1938: 0 ANO DO MEU NASCIMENTO E DA II GUERRA MUNDIAL
Os renomados escritores, Zuenir Ventura e Joaquim Ferreira dos Santos, escreveram livros antológicos, que fizeram enorme sucesso. O de Zuenir, intitulado “1968 o ano que não terminou”, é um retrato fiel dos acontecimentos que fizeram de 1968 um divisor de águas na história brasileira; o de Joaquim, denominado “1958 o ano que não devia terminar”, reporta-se ao tempo do Brasil governado pelo presidente Juscelino Kubitscheck, em que o povo era feliz e não sabia.
Se eu tivesse o talento de Zuenir Ventura e de Joaquim Ferreira dos Santos, quem sabe, poderia escrever um livro com este título: “1938, o ano do meu nascimento e da II Guerra Mundial” para retratar a alegria de meus familiares e conterrâneos pela minha chegada a Itapecuru, bem como a tensão, a angústia e a perplexidade causada por um conflito bélico, que ceifou a vida de muita gente.
Como não tenho a pretensão de escrever nenhum livro, com este objetivo, mergulhei no tempo e no espaço, para, à guisa de informação, oferecer ao leitor, ainda que, sumariamente, um retrato do cenário político que urbi et orbi apresentavam naquele momento histórico.
O MUNDO
Em 1938, a humanidade vivia sob o temor de uma inexorável realidade: a deflagração da II Guerra Mundial, em que as forças do nazismo e do fascismo tentavam destruir as nações que defendiam os princípios democráticos.
Nesse contexto, de um lado, a Alemanha, a Itália e o Japão, sob a liderança de Adolfo Hitler e de Benito Mussolini, que não mediam esforços para subjugar a humanidade e imporem uma ideologia totalitária para sufocar a liberdade e o direito de ir e vir. De outro lado, os países que formavam o campo democrático, Estados Unidos, Inglaterra e Rússia, que tinham como figuras de proa, Franklin Roosevelt, Winston Churchil e Joseph Stálin.
O BRASIL
Se esse o quadro que dominava o mundo, não menos diferente o vigente no Brasil, que, por reflexo daquela calamidade, fez o nosso país ingressar numa feroz ditadura, encarnada na pessoa de Getúlio Vargas, um gaúcho que se apoderou do governo brasileiro em função do movimento insurrecional, conhecido por Revolução de Trinta, que afastou do poder as oligarquias de São Paulo e de Minas Gerais.
Vargas, sob o pretexto de o Brasil, em 1938, cair nas mãos dos comunistas ou dos integralistas, criou e implantou o Estado Novo, uma forma de governo totalitário e inspirado nos regimes do Eixo.
Governando com mão de ferro, o ditador, com o apoio das Forças Armadas, levou o país ao obscurantismo e à anormalidade institucional, a ponto de desmarcar as eleições presidenciais, previstas para aquele ano. Mesmo com os poderes discricionários que detinha, Vargas chegou a ser ameaçado de perder o governo por um levante integralista, que atacou o Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, em março de 1938, mas debelado pelas forças oficiais.
Abstraindo o aspecto político, não podem ser esquecidos dois importantes fatos que vieram à tona em 1938. Em 19 de junho, o Brasil participou, pela segunda vez, da Copa do Mundo de Futebol, realizado na França, conquistando o terceiro lugar na competição ganha pela Itália. A 28 de julho, o líder cangaceiro, Virgílio Ferreira, o Lampião, e sua mulher, Maria Bonita, foram mortos pela Polícia, em Angicos, no sertão da Paraíba.
O MARANHÃO
Como não poderia deixar de ser, o Maranhão, pela condição de unidade da Federação brasileira, também, viveu dias de anormalidade institucional. Sustentado na filosofia do Estado Novo, o ditador transformou o governador Paulo Ramos em interventor, dando-lhe poderes discricionários para administrar o Maranhão, que o levaram a fechar a Assembleia Legislativa e prender os que não rezavam na cartilha do regime autoritário, dentre os quais, os professores Jerônimo de Viveiros e Rubem Almeida. Incomodado com as críticas à sua pessoa e ao seu governo, editou um decreto contra a boataria reinante na cidade.
A despeito desse comportamento atrabiliário, o interventor, gabaritado funcionário público federal, lotado no Ministério da Fazenda, realizou no Maranhão obras de relevância e tomou oportunas iniciativas administrativas. Em 1938, por exemplo, criou os Armazéns Gerais do Estado, o Conselho de Economia e Finanças e o Instituto de Aposentadoria e Pensões. Na área cultural, reeditou o livro “Pantheon Maranhense”, da autoria de Antônio Henriques Leal.
ITAPECURU-MIRIM
A minha terra, em 1938, do ponto de vista político-administrativo, não era mais vila, pois conquistara mediante a Lei 919, o status de cidade, em 21 de julho de 1870. Com uma população em torno de 27 mil habitantes, dos quais 25 mil viviam na zona rural e do cultivo de produtos primários, como algodão, arroz, feijão, milho, mandioca, mamona e cana de açúcar. Os que trabalhavam na zona urbana, se dedicavam às atividades artesanais e ao comércio.
No município, existiam 19 unidades escolares: 18 urbanas e uma rural, nas quais estavam matriculados 836 alunos, que recebiam aulas de 26 professores. Nas últimas eleições, realizadas a 30 de julho de 1937, votaram 1.457 eleitores, que elegeram o comerciante Felício Cassas prefeito do município. Por ato do interventor Paulo Ramos, Felício foi mantido na gestão da cidade, pela qual procurou dotá-la de equipamentos urbanos e necessários ao seu progresso, a exemplo da construção de uma ponte flutuante sobre o rio Itapecuru e de um prédio para abrigar a burocracia da municipalidade.
A FESTA EM ITAPECURU
Não sou cabotino e nem perdi o juízo para dizer que, sábado último, 17 de fevereiro, a cidade onde eu nasci parou para reverenciar-me porque mudava de idade e completava oitenta anos. Se, por um lado, isso não aconteceu, por outro lado, fiquei extremamente feliz e satisfeito ao ver familiares, amigos e conterrâneos na igreja de Nossa Senhora das Dores, na celebração da missa de ação de graças, ministrada pelo padre Raimundo Meireles, com a duração de três horas, na qual a homilia, o sermão, as preces e os cânticos foram em homenagem à minha pessoa, após o que todos rumaram para o Henriques Eventos, onde um lauto almoço foi servido aos convidados e pontificou uma programação musical e artística, que muito me emocionou e me levou às lágrimas. As fotos não mentem jamais.