A POLICIALIZAÇÃO E A JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA

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No seu artigo de domingo passado, publicado neste jornal, o ex-presidente José Sarney, com conhecimento de causa e de forma brilhante, mostrou como os atuais partidos políticos brasileiros deixaram de “funcionar como instituições autônomas e independentes” e abdicaram de encontrar as soluções e dirimir os problemas e as crises que pipocam no país.

Essa postura de omissão e de incompetência das agremiações partidárias, afirma Sarney, faz com que cada vez mais a Justiça se politize e passe a ocupar o lugar que não lhe cabe no contexto institucional, mas, quase sempre, se vê compelida a interferir para restabelecer o império da lei.

O oportuno artigo do ex-presidente remete a um recuo no tempo e chegar a uma fase em que a política no Brasil não era  judicializada como agora, mas policializada.  O nosso Maranhão não fugia a essa regra. Aqui, o cacete corria solto em nome do mandonismo político.

Estribo-me no livro recentemente publicado pelo pesquisador Luiz de Mello, intitulado “Dois Estudos Históricos”, da autoria do inolvidável mestre Jerônimo de Viveiros, que, sustentado em relatos de João Lisboa, Sotero dos Reis e Cândido Mendes, mostra como os dois partidos políticos existentes na Província, após a Independência, usavam a policia para chegar ao poder e impor o arbítrio e a violência.

O partido moderado, chamado de Cabano, Saquarema e Conservador, e o exaltado, de  Bem-te-vis, Luzias e Liberal, se alternavam no poder, conforme a situação política nacional, mas quando assumiam a máquina administrativa não se diferenciavam em nada.

Sendo farinha do mesmo saco, praticavam os mesmos excessos e copiavam as mesmas ações administrativas.  Segundo Viveiros, por causa dessa situação, a polícia intervinha nos pleitos eleitorais, falsificava atas, suprimia votos, substituía as listas dos candidatos e ainda controlava as condecorações, empregos ou patentes da Guarda Nacional.

Em tempos mais recentes, louvo-me na dissertação de mestrado do saudoso professor José Caldeira sobre “O ciclo revolucionário maranhense”, que a Academia Maranhense de Letras publica e lança este ano. O sociólogo revela que no governo de Magalhães de Almeida ( 1926-1930), o tenente Zenóbio da Costa,“parecia às vezes ser o verdadeiro administrador do Estado, tais e tão variados e importantes eram os cargos por ele ocupados cumulativamente, além dos efetivos de Chefe de Polícia e comandante do Batalhão Policial, foi  Secretário Geral do Estado e prefeito de São Luis, ao mesmo tempo e, no final do governo, o único administrador de todas as obras.” Ainda chegava ao extremo de assinar carteira de identidade só para os que assumissem o compromisso de votar nos candidatos magalhãesistas.

 

DE ERASMO PARA SARNEY

Em novembro de 1968, o governador José Sarney  criou mediante lei o Conselho Estadual de Cultura, para o qual nomeou um seleto grupo de intelectuais para integrá-lo. Entre os indicados, o jornalista Erasmo Dias, que este ano em agosto completaria 100 anos de nascimento, efeméride a ser celebrada pela Academia Maranhense de Letras.

Ao ser comunicado oficialmente da escolha de seu nome para fazer parte daquele colegiado, Erasmo não conteve a emoção e fez publicar nos jornais da cidade esta “Carta Aberta ao Governador”.

“De aqui, em casa, onde rebrilha a glória da solidão, não minha, mas a de quem me criou, de aqui, nos Apicuns, em  número 94 eu escrevo a Vossa Excelência.”

“E se por acaso o faço e alma comovida, com emoção que foi repartida, e, por certo, repercutiu para os nossos em cissiparidade.”

“Eu não pedira, como não peço, como jamais pediria. V. Excia no seu alto entender, o quis fazer. Não irei ao Palácio, que é do Maranhão, onde lhe levou a opinião multíplice, em manifestação de ternura e entendimento lhe agradecer. Compreensão!”

 

“Prefiro fazer assim, em lonjuras benquerentes. Prefiro, de aqui, donde já disse que, em coisas de inteligência, V. Excia. vai melhor que todos mais.”

“Sabei que tantos outros queriam a distinção. Surpreendeu-me, comoveu-me, enterneceu-me. Grato a V.Excia. Eu e o Maranhão lhe agradecemos!”

ENGANA QUE EU GOSTO

Muita gente torce para que o deputado Bira do Pindaré seja candidato à prefeitura de São Luis não para vê-lo no cargo, mas para convencê-lo de que a política hoje é completamente diferente de 2006, quando ele, um desconhecido “garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones”, candidatou-se ao Senado e concorreu ao pleito contra Cafeteira e Castelo, e deu uma surra em ambos em São Luis.

Sua espetacular votação (mais de 500 mil sufrágios) foi uma circunstância política do momento, pois o eleitorado de São Luis recusou-se a votar em Cafeteira, à época, vinculado ao grupo Sarney, e em Castelo, que pleiteava a reeleição.

As eleições deste ano, que nada têm a ver com as de 2006, caso ele concorra, não terá nem o voto do amigo, o governador Flávio Dino, que está, desde cedo, comprometido com a reeleição do prefeito Holandinha.

VEREADORES E CENTRO HISTÓRICO

Na semana passada, um bem-intencionado vereador à Câmara Municipal de São Luis, julgando que os seus colegas estavam preocupados com a situação de abandono do Centro Histórico, resolveu realizar uma audiência pública.

As autoridades convidadas para debater o problema compareceram, mas vereador que é bom, só mesmo o autor da proposta, que, coitado, ficou morto de vergonha no plenário.

Trocando em miúdos, dos mais de trinta vereadores com assento na Câmara Municipal só um está preocupado com a sorte de São Luis. Triste cidade, a nossa.

CABEÇA DE FORA

O jovem secretário de Cultura, Diego Galdino, precisa ter mais presença nos atos e eventos que dizem respeito à sua competência.

Grande parte dos intelectuais, artistas e pessoas que fazem a cultura maranhense ainda não o conhecem.

Dias atrás, ele representou o governador Flávio Dino em uma solenidade e acabou sendo a atração do evento pela sua explícita juventude.

 

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