CARNAVAIS QUE A GENTE NÃO ESQUECE

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Herdei de meu pai, Abdala Buzar, festeiro de nascença e carnavalesco assumido, o dom de gostar das brincadeiras de Momo, ele, que, em Itapecuru, se encarregava de organizá-las.

Com esse sentimento, cheguei a São Luís, no florescer dos anos 1950, para dar continuidade aos estudos e conhecer um carnaval diferente do brincado na minha terra, a começar pela duração. Enquanto o de Itapecuru limitava-se ao tríduo momesco – domingo, segunda e terça-feira – o de São Luís demorava uma temporada, iniciada no réveillon e terminada na madrugada de quarta-feira de cinzas.

Ao longo da temporada, a capital maranhense era movida a carnaval. No meio de semana, pontificavam os “Assaltos carnavalescos,” em que grupos da sociedade invadiam as residências de famílias conhecidas e as transformavam em palcos, onde “assaltados e assaltantes” brincavam alegremente até altas horas da noite. Nos finais, a cidade se incendiava com os bailes da elite, realizados no Casino Maranhense, no Grêmio Lítero Recreativo Português, no Clube Jaguarema, e nos denominados clubes populares.

Os clubes elitizados elaboravam programações para sócios e convidados se divertirem à vontade e com tranquilidade. Para tal fim, os salões recebiam decorações para estimular o comparecimento dos associados, devidamente fantasiados e munidos de confetes, serpentinas e lança-perfumes.

Cada clube esmerava-se em apresentar atrações na temporada carnavalesca.  O Jaguarema costumava  trazer do Rio de Janeiro cantores para animarem as festas que precediam ao tríduo momesco. No baile da segunda-feira, as atenções se voltavam para o desfile de fantasia, com prêmios às melhores classificadas. O Casino Maranhense fazia questão de o baile de domingo amanhecer, com o propósito de levar os associados à Rua Grande, para, sob o som da orquestra, reverenciarem a antiga sede do clube. O Lítero, por sua vez, organizava uma programação com festas alternativas, ora na sede social, localizada na Praça João Lisboa, ora na sede esportiva do Anil, sem esquecer as suas memoráveis vesperais, promovidas aos domingos.

BAILES DE SEGUNDA OU DE MÁSCARAS

Os chamados clubes populares ou de segunda salientavam-se por conta de duas singularidades.  Primeira: as mulheres não pagavam para entrar, desde que portassem máscaras, para não serem identificadas e facilitar a presença das mal casadas, das balzaquianas, das prostitutas e até de homossexuais disfarçados. As máscaras funcionavam como um fetiche e atraiam homens de todas as idades e projeções sociais, para noitadas, algumas gloriosas, outras nem tanto.

Segunda, quem bancava os bailes, promovidos nas terças, quintas, sábados e domingos, era o sexo masculino, que desembolsava um bom valor monetário para fazer face ao ingresso, consumo de bebidas e comidas, e possivelmente da remuneração das mulheres conquistadas.

Esses clubes se espalhavam na parte central da cidade e instalavam-se em sobrados e casarões alugados. A maioria portava nomes sugestivos ou exóticos: Gruta do Satã, Bigorrilho, Rasga Sunga, General da Banda, Havaí, Columbina, Dragão da Folia e outros. O mais famoso era comandado por Moisés Reis, caprichoso na seleção das mulheres que frequentavam os seus bailes, geralmente recrutadas nos bairros, algumas até recebiam cachês.

Os bailes populares ou de máscaras, desde que se aproximava a temporada carnavalesca, eram insistentemente combatidos pela igreja e pela imprensa conservadora de São Luís, considerados focos de prostituição ou de desagregação familiar. Com base nessa campanha de falso moralismo, o prefeito, Epitácio Cafeteira, eleito em 1965, assinou decreto proibindo o funcionamento desses clubes na capital maranhense. Essa inesperada e descabida proibição gerou grave crise política, cujo desfecho foi o rompimento do prefeito com o governador Sarney e a extrapolação do caso para esfera do Judiciário, onde demandou recursos de toda ordem, mas só julgados depois do carnaval.

Resultado: sem os bailes de segunda, o carnaval de São Luís entrou num processo de definhamento, com reflexos no comportamento do folião, fazendo-o abandonar os clubes e a fugir das ruas. Essa situação só veio se modificar no primeiro governo de Roseana Sarney, com a execução de um plano para fazer ressurgi-lo das cinzas.

BAILE DO TEATRO

Além dos bailes tradicionais, uma festa ganhou vulto nos meados da década de 1950. Por iniciativa de mulheres da chamada alta sociedade, tendo a primeira-dama do Estado, Ada Carvalho, esposa do governador Matos Carvalho, como líder desse movimento, o Teatro Artur Azevedo serviu de palco para a realização de majestoso baile carnavalesco, em benefício de entidades filantrópicas.

De comum acordo, os principais clubes sociais, Casino, Lítero e Jaguarema, abdicaram de promover festas no domingo de carnaval, para que os seus associados pudessem participar da folia num ambiente devidamente preparado e decorado pelo artista plástico Iedo Saldanha e animado pelas melhores orquestras da cidade: o Jazz Vianense e a Orquestra Alcino Bílio.

Para ter acesso ao baile, além do pagamento do ingresso, a exigência de fantasia fina e de traje rigor. As melhores fantasias recebiam prêmios.

A FOLIA NAS RUAS

Se esse era o quadro que o carnaval apresentava nos clubes elitizados e populares, não menos diferente  o que acontecia nas ruas da cidade, decoradas pela prefeitura, com vistas  a animar o folião, fazê-lo sair de casa e participar ou assistir à apresentação dos blocos, das batucadas, das turmas do samba, dos grupos de índios e de mascarados. Naqueles tempos, escola de samba ainda era um produto carnavalesco exclusivamente carioca. Só anos depois, por influência da televisão, elas, com seus sambas enredos, invadiram avassaladoramente o país inteiro, fazendo as brincadeiras tradicionais perderem o brilho, a autenticidade e serem imitadas, de modo caricato. Em São Luís, a carioquização do carnaval ocorreu sem dó e piedade.

Mas enquanto o nosso carnaval de rua manteve a sua originalidade, a grande maioria dos blocos, das batucadas, das turmas do samba e congêneres, procedia dos bairros e formada por gente de classes menos favorecidas, que se apresentavam em público com fantasias simples, instrumentos modestos de percussão e de sopro, que causavam alegria e vibração aos espectadores, estes, aboletados nas janelas residenciais, que os aplaudiam incessantemente.

Dessa época, ficaram famosos alguns blocos, como os Legionários, Vira-Latas, Sentenciados, Fuzileiros da Fuzarca, Pif-Paf, Coringas, Mal-Encarados e Tarados, até hoje lembrados como inigualáveis pelos saudosistas de um carnaval sem volta.

CASINHA DA ROÇA

Vem, também, daqueles anos dourados, uma atração carnavalesca que até os dias correntes permanece na crista da onda e faz sucesso, tanto que leva o povo ao delírio. Trata-se da Casinha da Roça, criada para mostrar a realidade rural do Maranhão.

Conquanto brincadeira carnavalesca, a Casinha da Roça simula uma moradia rústica do interior, habitada por gente que trabalha no setor primário e vive numa economia de subsistência.

Esse cenário rural, evidentemente em pequena dimensão, é montado numa carroceria de caminhão, que, adaptada para tal fim, revela o modo de vida das famílias rurais, bem como os instrumentos culturais e os utensílios que fazem parte do cotidiano e do labor de homens e mulheres do nosso interior.

OS MAIORES FOLIÕES

Mas o carnaval de São Luís, que eu e outras pessoas ainda guardamos na memória e sentimos infinitas recordações, não dependia apenas dos blocos, das batucadas, dos grupos de sambas, dos mascarados, dos corsos e de outros folguedos.

Na cena carnavalesca urbana, eram notórias as presenças de figuras humanas bem representativas da sociedade, que procuravam mostrar de maneira alegre, simples e divertida, como sabiam animar os ambientes festivos.

Nesse particular, não podem ser esquecidas pessoas da categoria de Aldemir Silva, Jesus e Elir Gomes, Antônio Carlos Saldanha, Inácio Braga, Bichat Caldas, Raul Guterres, Antônio Maria Carvalho, Pedro Mendes e Cléon Furtado, que não deixavam a tristeza reinar no período carnavalesco.

REI MOMO

Não devem, também, se olvidar, como foram atores importantes do carnaval maranhense, de duas extraordinárias personalidades, que contribuíram bastante para tornar as festas carnavalescas descontraídas e animadas: Haroldo Rego e Eurípedes Bezerra.

O primeiro, sócio da Companhia Telefônica do Maranhão; o segundo, oficial de alta patente da Polícia Militar do Estado. Ambos, na fase carnavalesca, no exercício da função de Rei Momo, esqueciam o que eram na vida real e se transformavam em autênticos representantes da folia, em nome da qual ditavam as regras e as normas para que, no carnaval, tudo ocorresse sem anormalidades.

OS FOFÕES

Em nenhuma outra cidade brasileira, excetuando-se São Luís, havia um tipo carnavalesco semelhante à figura do fofão, fantasia de custo baixo, portanto, acessível aos foliões de todas as classes sociais.

O fofão dançava e pulava descontraidamente nas ruas e nos clubes sociais sem medo de ser feliz. Em qualquer lugar era sempre bem recebido, sobretudo porque fazia a alegria da garotada.

Para ser fofão, o folião usava um modelo de roupa larga e feita com tecido estampado, colorido e vistoso, com guizos nas extremidades, para chamar a atenção dos adeptos ou não do carnaval.  Além dessa chamativa indumentária, carregava uma boneca, um cajado ou uma  vareta, para se proteger dos cães de rua ou da molecada.

Para o fofão ter acesso aos clubes e às festas carnavalescas só havia uma exigência: mostrar a cara.

 

Fotos e legendas

  • Eu, Palmério Capos, Alim Maluf e Raimundinho Sá, com os familiares e amigos, em pleno momento de alegria na rua da cidade.
  • Aziz, Tajra, Raimundo Buzar e Carlos Guterres fantasiados no baile do Casino Maranhense.
  • No Jaguarema, no baile da segunda-feira de carnaval. Da esquerda para a direita: Jaime e Alberlila Neiva, Sílvia Duailibe, Sérgio Serra Costa, Cláudio Vaz, Socorro Bogéa, professor Pedro Neiva de Santana, Kilmer Freitas e eu.
  • Raimundinho Sá, eu e Solange, no Clube Jaguarema
  • No baile do Teatro Artur Azevedo: Ariosto Neiva, Ernani Nunes, eu, e os irmaõs João, Benito e Wilson Neiva.
  • No Clube Jaguarema, bloco formado por Néa Bello Sá, Iolanda Paraíso, Maria Helena Bello, Leda Chaves, Socorro Bogéa, Marismênia Carneiro, Solange Buzar e Dilma Castro.
  • Em plena descontração carnavalesca, no Clube Jaguarema, Palmério Campos, Cláudio Vaz e eu.
  • No Clube Jaguarema. Em pé: Aziz Taajra, Jaime Santana, Eurico e Marismência Carneiro, Poé, Cláudio Alemão, Cléon Furtado, Aldemir Silva e esposa, e eu. Sentados: Leda Chaves, Alberlila Neiva, Néa e Raimundinho Sá, Iolanda Paraíso, Socorro Bogéa, Iracema Furtado e Solange Buzar.
  • No Grêmio Lítero: eu e Solange.
  • No baile do Teatro: Mário(Bazuka) Salmen, Miguel Fecury e César Bragança
  • No Casino Maranhense: Zequinha Azevedo, Raimundo Buzar, Mauro Fecury, Aziz Tajra, Jafé Nunes, José Reinaldo Tavares, Jaime Santana e Carlos Guterres.

 

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CARNAVAL E PREFEITURA

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Eu sou da época em que as prefeituras, excetuando-se a de São Luís, não patrocinavam festas carnavalescas no interior do Estado.

Tomo como exemplo a cidade em que nasci – Itapecuru-Mirim. Até antes da década de 1990, nenhum gestor municipal chegou a mobilizar recursos para bancar o carnaval, evento de alto custo alto e sem retorno financeiro.

Carnaval, no interior do Estado, era festa marcada pela espontaneidade, que o povo brincava alegremente na rua ou em residências particulares. Nos três dias da folia, a população divertia-se com os mascarados e os blocos que desfilavam modestamente fantasiados, mas às suas custas.

À noite, à falta de clubes sociais, os bailes, de primeira e de segunda se realizavam  em casas cedidas pelos moradores, animadas pelas orquestras locais. Nos chamados bailes de primeira, só a presença da elite. Nos de segunda, a participação da classe social menos dotada financeiramente e os nascidos com a pele parda ou negra. Além destes, os de terceira, nos quais as raparigas pontificavam.

Esse cenário prevaleceu no interior maranhense até antes dos anos 1990, com a invasão das bandas baianas, trazendo no repertório uma nova e irresistível modalidade de cantar e dançar, conhecida por axé music, que se impôs no país inteiro e fez desaparecer as tradicionais marchinhas carnavalescas.

Essas bandas baianas caíram no gosto da população, que passou a exigir dos prefeitos a presença delas em praças públicas.  Para bancá-las, pois os cachês eram elevados, os gestores municipais se valiam de duas alternativas.  A primeira: através de seus representantes na Câmara Federal ou na Assembleia Legislativa, pressionavam os governadores para atendê-los com recursos da Lei de Incentivos Fiscais, usada indevidamente.  A segunda: sem os recursos do Governo do Estado, apelavam para a ilegalidade, ou seja, com as verbas destinadas à saúde, educação e obras públicas. Alguns chegavam ao desplante de utilizar até o sagrado dinheiro do funcionalismo.

Não à toa, este ano, a Procuradoria-Geral de Justiça aprovou uma Representação, com o objetivo de normatizar o controle externo sobre a realização de eventos festivos e custeados com recursos públicos, os quais só poderão ser usados se as prefeituras estiverem em dia com o pagamento do funcionalismo público e os repasses das contribuições previdenciárias.

Com base nessa Representação, o Tribunal de Contas do Estado do Maranhão entrou em campo e pronto para punir os gestores que infringirem esse oportuno dispositivo.

CANDIDATO A GOVERNADOR

Um ilustre e desconhecido prefeito de uma cidade do litoral ocidental do Maranhão, lançou-se candidato a governador do Estado, nas eleições de outubro.

O governador Flávio Dino e a ex-governadora Roseana Sarney não vão passar o carnaval sossegados e tranquilos com essa notícia, revelada pela  revista “Maranhão Hoje”.

O fato de ele cumprir o quinto mandato na prefeitura de Cedral, sem realizar gestões proveitosas em benefício da cidade e de seu povo, não o credenciam a disputar um pleito do nível de governador.

Talvez fosse melhor abandonar a vida pública.

MEIO SÉCULO DE IDADE

Só os amigos mais chegados ao governador Flávio Dino sabem que ele muda de idade a 30 de abril.

Mas poucos sabem que, este ano, ele completará meio século de vida.

Os que sabem, mobilizam-se discretamente, para a realização de um evento pomposo, para ficar eternamente guardado na memória não do governador, mas do cidadão Flávio Dino.

CALENDÁRIO DA AML

O Calendário da Academia Maranhense de Letras vem da época de Jomar Moraes, iniciativa que realizou com regularidade e competência, sempre  com o inestimável patrocínio da Fundação Sousândrade.

As diretorias que vieram nos anos pós Jomar deram continuidade à publicação do Calendário da AML, que se diferencia de outros por evocar datas culturalmente  relevantes da vida maranhense.

Ao longo da minha gestão, iniciada em 2010, jamais o Calendário da Casa de Antônio Lobo deixou de ser editado.

O deste ano registra efemérides que dizem respeito a quatro importantes figuras da cultura do Maranhão: o bicentenário de nascimento de Cândido Mendes de Almeida, o sesquicentenário de Graça Aranha e os centenários de Manoel Caetano Bandeira de Melo e de Pedro Braga Filho.

OITENTA ANOS

Não era meu propósito realizar evento para comemorar os meus oitenta anos de vida, que alcancei com viço, saúde, força e ímpeto.

Mas os amigos e conterrâneos de Itapecuru- Mirim, não se conformaram com a minha decisão e tomaram a iniciativa de, no próximo dia 17 de fevereiro, homenagearem um filho da terra que faz questão de sempre exaltá-la e de honrá-la.

Nesse dia, a partir das 10 horas, acontecerá um evento que começa com a celebração da missa em ação de graças e termina com um supimpa almoço.

CONCORRÊNCIA DE FARMÁCIAS

O mercado farmacêutico de São Luís é dominado por três fortes redes nacionais: Extrafarma, Pague menos e Globo, esta, ocupou o lugar da falida  Bigben.

A partir desta semana, essas três poderosas empresas terão pela frente uma forte concorrente, que vem de São Paulo a com o fito de oferecer produtos mais em conta aos consumidores maranhenses: a Drogasil.

CHIQUITA BACANA

Quando vejo a grande quantidade de carros  que a Secretaria de Segurança tem adquirido e colocado a serviço da população maranhense, não esqueço São Luís, a dos anos 1950.

Se hoje a cidade precisa de imensa frota de veículos, para atender a uma população de mais de um milhão de habitantes, naqueles idos, a capital maranhense, que contava com uma população estimada em cem mil almas, precisava apenas de um veículo motorizado.

Uma caminhoneta dotada de uma buzina ensurdecedora, logo batizada com o nome de Chiquita Bacana, marchinha carnavalesca, que fez muito sucesso nas festas de Momo.

MAIS EMPREGOS

Segundo informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho, em São Luís, em 2017,  foram criadas mais de 70 mil novas vagas de trabalho com carteira assinada.

Por conta disso, a capital maranhense conquistou a quinta posição no ranking das 100 cidades que mais criaram empregos no ano passado.

Pelo que se sabe, essas novas vagas de trabalho foram criadas para preencher os quadros do puxa-saquismo, do afilhadismo, do nepotismo, do servilismo e do assistencialismo.

 

 

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