Pela certidão de nascimento, José Raposo Gonçalves da Silva é um ilustre desconhecido na cidade. Mas quando o nome de Amaral Raposo vem à baila, fácil identificá-lo, pois foi com esse pseudônimo que se fez conhecido no Maranhão e marcou época como um dos mais brilhantes jornalistas do século passado, atuando com desenvoltura e brilhantismo em vários jornais da cidade, como articulista e cronista.
Amaral, além de jornalista consagrado, conhecia como poucos as regras da gramática portuguesa e por conta disso vangloriava-se de ser mestre. Nas horas vagas era um boêmio de carteirinha e assíduo freqüentador do Moto Bar, na Praça João Lisboa, e do Bar do Hotel Central, na Praça Benedito Leite, locais em que passava horas a tirar dúvidas dos necessitados de seus conhecimentos ortográficos.
Foi num desses encontros diários com o competente jornalista, que soube de sua eleição à Academia Maranhense de Letras e de sua posse marcada para 16 de dezembro de 1976, para ocupar a Cadeira nº 37, patroneada pelo poeta Inácio Xavier de Carvalho e vaga com a morte de Luiz Viana.
Amaral Raposo, como outros intelectuais de sua época, era um crítico mordaz da Academia Maranhense de Letras, por isso causou surpresa o seu ingresso naquela Instituição, a convite de Fernando Viana e Carlos Cunha.
Antes de ser empossado, numa roda de conversa, em que eu participava, ele fez uma revelação inusitada: o seu discurso na Academia Maranhense de Letras seria inteiramente sem verbos, fato que o próprio jornalista se encarregou de confirmar no seu pronunciamento acadêmico: “Ouviu-me dizer isso o jovem e conhecido cronista Benedito Buzar, e, bom profissional que o é, registrou-o por mais de uma ocasião, em seu jornal”.
A notícia extrapolou de São Luis e chegou a ser comentada num jornal do Rio de Janeiro, que o entrevistou a respeito do discurso, mas deixou dúvidas se o faria ou não.
Afinal, chega 16 de dezembro de 1976, dia em que se saberia se Amaral Raposo cumpriria a promessa de fazer um discurso sem verbo. Os jornais exploraram o fato com estardalhaço e a Casa de Antônio Lobo foi pequena para abrigar tanta gente curiosa.
Para surpresa de todos, ele começa o seu pronunciamento sem dizer absolutamente nada sobre o que prometera. Mas ao chegar à metade da oração fez uma pausa, respirou fundo e revelou: “Agora, sou compelido a cumprir, embora em parte, a promessa a que me aventurei, bem inadvertidamente. Consegui-lo-ei? Dir-no-lo-á, depois, vosso julgamento”.
Dali por diante, passou a cumprir a palavra com a produção de um texto desprovido de verbo, que assim começou: “Onde, em mim, a esta altura de uma existência, sem brilho e sem relevo, portador de um coração já deserto de impulsos criadores e de uma alma já órfã de esperanças, de idealismo e de sonho, a conquista dos clarões mentais, indispensavelmente necessários ao exame de tão preclaro representante da capacidade científica maranhense, das vigílias literárias maranhenses, dos triunfos poéticos maranhenses, sobretudo da extraordinária vocação pedagógica do insigne conterrâneo, tão viva e palpitante, entre as cogitações desse grande vencedor de mil batalhas, nos altiplanos da erudição e da sabedoria?”
E continuou: “Acaso por minha causa, acaso por mim, obscuro combatente de campanhas sem vitórias, por mim, vaga figura sem projeção e sem nome, além das fronteiras provincianas de nossa terra? Certo que não. Para quem esta honra grandiosa tão repleta de beleza espiritual, de encantamento e de sonho? Para mim, para a inútil insignificância do meu nada?”
No dia seguinte, os maledicentes da cidade não perdoaram Amaral Raposo. Acharam o seu discurso com pouco verbo mas com muita verborragia.
O FIM DOS BONDES
Os bondes que circulavam nas ruas de São Luis, desde o começo do século passado, foram desativados no governo Sarney, em nome do progresso e da melhoria do tráfego urbano.
No seu famoso livro “Os maribondos de fogo”, editado em 1978, pela Alhambra, o poeta José Sarney, no belo poema “Carta do Anti-Santo José aos seus tristes”, humildemente, confessa o arrependimento pelo cometimento daquele ato:
“Irmãos, não me julgueis pelo bonde de minha infância que matei/
Porque eu o amava e o matei/
Como se não mata o amor/ mas
pelo indesejo da morte.
Ele não corre e foram as minhas mãos/
que o trucidaram e trucidaram com ele/
as moças todas que estavam na janela/
e eu desejava casar para fazer filhos que/
de novo pegassem o bonde/
e fossem até o fim dos caminhos/
e de novo fizessem outros filhos e outros mais/
para que o bonde fosse o trilho eterno/
e não o fim do trilho”.
CASTELO, A ATRAÇÃO
Indiscutivelmente não foram a Dilma, nem o Lula, tão pouco a Operação Lava-Jato as grandes atrações da passeata de protesto, domingo passado, na Litorânea.
Quem roubou a cena foi o ex-prefeito João Castelo que, pela primeira vez ao longo de sua carreira política, participava de ato semelhante ou igual àquele.
Castelo, meio desajeitado, mas consciente do que praticava, marcou, com a sua presença septuagenária, um tento que muito infante não teve coragem de fazer.
CADÊ O VLT?
Quem fala em Castelo, não esquece o seu impensado ato de, no final da gestão na prefeitura de São Luis, investir um montante de recursos num projeto açodado e eleitoreiro.
Resultado: não o executou e ainda deu margem para os adversários o crucificarem e de não se reeleger para o cargo.
Veio o seu substituto e prometeu colocar o VLT em ação. Como o antecessor, deu uma de Cafeteira: prometeu e não cumpriu.
Vem aí uma nova gestão e provavelmente dará ao VLT uma destinação sinistra: vendê-lo como sucata ou deixar a marisia destruir um equipamento que poderia ter sido útil à comunidade.
EFEITO RENAM
O senador Roberto Rocha, depois de assumir o cargo que o povo maranhense lhe outorgou na eleição de 2014, resolveu mudar literalmente o seu visual.
As suas recentes aparições na televisão mostram como ele caprichou na sua nova maneira de vestir-se e na sua fisionomia.
Essa reformulação indumentária e física, pela qual passou o senador maranhense, tem como modelo o presidente do Senado, Renan Calheiros.
Em Brasília, Roberto já foi confundido com o senador alagoano.