EU E O VITORINISMO

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Certa feita, numa conversa com o jornalista Edson Vidigal, no correr da qual o assunto era a política maranhense, concluímos que havia chegado o momento de se fazer um estudo sobre o vitorinismo, sistema político-administrativo que dominou o Maranhão de 1945 a 1965, que teve no senador Vitorino Freire a sua figura de realce.

Na verdade, ainda que Vitorino Freire e o vitorinismo já tenham desaparecidos da cena política maranhense, mas continuam sendo discutidos por uma ótica marcada pelo emocional e pelo radicalismo.

Tais sentimentos inibiram analisar, Vitorino e o sistema criado por ele, como partes de um processo inerente a uma fase histórica, em que o mandonismo, como prática política, vicejava no Nordeste, que pelo fato de ser uma região atrasada social e economicamente, encarregava-se de produzir o coronelismo.

O mandonismo e coronelismo, como lados de uma só moeda, deveriam ter sido extirpados do cenário brasileiro pela famosa Revolução de 30, contudo, não o foi. Ao contrário, continuou em toda a plenitude, chegando mesmo a consolidar-se. Nem mesmo a redemocratização do país, eclodida em 1945, conseguiu erradicá-los, pois a estrutura que os sustentava permaneceu inalterada até os albores da década de 60, quando o Brasil enveredou no caminho da industrialização.

Foi, portanto, em plena fase do mandonismo e do coronelismo que Vitorino Freire aportou no Maranhão. Aqui chegou, no começo dos anos 1930, a convite do interventor Martins de Almeida, para exercer o cargo de secretário-geral do governo e organizar a vida partidária do estado.

A partir daí, junto a outros políticos de seu tempo, construiu as pilastras do sistema através do qual conquistou e exerceu o poder, mantendo-se nele por duas décadas.

Ao longo desse tempo, o vitorinismo tornou-se hegemônico no Maranhão, transformando Vitorino, pela sua argúcia e competência, numa figura emblemática, para a qual convergiam sentimentos antípodas.

Os que o tinham como líder e chefe – mais chefe do que líder- não economizavam palavras para exaltá-lo quanto aos métodos usados para chegar ao poder. Já, os que não rezavam na sua cartilha e tão pouco concordavam com o seu modo de agir, não o perdoavam e nem o poupavam das pesadas e impiedosas censuras.

Despertando, cumulativamente, admiração e ódio, Vitorino, por um lado, era duramente criticado e denunciado pelo atraso e malefícios causados ao Maranhão; de outro, porém, foi apontado e venerado como responsável pelos recursos que o governo federal mandava ao estado e destinados à construção de obras e empreendimentos públicos.

Por conta desse maniqueísmo, não foi possível uma avaliação acurada e isenta sobre o jogo político desencadeado no Maranhão, na fase em que o vitorinismo aqui se instalou.

Só no fim dessa dura e encarniçada luta entre vitorinistas e anti-vitorinistas, nos meados dos anos 60, com a vitória de Sarney nas urnas, é que começaram a surgir as condições propícias para um juízo de valor sobre ele e os atores políticos que o acompanharam e participaram de um processo histórico, que para chegarem ao poder ora usavam instrumentos legais e legítimos, ora utilizavam mecanismos sub-reptícios ou antijurídicos, sem a intenção de proveitos pecuniários e vantagens pessoais, mas do usufruto de prestígio e de regalias políticas.

Dou-me por feliz e satisfeito de ser o pioneiro nessa empreitada de trazer a lume um dos períodos mais importantes da política maranhense, período esse já ultrapassado pela nova realidade que passou a viver o Brasil, quando as suas estruturas econômicas e sociais passaram a ser removidas pelo processo de desenvolvimento, que levou de roldão uma prática política baseada no mandonismo e no coronelismo.

Para escrever o livro “O Vitorinismo”, lançado em 1997 e agora reeditado pelo Instituto Geia, com novo formato, vali-me dos jornais armazenados na Biblioteca Pública Benedito Leite, que foram proveitosos e indispensáveis, bem com das entrevistas com os atores políticos, que tiveram atuação, uns de modo tímido, outros de maneira audaciosa, naqueles anos em que a política era movida apenas pelo prazer da paixão, ao contrário, de hoje, em que o vício da corrupção preside as relações entre o poder e a sociedade.

O meu trabalho convém alertar, principalmente aos que gostam de fazer apreciações afoitas e precipitadas, não foi feito com objetivos acadêmicos e visando prêmios. Por não ser cientista político, sociólogo ou coisa semelhante, preocupei-me pura e simplesmente, como homem de imprensa, realizar uma obra jornalística destinada especialmente às novas gerações, hoje interessadas em tomar conhecimento do que ocorreu no Maranhão numa fase em que o embate pelo poder político era renhido, mas não indigno e pernicioso como nos dias correntes.

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