Em Itapecuru, 15 de novembro era dia de São Abdala Buzar. Nessa data, o meu saudoso pai aniversariava, ocasião em que recebia as homenagens a que tinha direito. Óbvio que nós, familiares, participávamos das festividades, a ele tributadas pelo povo itapecuruense, que começavam, invariavelmente, ao raiar da madrugada, sob o som de uma alvorada musical e de um intenso foguetório, que acordava toda cidade. Por volta do meio-dia, um almoço, farto de comida e de bebida, servia-se aos convidados e penetras. A culminância da efeméride ocorria à noite, com a realização de três animados bailes: o de primeira, para a elite branca; o de segunda, para a elite negra, e o de terceira, aos adeptos da raparigagem.(Naqueles tempos, a odienta discriminação racial ainda vigia)
Mas por que o meu pai um homem festeiro, generoso e bom, só era homenageado no dia de seu aniversário? Resposta: porque naqueles idos, os meios de comunicação e o marketing empresarial ainda não haviam inventado o Dia dos Pais, das Mães, das Crianças, dos Avós e de outras figuras humanas, usados para incrementar o do faturamento do comércio e da indústria.
Quarenta anos depois da sua partida para a eternidade, hoje, quero homenageá-lo e também os pais dos amigos que Deus me deu. Pela impossibilidade de reverenciar todos nesta página, espero que se considerem homenageados nas figuras humanas e paternas de Antônio Fecury, Pedro Neiva de Santana, Carlos Tjara, Antônio Costa Santos, José Vieira, Arthur Almada Lima, Joaquim Salles de Oliveira Itapary, Eliezer Moreira e Nicolau Dino, que legaram à sociedade filhos maravilhosos e de valor intelectual e moral da estirpe de Mauro Fecury, Jayme Santana, Aziz Tajra, Claúdio Vaz dos Santos (Alemão), Gastão Vieira, Nelson Almada Lima, Joaquim Itapary Filho, Eliezer Moreira Filho e Sálvio Dino.
Para homenageá-los, como jornalista, optei pelo que sei e gosto de fazer: a síntese biográfica de cada um. Do meu pai, ABDALA BUZAR NETO, digo que nasceu a 15 de novembro de 1911, filho dos libaneses Rafiza e João Buzar, que se radicaram em Itapecuru, no começo do século XX, vindos do mundo árabe. Ali foi alfabetizado, fez o primário e desde garoto ajudou os pais nas tarefas comerciais e com eles prosperou no meio empresarial. Pela competência e liderança na cidade, ingressou na política partidária. Nomeado prefeito, no Estado Novo. No regime democrático, elegeu-se vereador e cumpriu dois mandatos. Presidiu a Câmara Municipal, e, como tal, ocupou interinamente o cargo de prefeito. Nas eleições de 1960, elegeu-se prefeito. Deixou o cargo, permaneceu na política, sempre indicando e elegendo os candidatos à prefeitura. Também exerceu os cargos de delegado de polícia e suplente de juiz e promotor. Fundou e presidiu a Associação Comercial e Industrial e o Clube Recreativo e Cultural de Itapecuru. Católico praticante sempre foi ligado à igreja. Festeiro de primeira linha e inveterado carnavalesco. Em maio de 1937, casou-se com Deonila Bogéa, com quem teve oito filhos. Faleceu em 27 de março de 1975.
ANTÔNIO FECURY, pai de Mauro Fecury, nasceu em Manaus, a 25 de fevereiro de 1909. Descendente de libaneses que chegaram ao Acre nos primeiros anos do século passado. Do genitor herdou o gosto pela atividade comercial. Influenciado por um tio, em 1953, mudou-se com a família para São Luis e fez-se dono de uma das principais farmácias da cidade, localizada na Praça João Lisboa. Por meio dela amealhou recursos que o levaram ampliar os negócios, a exemplo da usina de pilar arroz, da loja de ferragem e de representante comercial da poderosa empresa americana Sidney Ross. Quando morava no Acre, casou-se com a cearense Araripina, que lhe deu três filhos. Faleceu em São Luis em 1986.
PEDRO NEIVA DE SANTANA, pai de Jayme Santana, nasceu em Nova Iorque (MA) a 27 de setembro de 1907. Fez o primário em Floriano, estudou no Liceu Maranhense e diplomou-se médico pela Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro. Começou a vida profissional na chefia de postos de higiene, no interior do Maranhão. Projetou-se como médico, homem de cultura e prefeito da capital de 1937 a 1945, nomeado pelo interventor Paulo Ramos. Sua biografia é marcada pelo exercício de cargos importantes, como chefe do Instituto Médico-Legal do Maranhão e da Legião Brasileira de Assistência, provedor da Santa Casa de Misericórdia, professor e diretor das Faculdades de Direito e de Ciências Médicas, reitor da Universidade Federal do Maranhão e membro da Academia Maranhense de Letras. Em 1966, o governador José Sarney o nomeou secretário de Fazenda do Estado, cargo que o habilitou a governar o Maranhão, de 1971 a 1975. Casou-se com Eney Tavares, com quem teve um filho.
CARLOS TAJRA, pai de Aziz Tajra Neto. Nasceu em São Luis, de família síria. O pai, bastardo empresário, propiciou-lhe uma infância e uma juventude bem saudáveis. Pensando num futuro auspicioso ao filho, o encaminhou para a Escola Militar de Realengo, no Rio Janeiro, mas, no meio do curso, desistiu da carreira militar. De volta a São Luis, dedica-se à prática esportiva, priorizando o futebol, primeiro, como atleta, depois, como dirigente do FAC, clube da primeira divisão. Era um homem polivalente, tanto que, na maturidade, não se acomodou e marcou presença em diversas atividades profissionais, nas quais se empenhou com seriedade e lisura. Faleceu em São Luis.
ANTÔNIO RODRIGUES DA COSTA SANTOS, pai de Cláudio Vaz dos Santos (Alemão). Nasceu em São Luis, onde recebeu na infância, educação esmerada. Na juventude, estudou em Lisboa e no que a cidade tinha de melhor em matéria de educação. Qualificado profissionalmente, retorna a São Luis e recebe convite para ocupar cargos na administração pública. No governo de Paulo Ramos, chefia o Departamento Estadual de Estatística. Teve atuação tão exemplar que, no governo de Sebastião Archer da Silva, foi mantido à frente de um órgão que coletava informações e dados sobre as entidades que atuavam na área social e econômica. A atividade privada também o atraiu, especialmente o ramo farmacêutico, sendo sócio de renomadas farmácias de São Luis.
JOSÉ DIAS VIEIRA, pai de Gastão Vieira. Nasceu em Guimarães, onde fez o primário. Em São Luis, estudou no Colégio Viveiros. Dotado de privilegiada inteligência e amante de livros, teve militância na imprensa maranhense, nos 1930, como redator do jornal O Combate, dos irmãos Machado. Sua vida profissional inicia na firma Travassos Irmãos. Desta, migrou para o setor público, como datilógrafo do gabinete do secretário de Fazenda do Estado. Neste órgão, pela dedicação e capacidade de trabalho, foi longe: chefe da seção da Contadoria, contador, diretor do Departamento de Serviço Público, diretor do Tesouro, secretário interino e depois titular da Fazenda e Produção, no governo Eugênio Barros. Também dirigiu a Companhia Maranhense de Abastecimento e Preços. Casou-se com Belinha Serra Vieira, com quem teve sete filhos. Faleceu em São Luís em janeiro de 1972.
ARTHUR ALMADA LIMA, pai de Nelson Almada Lima. Veio ao mundo em Caxias, onde fez o primário. No Rio de Janeiro, o curso de Humanidades e bacharelou-se em Direito. De volta ao Maranhão, em 1917, foi nomeado promotor de Picos, hoje Colinas. Transferido para Caxias, ocupou o mesmo cargo. Em 1933, é nomeado juiz de direito da comarca de Viana, aposentando-se em 1941, por divergências políticas com o interventor Paulo Ramos. Retorna a Caxias e trabalha como advogado. Em 1946, o novo interventor, Eleazar Campos, o designa juiz da comarca, sendo transferido para São Luis em 1957 para integrar o Tribunal Regional Eleitoral. Em 1963, por concurso, ingressa no magistério superior, na condição de professor de Direito Comercial da Faculdade de Direito. No ano seguinte é alçado ao cargo de desembargador e depois presidente do Tribunal de Justiça. Aposenta-se em 1967, após o que preside a Junta Comercial do Maranhão. A Caxias, sua terra natal, prestou relevantes serviços e contribuiu para dotá-la de instituições culturais e educacionais. Homem culto, correto e íntegro. Casou com Etelvina Brandão da Silva Lima, com quem teve dez filhos. Faleceu em 1975 e é patrono da Academia Caxiense de Letras.
JOAQUIM SALLES DE OLIVEIRA, pai de Joaquim Itapary Filho. Nasceu em São Luis a 18 de setembro de 1897 e filho do Barão e da Baronesa de Itapary. Cursou Direito e diplomou-se pela Faculdade de Recife, em 1922. De volta ao Maranhão, foi nomeado juiz e depois promotor. Pelas mãos do interventor Paulo Ramos, chegou à chefia de Polícia, em 1941. Na transição da ditadura para a democracia, a convite do interventor Saturnino Bello, integra o recém-criado Tribunal de Contas do Estado do Maranhão, do qual foi o primeiro presidente. Casado com Georgina Boabaid e com ela teve cinco filhos. Faleceu em São Luis, a 19 de julho de 1959.
ELIÉZER RODRIGUES MOREIRA, pai de Eliézer Moreira Filho. Nasceu em Santa Quitéria, a 22 de fevereiro de 1898. Estudou agronomia em Piracicaba, mas concluiu o curso na Escola Superior de Agronomia, no Rio de Janeiro. Formado, assumiu a diretoria do Aprendizado Agrícola Cristino Cruz, em São Luis. Em 1930, foi nomeado diretor do Serviço Experimental do Algodão do Piauí. Convidado por Juarez Távora, então ministro da Agricultura, organiza a Superintendência do Algodão do Estado do Maranhão. Ingressa na política e elege-se deputado à Câmara Federal pelo Partido Republicano, para o mandato de 1935 a 1939. Na condição de agrônomo e do quadro efetivo do Ministério da Agricultura, neste, exerce várias atividades e preside a Sociedade Nacional de Agronomia, instala e dirige a Colônia Agrícola de Barra do Corda, de 1942 a 1956. Foi um dos fundadores do Clube de Engenharia do Maranhão. Aposentou-se em 1956, mas não deixou de trabalhar e de prestar serviços a entidades privadas e públicas vinculadas ao setor agrícola do país, destacando-se o Conselho Nacional de Obras e Saneamento, Associação Rural Brasileira, Associação Brasileira de Agronomia, Confederação Nacional da Agricultura. Casou-se com a cearense, Eudes Hohmann Albuquerque Moreira, com a qual teve um casal de filhos. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1972.
NICOLAU DINO DE CASTRO E COSTA, pai de Sálvio Dino. Nasceu no Estado do Amazonas, em 16 de maio de 1900. Estudou em Belém, onde se diplomou bacharel em Direito, em dezembro de 1920. Na capital do Pará, teve forte militância na imprensa, como redator do jornal Folha do Norte.
De muda para São Luis foi nomeado promotor público e depois juiz da comarca de Grajaú, onde pontifica de 1926 a 1943. Em 1948, chega ao juizado da Capital. Dois anos depois é nomeado desembargador do Tribunal de Justiça, empossado em junho de 1950. No Poder Judiciário foi corregedor, vice-presidente e presidente. Também atuou como membro e dirigente do Tribunal Regional Eleitoral. Fez parte do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Autor de livros importantes, destacando-se O Visconde Vieira da Silva, Magistrados Poetas e da Inseminação Artificial Humana. Casado com Maria José de Castro e Costa, com quem teve três filhos. Seu falecimento ocorre em São Luis em 1976.