Transporto-me para o limiar dos anos 1960 e lembro da Assembleia Legislativa do Maranhão, para onde Sálvio Dino, pelo PDC, e eu, pelo PSP, nos elegemos deputados estaduais, e integrados à bancada das Oposições Coligadas.
Aportávamos no Poder Legislativo no fulgor da mocidade. Eu, ainda estudante da Faculdade de Direito de São Luís, ele, já bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, portanto, militando na advocacia, depois de brilhar na política estudantil, atuando no Grêmio Cultural do Colégio de São Luís, no Centro Acadêmico e no Parlamento-Escola da Faculdade de Direito, onde fundou o jornal Voz Universitária.
VEREADOR Á CÂMARA MUNICIPAL
Essas participações na vida universitária, o credenciaram a concorrer à Câmara Municipal de São Luís, nas eleições de 1954, elegendo-se vereador e teve desempenho invulgar, sendo considerado pela imprensa, pelos projetos apresentados e propostas defendidas, o melhor edil da legislatura.
De sua autoria, entre os mais destacados, o projeto de criação do ginásio municipal, o que obrigava aulas inaugurais na rede pública municipal, a elaboração de um Plano Urbanístico de São Luís, a concessão de 50 por cento de desconto para os estudantes nos transportes coletivos, a criação da Secretaria da Agricultura do Município e a nomenclatura das ruas da capital maranhense.
Paralelamente, atuava nas redações dos jornais e revistas da cidade, a exemplo de Afluente, O Indicador Maranhense e O Panorama, em que publicava matérias literárias em prosa e verso.
ADVOCACIA E POLÍTICA
Após cumprir o mandato na Câmara Municipal, Sálvio decide se dedicar inteiramente à profissão de advogado, no exercício da qual publica o seu primeiro livro: “Um moço na tribuna”.
Em plena ação profissional, é designado pelas Oposições Coligadas, para acompanhar as eleições de 1960, na região tocantina, para impedir os governistas de praticarem uma grosseira fraude eleitoral, contra o candidato Clodomir Millet.
Pela brava luta contra a distorção da vontade eleitoral, Sálvio ganha notoriedade, admiração e prestígio, que o fizeram continuar atuando profissionalmente em Imperatriz e cidades que ficavam em seu entorno, oportunidade em que viu em toda a plenitude a deflagração da coação policialesca, a cobrança arbitrária de impostos, a submissão dos mais pobres aos poderosos e a exploração do homem rural pelos latifundiários.
Com o sentimento de defender os humildes da região tocantina, que começava a crescer a olhos vistos e a despontar pelas oportunidades que oferecia ao empresariado, se candidata a deputado estadual, nas eleições de 1962. Malgrado as dificuldades financeiras e as intimidações políticas, elege-se com expressiva votação à Assembleia Legislativa do Estado.
MANDATO DE DEPUTADO ESTADUAL
Em janeiro de 1963, assume o mandato parlamentar e no plenário do Poder Legislativo, consolidamos a nossa amizade e passamos a atuar juntos e coesos, no que contamos com o companheiro de luta, o deputado, Ricardo Bogéa, e formamos um grupo que se impôs no desempenho do mandato de forma ética e com um discurso político, sintonizado com as mudanças estruturais, as reformas de base e os problemas sociais, reclamadas pelo País que o Presidente da República, João Goulart, procurava implementar.
Pelas nossas vozes, os protestos contra as iniquidades sociais e o atraso econômico vigentes no Maranhão, passaram a ser levantados e discutidos no plenário, onde se exigia dos governantes atitudes administrativas para a mudança dessa triste realidade, o que irritava a bancada majoritária e os detentores do poder, que nos intimidavam e nos rotulavam de extremistas, agitadores e esquerdistas.
O EXPURGO DA VIDA PÚBLICA
A oportunidade para sermos expurgados da vida pública chega com a deflagração do movimento militar em abril de 1964, por meio de um plano maquiavélico, articulado no Palácio dos Leões, contra os deputados que defendiam as causas populares.
Sem perda de tempo, veio do IV Exército, um cabograma mandando a Assembleia Legislativa “cassar os mandatos de Sálvio Dino e de Benedito Buzar, e, se fosse o caso, de Ricardo Bogéa.”
Ao arrepio da Constituição e por um ato ilegal e arbitrário, no dia 25 de abril de 1964, perdemos o nosso mandato, conquistado democraticamente nas eleições de 1961.
DEZ ANOS DEPOIS
Inconformado com a brutal expulsão da vida pública, Sálvio, em 1974, com o regime militar ainda em efervescência, decide se candidatar a deputado estadual, pretensão barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral, mas derrubada em Brasília, pelo TSE.
Com a candidatura registrada, elege-se, depois de dez anos, à Assembleia Legislativa, com a maioria da votação conquistada na região tocantina. Nesse mandato, deu prioridade aos problemas do meio ambiente e da solução do polêmico caso dos limites territoriais entre o Pará e o Maranhão.
Após a legislatura de 1975-1979, graças ao seu extraordinário desempenho no plenário e nas comissões técnicas, retorna ao exercício do mandato nas legislaturas de 1979-1983 e de 1983-1987.
DO LEGISLATIVO PARA O EXECUTIVO
Quem pensava que Sálvio Dino, após cumprir três mandatos legislativos, abandonasse definitivamente a cena política, equivocou-se completamente. Como se ressurgisse das cinzas, retorna aos rincões tocantinos, para onde transfere o domicílio eleitoral, condição que o habilita a concorrer a cargos executivos, mirando a prefeitura do recém-criado município de João Lisboa, onde ganha duas eleições majoritárias: 1987 e 1996.
A VERTENTE LITERÁRIA
Sem querer imitar José Sarney, que faz política, mas sem deixar a literatura de lado, assim foi Sálvio Dino, que mesmo antes de ingressar na atividade pública, já se dedicava a escrever poemas, crônicas, contos e romances, obras essas que pela sua dimensão cultural, fizeram com que se candidatasse à Academia Maranhense de Letras e conquistasse, por meio de eleição, realizada em 16 de julho de 1998, a Cadeira 32, patroneada por Vespasiano Ramos, fundada por Mariana Luz e teve como ocupantes, Felix Ayres e Raimundo Carvalho Guimarães. Quem o recepcionou na sua posse, em 16 de julho de 1999, foi este escriba, seu compadre e padrinho de seu terceiro filho, o governador Flávio Dino, produto da parceria com a primeira esposa, Maria Rita.
De sua imensa e proveitosa bagagem cultural, legou à posteridade as seguintes obras: Nas barrancas do Tocantins; Onde é Pará Onde é Maranhão; Semeando manhãs; Grandeza da terra na glória do seu povo; A trilogia da emoção; A devastação do meio ambiente importa na destruição da raça humana; Raízes históricas de Grajaú; A conciliação entre o meio ambiente e o desenvolvimento econômico; A dinâmica ocupacional dos espaços físicos do Maranhão; A Nova República; Perfil de Amaral Raposo; Luzia quase uma lenda de amor; Um palácio de histórias, lendas, mitos e chefões; Clarindo Santiago, o poeta maranhense desaparecido no Rio Tocantins; A Faculdade de Direito do Maranhão; e A Coluna Prestes no Maranhão.