Faço parte de duas importantes instituições culturais do Maranhão: a Academia Maranhense de Letras e a Fundação da Memória Republicana do Brasil. Da primeira, sou membro efetivo e atual presidente; da segunda, estou na presidência de seu Conselho Curador.
Por conta disso e por interesse pessoal e cultural, guardava comigo uma vontade de indômita de visitar e conhecer a Academia Paulista de Letras e a Fundação Fernando Henrique Cardoso, instituições respeitadas e instaladas na cidade de São Paulo.
Recentemente, eu e Solange passamos duas semanas na capital de São Paulo, onde prestamos assistência moral, psicológica e física ao meu irmão Raimundo, um solteirão assumido, que se submeteu a uma delicada cirurgia de coluna, que o atormentava há anos.
Depois do ato cirúrgico, realizado com sucesso pelo ortopedista maranhense, Franklin Roosevelt Coelho, enquanto Raimundo se recuperava no Hospital Oswaldo Cruz, eu, sem perda de tempo, visitei a Academia Paulista de Letras e a Fundação Fernando Henrique Cardoso.
Por causa da minha identificação, fui recebido por abnegadas funcionárias da APL e da FFHC, que se mostraram generosas na dissertação dos espaços ocupados pelas entidades, dos equipamentos e acervos, bem como do funcionamento e dos objetivos para as quais foram criadas.
Na Academia Paulista de Letras, foram tantas e preciosas as informações, especialmente com relação ao seu rico patrimônio físico, de onde provém a sustentação financeira da instituição, que quase choro ao pensar na situação em que vive a Academia Maranhense de Letras e do que dispõe como meio de sobrevivência.
A instituição paulista funciona num edifício de 13 andares de sua propriedade, no Largo do Arouche, centro da cidade, mas apenas três pavimentos são por ela ocupados. Os dez restantes são alugados para a Secretaria de Educação e com essa renda – em torno de R$ 80.000,00 mensais, pagos religiosamente pelo governo de São Paulo, a APL se mantém e realiza variadas atividades acadêmicas, literárias e editoriais. Parte desse dinheiro se destina, também, ao pagamento de um representativo, jeton aos “imortais”.
A Academia Paulista de Letras foi fundada em novembro de 1909, portanto, um ano antes da AML. Hoje, tem a presidi-la o escritor Gabriel Chalita, secretário de Educação do Município de São Paulo. Como a nossa, ela reúne-se ordinariamente às quintas-feiras, mas as sessões não podem ser assistidas pelo público. São internas e fechadas. O seu quadro de funcionários é formado por quase vinte servidores.
Assim como nós, da AML, os paulistas também não bebem chá em suas reuniões e nem usam fardões, como os membros da Academia Brasileira de Letras. O terno e a gravata são as indumentárias acadêmicas.
Dois ambientes amplos e confortáveis fazem parte do imóvel: um, para as reuniões triviais, que me fez lembrar o antigo plenário da Assembleia Legislativa, na Rua do Egito; o outro, suntuoso e nobre, destinado às sessões extraordinárias e de posse dos novos membros. Neste auditório, podem sentar-se quase 500 convidados. A biblioteca ocupa um lugar de destaque e recebe assistência especial e técnica permanente. O seu acervo estima-se em torno de 100 mil volumes, dos quais boa parte constitui-se de obras raras.
Pelo expressivo número de nomes prestigiados e conceituados na vida literária brasileira que a integram, a Academia Paulista de Letras não fica nada a dever à Academia Brasileira de Letras. Vejamos alguns: Ruth Rocha, Jorge Caldeira, Walcyr Carrasco, Inácio de Loyola Brandão, Celso Láfer, Maurício de Sousa, Ives Gandra, Fábio Lucas, Inesita Barroso, recentemente falecida, Juca de Oliveira, Bolivar Lamounier, Júlio Medalha e tantos outros.
Um único maranhense faz parte da galeria de vultos da Academia Paulista de Letras: o caxiense Teófilo Dias, patrono da cadeira de número 33.
Depois da visita à APL, no mesmo dia e em outro horário, fui recebido na Fundação Fernando Henrique Cardoso, onde um técnico, devidamente autorizado pela instituição, esperava-me para servir de guia.
A FFHC também está instalada no centro da cidade paulista, na Rua Formosa, 367, em pleno Anhangabaú, onde ocupa três pavimentos de um prédio antigo, mas recuperado e adaptado às condições funcionais e técnicas exigidas pela instituição, que o adquiriu para abrigar toda a documentação e acervos políticos e acadêmicos do ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e da esposa, Ruth Cardoso, intelectual como ele e figura bem representativa no mundo cultural paulista.
Assim como a Fundação da Memória Republicana Brasileira, cujo acervo José Sarney doou ao Estado do Maranhão e que, até agora, não se sabe ainda o destino que o novo governo lhe dará, a Fundação Fernando Henrique Cardoso não guarda apenas a documentação institucional da época em o que o seu fundador exerceu a presidência da República. Ali, também estão armazenados textos, cartas, livros, anotações, fotos, objetos por ele acumulados ao longo da vida, como intelectual, professor, acadêmico, bem como senador e ministro.
No tocante ao acervo museológico, o da Fundação da Memória Republicana é mais rico e dispõe de mais peças valiosas do que o da Fundação Fernando Henrique Cardoso, em compensação, esta, encontra-se mais avançada em termos tecnológicos e virtuais do que a nossa.
Pelo que vi, a equipe técnica da FFHC é bem mais expressiva, em qualidade e quantidade, do que a da FMRB. Enquanto a da paulista é multidisciplinar, a maranhense ainda carece de valores específicos e treinados para a tarefa de preservar e recuperar um precioso acervo, que, pelo que representa para a memória do país, precisa ser virtualmente conhecido e projetado mundo afora.