CULTO À PERSONALIDADE

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O culto à personalidade é uma estratégia de propaganda política baseada na exaltação das virtudes – reais e supostas – do governante.

Essa forma de propaganda política foi particularmente desenvolvida pelos regimes totalitários contemporâneos, principalmente quando o nazismo, o fascismo e o comunismo ascenderam ao poder na Alemanha, na Itália e na Rússia.

No Brasil, a partir da década de 30, com a instalação da ditadura de Getúlio Vargas, o culto à personalidade do governante veio à tona com toda força.

Com a imprensa completamente sufocada e a censura imposta de forma intolerável, Getúlio usou esse mecanismo para manter-se no poder, conquistar o apoio da massa e difundir os seus predicados pessoais e políticos.

Uma forma que o DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda encontrou para divulgar nacionalmente a imagem do ditador foi fixar obrigatoriamente o seu retrato nas repartições públicas e entidades privadas.

A fotografia de Getúlio usada de maneira despudorada nos quatro do país levou os caricaturistas da época a se esmerarem na arte de reproduzir a figura do ditador como pai dos pobres e de salvador da pátria.

Nos carnavais dos anos 1940, os compositores também se inspiravam no retrato de Vargas para fazer músicas de grande sucesso popular. O compositor Haroldo Lobo, por exemplo, teve uma produção musical de sua autoria muita cantada, que começava assim: “Bota o retrato do velho, bota no mesmo lugar, o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar”.

No Maranhão, o representante da ditadura varguista, o interventor Paulo Ramos, soube como poucos usar o culto à personalidade. De 1937, quando assumiu o poder, no advento do Estado Novo, até renunciar ao cargo em 1945, impôs à sociedade a colocação de seu retrato em salas de aula, hospitais, casas de saúde, delegacias de polícia, bares, restaurantes, estabelecimentos comerciais e industriais, e, pasmem, em pensões da zona do meretrício.

Além dessa exigência, Paulo Ramos ainda obrigava a realização de solenidades, com banda de música e discursos laudatórios, no ato de aposição de quadros em que a sua carranca reluzia em toda a plenitude.

Um episódio ocorrido em São Luis, na fase da transição da ditadura para a democracia, revela o quanto de abuso o interventor Paulo Ramos cometeu em matéria de culto à personalidade. Numa solenidade no Palácio dos Leões, na presença do novo interventor Clodomir Cardoso, o valoroso capitão do Exército, Alexandre Colares Moreira, retirou da parede o retrato de Paulo Ramos e rasgou-o até ficar em picadinhos.

Malgrado o fim do regime ditatorial de Vargas, o culto à personalidade não desapareceu da cena brasileira e maranhense. Presidentes da República e governadores de Estado continuaram em plena democracia a praticar essa extravagante estratégia de propaganda pessoal.

Sebastião Archer, Eugênio Barros, Matos Carvalho, Newton Bello, José Sarney, Antônio Dino, Pedro Neiva, Nunes Freire, João Castelo, Ivar Saldanha, Luiz Rocha, Epitácio Cafeteira, João Alberto, Edson Lobão, Ribamar Fiquene, Roseana Sarney, José Reinaldo Tavares e Jackson Lago, alguns mais, outros menos, mantiveram tão abominável herança, nos legada pelo autoritarismo getulista.

Os cofres públicos gastam uma fábula de dinheiro na preparação de molduras com fotografias de governantes.  São milhares de retratos em policromia, que as assessorias dos governantes distribuem no começo de cada mandato, mas, no final do governo, são expurgados e atirados no lixo da história.

O único governador que teve a preocupação de não deixar que as suas fotografias virassem cinzas foi Ivar Saldanha. Dias antes de passar o cargo a Luiz Rocha, mandou que o seu fiel escudeiro, Janjão Vaz dos Santos, retirasse das repartições públicas os seus retratos e os transportasse para a sua cidade natal- Rosário, onde fez uma solenidade pública para entregá-los aos conterrâneos e correligionários políticos.

Não se sabe ainda se o governador Flávio Dino, tal como seus antecessores, posará para a foto oficial, com a finalidade de fixá-la nos órgãos da administração direta e indireta.

A esse respeito, a opinião pública está dividida. Alguns acham que ele cumprirá sem maiores problemas o ritual da fotografia. Outros, porém, pensam o contrário. Poderá insurgir-se contra essa prática, por entender que remonta e teve origem na ditadura.

O governador que já proclamou a República no Maranhão e instalou o capitalismo em nosso território, quem sabe, poderia oferecer ao povo maranhense mais um ato de bravura cívica, ou seja, acabar com essa nefanda tradição do culto à personalidade dos governantes, muito dos quais, ao término dos mandatos, deveriam ser esquecidos e não lembrados ou reverenciados.

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