GRIPE ESPANHOLA MATA GOVERNADOR MARANHENSE
No começo deste mês, o jornalista e confrade Antônio Carlos Lima, publica matéria em O Estado do Maranhão, focalizando o falecimento de um dos homens públicos mais importantes de nossa terra, Urbano Santos, que não resistiu ao vírus da gripe espanhola e contraiu uma infecção pulmonar, quando viajava de São Luís para o Rio de Janeiro, a bordo do vapor “Minas Gerais”, no dia 7 de maio de 1922, para tomar posse, pela segunda vez, na função de vice-presidente da República.
Urbano Santos não foi o único governante maranhense, que falece em decorrência da devastadora gripe que invadiu e se alastrou em São Luís, no século passado, ceifando a vida de muitos conterrâneos.
Quatro anos antes da morte do vice-presidente, a 9 de outubro de 1918, quando o vírus da moléstia atingia o pico em nossa cidade, o político José Joaquim Marques, eleito 1º vice-governador do Estado, que se encontrava no exercício do cargo de governador, morre em sua residência, na Rua de Santana.
QUEM ERA JOSÉ JOAQUIM MARQUES
Nascido em Penalva e sobrinho do grande intelectual, Celso Magalhães, inicia os estudos no Seminário das Mercês, pois pensava dedicar-se à atividade religiosa. Anos depois, troca o Seminário pela Escola de Agronomia de Minas Gerais, pela qual gradua-se, após o que parte para a Europa, onde faz cursos de especialização. De volta ao Brasil, ingressa no magistério, tornando-se professor e diretor das Escolas de Agronomia da Bahia e de Uberaba.
No seu retorno ao Maranhão, exerce o cargo de diretor da Estação Experimental de Coroatá, de onde, pelas mãos de Benedito Leite, torna-se político e elege-se deputado estadual na legislatura de 1916 a 1918. Pela brilhante atuação parlamentar, preside a Assembleia Legislativa do Maranhão em 1917, legislatura em que pontificavam figuras de realce como Henrique Costa Fernandes, Georgino Gonçalves, Inácio Parga, Libânio Lobo, Tarquínio Lopes Filho, Tucídides Barbosa, Afonso Giffening Matos e Luís Carvalho.
VICE- GOVERNADOR E GOVERNADOR
Para cumprir o mandato de governador do Maranhão, no quadriênio 1918 – 1922, elege-se, pela terceira vez, Urbano Santos de Araújo Costa. Pela legislação da época, o governador poderia ter como companheiros de chapa três candidatos, razão porque os políticos José Joaquim Marques, Raul Machado e Lisboa Filho se elegeram 1º, 2º e 3º vice-governadores.
Também, pela permissividade da legislação, pela segunda vez, Urbano Santos se elegia vice-presidente da República, desta feita, na chapa encabeçada pelo mineiro Artur Bernardes.
Convocado para tomar posse como vice-presidente da República, Urbano Santos não assume o cargo de governador do Estado do Maranhão, ato que enseja a ascendência do 1º vice, José Joaquim Marques, à chefia do Poder Executivo, a 1º de março de 1918, cargo que recebe das mãos de Brício de Araújo.
Marques, portanto, na condição de 1º vice-governador, ocupa o Palácio dos Leões até o dia 9 de outubro de 1918, quando a gripe espanhola atacava indiscriminadamente a população da capital maranhense.
VERSÃO FALSA DA MORTE
O governador em exercício, contava 49 anos e morreu, segundo informações nada oficiais, “pelo peso das contrariedades e pela baixa politicagem vigente no Maranhão”, divulgação essa contraditada pela imprensa, que a achava falsa, descabida e fruto da invencionice política, com o objetivo de embair a sociedade, que tinha absoluta certeza de que a morte de José Joaquim Marques resultara, como centenas de outros maranhenses, da terrível moléstia que contaminava estupidamente a cidade de São Luís.
A GRIPE ESPAHOLA NO BRASIL
A epidemia começou em agosto de 1917 nas casernas e rapidamente ganhou as ruas.
Com medo de ser contaminada, a população brasileira evitou sair de casa, mas de pouco adiantava se esconder, porque a doença alcançava suas vítimas em qualquer lugar e os hospitais sem leitos disponíveis para atender os doentes, que acabavam morrendo em casa ou nas ruas, onde, muitas vezes, ficavam insepultos.
Só no Rio de Janeiro, o vírus matou em poucos meses, cerca de 15 mil pessoas.
A GRIPE ESPANHOLA NO MARANHÃO
De acordo com o jornal Pacotilha, no ano de 1918, a gripe espanhola atacou a população de São Luís sem dó e piedade, doença que já vinha ceifando a vida dos maranhenses desde 1917.
A moléstia chegou na capital maranhense a bordo dos vapores que atracavam em nosso porto, que transportavam gente e cargas, mas só desembarcavam depois que os agentes sanitários inspecionavam as embarcações, os passageiros e as bagagens.
Mesmo assim, a doença não estancava e provocava numerosas mortes na cidade, cujos doentes eram encaminhados a um hospital de isolamento, instalado no bairro do Lira, onde os médicos Almeida Nunes, Carlos Nunes e Hamleto Godois se desdobravam para atendê-los e curá-los à base de remédios que visavam combater a profilaxia da gripe, para isso praticavam a antissepsia da cavidade bucal e das fossas nasais.