até novelas, que não passavam de chanchadas tupiniquins.
Quem pagou um preço alto por acreditar que a TV Difusora viera para ficar, foi um pequeno número de gente, que, por isso, via a casa ser invadida por vizinhos curiosos e visitas incômodas. Alguns, para se livrarem dessas inoportunas figuras, fechavam antes do anoitecer as portas das moradias. Outros, porém, mais sabidos, cobravam dos visitantes e curiosos, um pequeno valor monetário, para ajudar no custo da eletricidade.
A CHEGADA DO VÍDEO-TAPE
Três anos depois da inauguração da TV Difusora, quando havia aumentado consideravelmente a quantidade de aparelhos de tevê e de telespectadores, os irmãos Bacelar, aprontaram outra surpresa aos maranhenses: em junho de 1966, implantaram o sistema de vídeo-tape, que fez a programação da emissora dar uma guinada de 180 graus.
Pelo vídeo-tape, os programas veiculados pelas emissoras do Rio e São Paulo, como noticiários, novelas, shows com cantores nacionais e estrangeiros, apresentações de peças teatrais, com atores e atrizes famosos e partidas de futebol, com os grandes craques, passaram a ser vistos, não simultaneamente com os sulistas, mas dias depois.
A REPERCUSSÃO DAS NOVELAS
A primeira novela transmitida pela TV Difusora foi produzida pela Record, chamada de Redenção, que fez enorme sucesso em São Luís, a ponto de dar nome a um bairro novo, nas proximidades do Filipinho. A realidade dos moradores assemelhava-se à ficção novelesca.
Por causa dessa novela, um garoto que morava no Apeadouro, ao ver uma cena violenta, teve um choque emocional e perdeu a fala por várias horas.
Nessa mesma novela, uma das atrizes interpretava uma mulher fofoqueira denominada de Maroca, que acabou virando em São Luís o verbo marocar.