O QUASE GOVERNADOR MÁRIO MEIRELES

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A Academia Maranhense de Letras decidiu que 2015 será o Ano Cultural Mário Meireles, por conta do centenário de nascimento do emérito professor e historiador maranhense, nascido em São Luis a 8 de março de 1915.

Orgulho-me de ter privado da sua preciosa amizade, que nasceu antes mesmo de tê-lo como confrade na Casa de Antônio Lobo. O conheci quando recebeu convite do governador Pedro Neiva de Santana para chefiar a Casa Civil do Governo do Estado, em substituição a Magno Bacelar, remanejado para a secretaria de Educação.

Nessa época, eu estava lotado na secretaria de Planejamento, que ficou no lugar da Sudema-Superintendência de Desenvolvimento do Maranhão, instalada no governo José Sarney, alvo de severas críticas do governador Pedro Neiva e dos políticos, que não a viam com bons olhos.

Além das minhas modestas atividades na Seplan,  dirigida por José Reinaldo Tavares, militava de modo atuante e vigoroso na imprensa maranhense, como titular da coluna política Roda Viva, então, a mais lida e bem informada da cidade, publicada diariamente em O Imparcial.

Por dever de ofício, diariamente freqüentava o gabinete do professor Mário Meireles, contíguo ao do governador Pedro Neiva. Pela Casa Civil transitavam políticos, auxiliares do governo, empresários e os que marcavam audiência com o chefe do Poder Executivo.

Era naquele ambiente oficial que, como jornalista confiável e o aval do governador, eu tomava conhecimento das notícias, dos atos e fatos girados em torno do poder, sempre antes do assessor de imprensa do governo, o jornalista Edson Vidigal, que não se conformava com isso e me via de modo atravessado.

Assim, me aproximei e fiz amizade com o professor Mário Meireles, que, no exercício do cargo de chefe da Casa Civil, não tratava de assuntos da política maranhense, mas exclusivamente dos afazeres administrativos e da rotina burocrática do governo estadual. Pela sua postura retilínea e leal, nunca percebi de ele querer suceder ao professor e amigo dileto, Pedro Neiva de Santana, no cargo de governador.

Se havia no Palácio dos Leões alguém que não dava palpite e nem manifestava a mínima opinião a respeito da sucessão estadual e da eleição, realizada pelo processo indireto, essa pessoa era Mário Meireles. Sobre o assunto, fazia questão de dizer, em alto e bom som, que só o chefe do Executivo competia falar e articular.

Mesmo sabendo que ele assim atuava no governo, enorme foi a minha surpresa ao tomar conhecimento de um fato ocorrido em pleno processo sucessório de José Sarney, no qual Mário Meireles, à sua revelia e sem querer, por pouco não governou o Maranhão no mandato de março de 1971 a março de 1975.

Onde, como e quando eu soube disso? Respondo: aqui mesmo em São Luis, lendo o livro “Memória de Professores”, da autoria da professora Regina Faria, publicado em 2005, com a qual colaborei na preparação dos verbetes.

Como estou a recolher materiais e documentos sobre o professor Mário Meireles, para as comemorações de seu centenário de nascimento, pela Academia Maranhense de Letras, encontrei no livro acima citado um comentário de sua lavra, que me deixou espantado e só dei crédito por ser produto de seu próprio punho.

No texto do saudoso mestre a inesperada revelação de sua indicação a candidato à sucessão de José Sarney, registrada na página 448 do livro de Regina Faria. Ele, pois, com a palavra: “Um belo dia eu estava em casa, eram umas onze horas da noite, quando tocaram a capainha. Desci, estava lá um pequeno grupo de oficiais do 24º BC. Eu disse a Maria: – Pronto, estou preso! Mandei-os entrar e indaguei: – Então, o que é que há? Responderam: – Bem, viemos aqui avisá-lo de que o 24º BC recebeu ordem para indicar um candidato a governador do Estado, e nós lhe escolhemos. Exclamei: Vocês estão malucos e não aceito porque não gosto de política”.

Após receber aquele convite militar, Mário Meireles conservou-se em longo e profundo silêncio e só se tranqüilizou ao saber que Pedro Neiva, dias depois, fora o escolhido para substituir José Sarney no governo do Estado.

Outra revelação também surpreendente e que me deixou impactado. Encontra-se na página 442, do mesmo livro, a respeito do então arcebispo do Maranhão, Dom José Delgado.

Disse o prelado que Dom José Delgado era um homem trabalhador, mas, também, muito prepotente. Os católicos o seguiam; mas outros, não. Por isso, não teve o reconhecimento do seu esforço quanto à criação da universidade, que não conseguiu mantê-la.

Nesse ponto, acho que o meu saudoso confrade não foi feliz. Não discuto se Dom Delgado era prepotente ou não. Mas, no que diz respeito à iniciativa de instalar em São Luis uma universidade, que começaria com o rotulo de católica, a sua firme determinação é reconhecida até hoje pela sociedade maranhense.

Não à toa a Universidade Federal do Maranhão e a Academia Maranhense de Letras, este ano, vão realizar uma solenidade especial, na qual lhe será conferido a Dom Delgado in memorian o certificado de Doutor Honoris Causa.

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