A ELEIÇÃO DE JOMAR Á AML E OUTRAS HISTÓRIAS

0comentário

Não sei precisar o dia e nem o mês, mas estou absolutamente certo de que conheci Jomar Moraes em 1968 e partir daí construímos uma sólida amizade que, em tempos diferenciados, nos levou à Academia Maranhense de Letras. Se contabilizada, essa convivência chega a meio século.

Em 1968, iniciei a minha militância no jornalismo maranhense, no antigo Jornal do Dia, a convite do poeta, Bandeira Tribuzi. Escrevia com o pseudônimo de J. Amparo, a coluna Roda Viva, com  notícias variadas sobre São Luis, tendo a política e a cultura como enfoques.

Da política, porque eu vinha do exercício de mandato eletivo, bruscamente interrompido pelo movimento militar, que mandou cassar o meu mandato de deputado estadual; da cultura, por acompanhar, com desusado interesse, a vida de intelectuais, daqui e de fora, e pontuando suas produções literárias.

Por conta principalmente da cultura, que eu divulgava religiosamente, veio a minha aproximação com Jomar Moraes, àquela altura dos acontecimentos, começando a ser conhecido nos meios intelectuais, pela sua participação em concursos literários, patrocinados por entidades culturais, dentre as quais Academia Maranhense de Letras, em que ele abiscoitava, quase sempre, o primeiro lugar.

Com base nessa sadia convivência, Jomar convida-me para com ele assumir a responsabilidade de publicar aos domingos uma página literária no Jornal do Dia. Topei na hora, mas condicionei à aprovação de Bandeira Tribuzi, que logo a autorizou.

Foi assim e por bom tempo, que o leitor do JD teve o privilégio de ser informado a respeito da cena cultural maranhense. A página foi um sucesso, até porque, à época, só o jornal de Alberto Aboud preocupava-se  com os homens da prosa e da poesia.

NASCE A CANDIDATURA DE JOMAR À AML

Com a amizade incrementada, a cultura continua sendo o prato preferido de nossas conversas e consumidas rotineiramente nos almoços em minha casa, na Rua Godofredo Viana, onde fui morar ao casar com Solange.

Foi, portanto, no meu ambiente familiar que vieram a lume as primeiras manifestações com vistas ao ingresso de Jomar na Academia Maranhense de Letras. Tudo começa quando morre o acadêmico Luiz Viana, vaga essa que poderia ser dele, conforme anunciava a coluna Roda Viva, a 13 de agosto de 1968.

Mas um fato inesperado levou Jomar a não concorrer à Cadeira nº 37: a presença do veterano e respeitado jornalista Amaral Raposo no processo sucessório da Casa de Antônio Lobo. Em homenagem a Amaral, decide retirar-se da contenda, gesto nobre e aplaudido pela sociedade.

Mas não leva tempo para outra vaga se abrir na Casa de Antônio Lobo, desta feita, a do escritor Henrique Costa Fernandes, falecido em janeiro de 1969, fato que leva Roda Viva a divulgar em primeira mão a candidatura de Jomar à Cadeira nº 10, a ser disputada com o jovem poeta,  Fernando Braga.

Lançados os dois candidatos, não tive dúvidas, atirei-me de corpo e alma no apoio a Jomar, sobre o qual, diariamente, noticiava a receptividade de sua postulação junto aos acadêmicos.

Essa solidariedade fez recair sobre mim a ira sagrada do jornalista Erasmo Dias, que abraçara a candidatura de Fernando Braga, a quem dedicava artigos de louvor ao valor do jovem poeta e invectivava os que, como eu, defendia ardorosamente o candidato oposto ao seu.

ELEIÇÃO E POSSE

Depois de intensa campanha, com a eleição marcada para 10 de maio de 1969, vaticinei, através de Roda Viva, o resultado da disputa, que, pelas minhas consultas de pé de ouvido, Jomar ganharia no primeiro escrutínio, com 21 ou 22 votos.

Abertas as urnas, elas confirmaram a vitória de Jomar, que conquistou 22 votos dos 33 acadêmicos votantes. Votaram nele: Alfredo de Assis, Manuel Caetano Bandeira de Melo, Felix Aires, Antônio Oliveira, Conceição Aboud, Lago Burnett, Josué Montello, Assis Garrido, Fernando Carvalho, Ribamar Carvalho, Joaquim Luz, Vera Cruz Santana, Antenor Bogeá, José Maria dos Reis Perdigão, Fernando Perdigão, Virgílio Domingues, Salomão Fiquene, João Medeiros, Luiz Rego, Mário Meireles, Clodoaldo Cardoso e Antônio Carvalho Guimarães

Em Fernando Braga, votaram: Laura Rosa, Bernardo Almeida, Astolfo Serra, Magson Silva, Bacelar Portela, Joaquim Dourado, Domingos Vieira Filho, Odilo Costa, filho, Fernando Viana e Carlos Cunha.

Interessante observar que, dos acadêmicos votantes, à exceção de Magson Silva, todos já partiram para a eternidade.

O novo acadêmico, empossado a 6 de agosto de 1969, foi saudado pelo escritor Antônio Oliveira. Pelos serviços prestado  à Polícia Militar do Estado, a Banda de Música da corporação, homenageou-o antes da solenidade, na porta da AML, com um repertório especialmente preparado.

Em tempo: no seu livro, “Cinzas das quartas-feiras”, editado em 1990, Jomar Moraes, na crônica intitulada “Vinte anos depois”, revela o quanto foi valiosa a minha contribuição à sua eleição à Academia Maranhense de Letras. Eis um trecho: “Roda Viva a prestigiosa coluna que Benedito Buzar publicava no Jornal do Dia, com a assinatura de J. Amparo, mantinha a disputa na ordem do dia de palpites e comentários apaixonados da Cidade, motivando parcialidades e definindo preferências.”  Mais ainda:  “Buzar torcia abertamente por mim e por minha eleição. Isso provocou ciumeiras e estimulou confrontos naquele e em outros jornais. Sem falar no jornal falado, ou melhor, bebido diariamente, em edições extras e notícias de última hora, na alegre redação do Bar Atenas, em que Erasmo Dias pontificava afirmando que jamais o mulato-jenipapo venceria Nandinho, o filho de sua alma.”

JOMAR ME LANÇA CANDIDATO

Vinte e um anos depois da posse de Jomar, na Casa de Antônio Lobo, ou seja, a 15 de abril de 1990, falece no Rio de Janeiro, o professor, advogado e jornalista Fernando Eugênio dos Reis Perdigão, que ocupava a Cadeira de nº 13, do sodalício da Rua da Paz.

Dias depois da infausta notícia, para minha surpresa, quem aparece na Secretaria da Cultura, onde eu exercia o cargo de secretário, no governo João Alberto?: Jomar Moraes, então presidente da AML. Sem delongas, entra direto no assunto: – Estou aqui para te convidar a ser candidato à Academia Maranhense de Letras e preencher a vaga de teu ex-professor e amigo, Fernando Perdigão.

Na verdade, mantinha com o ilustre mestre excelente relacionamento pessoal, mas tomei um bruto susto com o convite, até porque, juro por tudo quanto é santo, nunca pensara ou cogitara integrar tão nobre Instituição. Disse-lhe que ia pensar no assunto, pois julgava ser ainda pequeno intelectualmente para ocupar cargo tão importante. Retruca o meu argumento e dá como irreversível minha candidatura, alertando, ademais,  que me ajudaria na conquista de votos.

Assim, meio encabulado, inscrevi-me à vaga de Fernando Perdigão, com a sorte de não ter concorrente. Cumpridos os prazos regimentais, marcou-se a eleição 2 de agosto de 1990. Dos 39 acadêmicos votantes, recebi 31 votos, sendo que 2 votaram em branco e 6  deixaram de encaminhar os votos.

DISCURSO EM PARCERIA

Determinado como o era em relação às coisas da Academia,  não satisfeito em surpreender-me com o convite para dela fazer parte, prega-me outra surpresa, tão impactante quanto à primeira: teria de tomar posse na Cadeira nº 13, dia 10 de agosto, por ocasião das festividades de fundação da Instituição, ou seja, oito dias após a eleição.

Pela exigüidade do tempo, disse-lhe ser isso impossível, pois os encargos à frente da Secretaria da Cultura me impediam de organizar os preparativos de uma solenidade, que exigiam vários requisitos, tendo como prevalência a elaboração do discurso de investidura.

Como tinha argumento para tudo e era craque na arte do convencimento, logo se oferece para fazermos o discurso em parceria comigo. Ou seja, ele daria as linhas mestras do pronunciamento, e eu o complementaria com os necessários alinhaves e apontamentos.

Após muita conversa, pactuamos o que se deveria fazer. Assim, em tempo recorde, o discurso ficou pronto e quedei-me diante de tão impositivo argumento.

O confrade Milson Coutinho, que iria recepcionar-me na solenidade, teve de suspender todos os compromissos assumidos na área advocatícia, para poder, também, estar com o seu discurso em ponto de bala, conforme a vontade indômita do presidente da AML.

A solenidade de posse foi bastante concorrida e os convidados tiveram direito a jantar, no Palácio dos Leões e oferecido pelo governador João Alberto.

 

Sem comentário para "A ELEIÇÃO DE JOMAR Á AML E OUTRAS HISTÓRIAS"


deixe seu comentário

Twitter Facebook RSS