RESPOSTA AO BUZAR

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Na edição de O Estado do Maranhão, de 14 de março passado, tomei a iniciativa de mudar a rotina semanal da minha coluna Roda Viva. Em vez do trivial variado, excepcionalmente, optei por algo que gostava de fazer nos meus primeiros tempos de jornalismo: entrevistar gente.

Com esse desiderato, procurei o deputado José Reinaldo Tavares e o sondei sobre a viabilidade de responder a um questionário de dez perguntas sobre o momento político maranhense e sua posição de candidato ao Senado da República, que se encontrava travada, diante da manifesta resistência do governador Flávio Dino.

A entrevista foi uma bomba e obteve extraordinária repercussão no meio político, sobretudo porque clareava de uma vez por todas o rompimento definitivo entre o governador e o deputado.

Em decorrência do sucesso da entrevista, cheguei à conclusão de que poderia, de vez em quando, mergulhar no fascinante mundo da entrevista, sempre que houvesse oportunidade para esse cometimento e encontrasse gente com algo a dizer sobre algum fato ou problema de interesse da sociedade maranhense.

Essa oportunidade de ouro veio novamente à tona face à presença do ex-presidente da República, José Sarney, em São Luís, ele que, há bom tempo, não concede entrevista à imprensa maranhense, inobstante sua presença semanal, neste jornal, quando emite seus pensamentos e opiniões, sobre assuntos diversos.

Submeti a proposta a Sarney e, como bom democrata, deu-me sinal verde para preparar as perguntas, sem fazer exigência de qualquer natureza quanto ao questionário.

 

1 – Como se sente (politicamente e pessoalmente) após a troca do domicílio eleitoral do Amapá por São Luís

JS – Estou fora da vida partidária. Não tenho mais idade para participar de eleições.   A minha vida, sempre afirmei, tem duas vertentes: a da política e da literatura. A vida inteira dediquei-me a elas. Fui para o Amapá porque o MDB do Maranhão não me deu legenda para concorrer à eleição de senador de 1990. Sou eternamente grato ao Amapá. Acolheu-me e me elegeu senador por três mandatos. Hoje sou um simples eleitor. O comando, aqui, está em mãos de Roseana. Isso não me impede de continuar escrevendo nem de acompanhar e estudar tudo que se escreve sobre política. Afinal, tenho obrigações com o Brasil e seu povo que me escolheu presidente da República e me deu os maiores cargos políticos do país. Sou, hoje, o político mais longevo da história republicana e o decano da Academia Brasileira de Letras.

 

  • O fato de ter o seu domicílio eleitoral no Amapá o incomodava quando explorado politicamente pelos adversários do Maranhão

JS – Não. Incomodava mais no Amapá quando me acusavam de ser um estranho. Recordava então que o Amapá já pertencera -como o Maranhão- ao grande Estado do Maranhão e Grão Pará.

  • Houve algum fato ou ato que o levou a abandonar a atividade política e partidária

JS – Sim. A idade.

  • Mesmo sem mandato político, o Maranhão continua sendo sua vida, sua paixão.

JS – Nunca deixará de ser. Aqui enterrei meu umbigo e pretendo descansar para eternidade.

  • Na sua avaliação, nestes últimos anos, o Maranhão avançou ou regrediu no tocante ao processo de desenvolvimento social e econômico.

JS – Mede-se a grandeza de um país, estado ou região pelo PIB, que é a soma de todos os bens ali produzidos. O Maranhão é o 16º estado do Brasil, à frente de Mato Grosso do Sul, que se encontra na região rica do Brasil. Criou-se o fakenews (mentira) do IDH para dizer que o do Maranhão é inferior a de outros estados. Isso é um engodo e uma mistificação. Volto a repetir: quem confere o progresso de uma região é o PIB, basta ver que em matéria de IDH, o Brasil é o 81º lugar do mundo. Eu, como Presidente, deixei o País em 7º lugar. Essa campanha de IDH foi construída com objetivos eleitorais. Quem paga por isso é o povo do Maranhão, que fica à mercê de propaganda enganosa.

  • No seu juízo de valor, o governo atual traz a marca do passado ou do futuro.

JS – Claro que do passadíssimo. O comunismo é uma ideia velha do século 19 e já morreu. O mundo evoluiu e hoje estamos numa sociedade de comunicação, a dos direitos sociais e coletivos. Quem tem a cabeça, como a minha, pensa em avanços científicos, em novas tecnologias do mundo pós- moderno, visando melhorar avida do povo e alcançar um mundo onde imperem a igualdade e a justiça social. Como dizia Rui Barbosa, sou e estou entre os velhos que são jovens, vendo os que me acusam como velhíssimos.  Já escrevi 142 livros, agora mesmo saiu o último (Galope à Beira-Mar), de estórias e de história. Considero-me um humanista de vanguarda, haja vista as ideias novas que lancei no Brasil, como a Lei de Incentivo à Cultura, que se tornou conhecida por Lei Sarney, que o Collor trocou de nome para Lei Rouanet, bem como a que estabelece cotas para as minorias raciais (negros e índios), e a que proporcionou incentivos aos cientistas brasileiros. O lema “desenvolvimento com justiça social” foi  incluído por mim no movimento de renovação da UDN, chamado “Bossa Nova”. No Maranhão, quando governei o Estado, priorizei o ingresso de novas tecnologias a serviço da educação, através da TV-Educativa e da criação das Faculdades de Administração, Engenharia e Agronomia, núcleo que gerou a Universidade Estadual do Maranhã0, sem esquecer os mecanismos modernos para dar mais agilidade à máquina administrativa e implantar o planejamento, a exemplo da experiência pioneira no Brasil, com respeito à metodologia da computação e do processamento de dados. Se no exercício da atividade política, eu sempre estive voltado para o futuro, com relação aos meus adversários, não posso dizer o mesmo, pois continuam no mundo de um passado tenebroso, marcado por insultos e calúnias.

  • Como será sua participação na campanha de Roseana Sarney nas eleições deste ano para governador.

JS – De pai. Lutando e desejando sua vitória para sairmos do comunismo praticado na Albânia.

  • Com a sua comprovada experiência política, acha que as eleições de governador do Maranhão serão definidas no primeiro ou no segundo turno.

JS – Teremos segundo turno. Trata-se de uma questão aritmética e não de política. No segundo, o governador perde. Ele tem governado sem oposição. A única que existe é ele mesmo, governando desgovernando, andando para trás. Saímos do crescimento para o atraso.

  • Caso haja segundo turno, acha possível a união dos candidatos Roseana, Eduardo Braid e Roberto Rocha em torno de uma luta contra o governador.

JS – Sim. Todos têm um inimigo comum: o governador e o forte ideal de lutar contra o medo, a vingança e a cultura do atraso.

  • Sem os recursos privados nas eleições, como os candidatos que não dispõem da máquina administrativa, vão se comportar.

JS – Como dizia o Brizola, “para combater epidemia e disputar eleição, sempre aparece recurso”. Agora, com o financiamento público, a Justiça Eleitoral deve fiscalizar o desvio de dinheiro público a serviço da politicagem. Nunca no Maranhão se viu o que está se vendo. São escabrosas as histórias que se ouve. No devido tempo isso vai aparecer. Já existe acompanhamento.

 

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