FESTAS JUNINAS E FESTAS CARNAVALESCAS
Vivemos os dias finais das festas juninas de 2015. Neste ano, mantive-me em casa e não compareci a nenhum arraial da cidade. Pelo que me disseram, animação e povo faltaram nos arraiais. Muita gente não saiu de casa, por conta da insegurança reinante na cidade e da ausência de uma programação igual ou parecida com as dos anos passados, quando São Luis virava um grande e festivo arraial.
No momento em que as festas juninas se despedem do público e as carnavalescas começam a ser pensadas e projetadas, com vistas à execução em 2016, uma avaliação ajudaria a ver em que pontos elas convergem ou divergem como manifestações populares.
Não é preciso grande esforço intelectual para inferir que em um quesito elas se parecem e convergem: na repercussão da alegria e da descontração; em outros quesitos, como organização, ritual, coreografia, dança e musicalidade, nada se assemelham e só divergem.
Numa viagem no tempo, para se observe a origem e o histórico de cada uma, é possível encontrar respostas à questão acima levantada. Que se comece pelas festas juninas que têm marcado presença na vida do povo maranhense desde os tempos coloniais. Realizadas em homenagem a São João, São Pedro e São Marçal, começaram no século XVII, invadiram o século XVIII, ganharam força no século XIX e chegaram à metade do século XX, com a singularidade de não serem eventos urbanos.
Com o advento do processo de urbanização, as brincadeiras juninas não perderam a essência do meio rural. Ao virem para a cidade, os brincantes, que trocaram a agricultura de subsistência pelo trabalho remunerado, encontraram guarida na zona suburbana.
Nos espaços rurais ou na periferia, as festas em homenagem aos santos joaninos passaram a ser identificadas como produtos da pobreza social, razão pela qual a elite pensante da época dava aos brincantes tratamentos discriminatórios, por considerá-los atrasados, consumidores de bebidas alcoólicas e devotados à prática de arruaças.
Não por acaso as autoridades policiais do Maranhão, naqueles idos, proibiam os brincantes de bumba boi a ultrapassar o Canto da Fabril. Assim, as balbúrdias, brigas e confusões não chegavam ao centro da cidade e nem perturbavam o sossego noturno da elite.
Mas se durante séculos foram discriminadas e confinadas, a partir da segunda metade dos anos 1960, tiraram a sorte grande, graças à iniciativa do então governador José Sarney, que trouxe o bumba boi e outras manifestações folclóricas para se apresentarem no Palácio dos Leões, onde foram aplaudidas pelas autoridades e pelos convidados.
Por um passe de mágica e de repente, as manifestações juninas perderam a rubrica de rurais e de suburbanas. Introduzidas no meio urbano, tornaram-se majestosas, deslumbrantes, sendo, ademais, bem recebidas por uma sociedade que vivia novos tempos e pensava diferente daquela que via os brincantes de bumba bois como párias e marginais.
Essa mudança de olhar da sociedade, fez com que a praça principal do bairro do João Paulo, que ao longo dos anos tornara-se o palco das apresentações dos bumbas bois, perdesse a finalidade e a função de atrair os moradores do centro urbano.
Como sinal da nova era, o Centro Histórico de São Luis e a Madre de Deus passaram a substituir a praça do bairro do João Paulo como palcos de apresentações e exibições das brincadeiras juninas, que se renovaram e se adaptaram às imposições da modernidade.
No tocante às festas carnavalescas, quanto à origem, estão a largos passos das juninas. Se estas, como vimos, vicejaram no meio rural e nas zonas suburbanas, aquelas podem ser consideradas como produtos urbanos.
Os jornais dos tempos idos e vividos, em abundância, registram os avisos a respeito dos bailes e eventos carnavalescos, todos praticamente no centro da cidade e freqüentados, em sua grande parte, por gente refinada. Não se encontra notícia da existência de clubes, blocos e outras brincadeiras carnavalescas s fora da área central de São Luis. Aos foliões suburbanos, os avisos das ruas e praças nas quais o corso, as batucadas, os blocos e as modestas escolas de samba, sem a preocupação de se apresentarem em passarelas ou coisas que tais, se exibiriam.
Os bailes realizavam-se em casas particulares, onde pontificavam os “assaltos”, ou em clubes nos quais só os associados e convidados tinham acesso. Os últimos clubes que marcaram a vida de São Luis foram o Grêmio Lítero Recreativo Português e o Cassino Maranhense, ambos no centro da cidade. O Clube Jaguarema surge mais tarde, instalado no bairro do Anil, mas com o corpo de associados assentado na elite e na classe média alta citadina. O Grêmio Lítero Português também imitou o Jaguarema. Construída a sede esportiva, mudou-se para o bairro Anil, mas os associados pertenciam aos estratos sociais mais altos.
Fora do centro urbano, só o Grêmio dos Sargentos e Cabos do Exército, localizado na vizinhança do 24º Batalhão de Caçadores, no bairro do João Paulo. Como associados, além de militares, os dotados de boa posição social.
Os bailes de segunda ou de máscaras, assim apelidados, só abriam as portas na fase carnavalesca, mas tinham o centro da cidade como palco. O acesso a eles, tidos como populares, não era fácil, face ao valor proibitivo dos ingressos. As maiores atrações das festas eram as mulheres que se apresentavam com máscaras negras a cobrir-lhes os rostos. Só dessa forma podiam chegar aos bailes, realizados ao som de orquestras contratadas no interior do Estado. As mascaradas pertenciam, em sua maior quantidade, às classes sociais menos favorecidas e recrutadas nos bairros da cidade.
Em 1965, com a posse do prefeito eleito de São Luis, Epitácio Cafeteira, os bailes de máscaras foram desativados, sob a acusação de serem focos da prostituição. Sem eles, o carnaval de São Luis, que já apresentava sinais de decadência, eclipsou-se.