Na condição de membro da Academia Maranhense de Letras e confrade de José Chagas, não pude despedir-me do grande poeta quando de seu falecimento, a 13 de maio deste ano.
Estava bordo de uma aeronave da TAM, que decolaria para São Paulo, quando o celular toca. Era a sobrinha de Chagas, Deusana, que me informava sobre o triste falecimento do tio, vitimado por um Acidente Vascular Cerebral, no Hospital UDI, após vinte dias internado naquele estabelecimento.
Antes de o avião decolar, comuniquei, por telefone, a Jomar Moraes o que acabara de acontecer e pedi a ele, dado a minha impossibilidade de interromper o compromisso agendado em São Paulo, que informasse aos confrades aquela terrível notícia e realizasse os procedimentos que nós, da Academia, assumimos quando morre um confrade de levar o corpo para a sede da instituição, para ser velado e receber as merecidas homenagens póstumas, desde que a família consinta.
Lamentei muito não estar presente no velório e no enterro de Chagas, que conheci e me tornei amigo no final dos anos 1960, quando comecei a trabalhar no Jornal do Dia, que o empresário Alberto Aboud acabara de vender para um grupo político.
Chagas, à época, era figura de primeira grandeza do jornal, em cuja página principal deliciava os leitores com primorosas e diárias crônicas, versadas principalmente sobre São Luis, onde não nascera, mas a ela, desde que aqui chegara, dedicava grande carinho e especial devoção, pelo que representava como um centro produtor e irradiador de cultura.
Aquelas fantásticas crônicas, que eu as lia da primeira à última letra e com uma sofreguidão incomum, fazia questão de com ele comentá-las e de citar as frases nelas contidas, algumas sarcásticas, outras floreadas de ternura.
Naqueles tempos do Jornal do Dia, ele e eu dedicávamos grande amizade a uma extraordinária figura humana e política do Maranhão – o deputado Henrique de La Rocque Almeida, que, em sua ampla e confortável residência, à Rua dos Afogados, gostava fidalgamente de receber os jornalistas de São Luis para homenageá-los e colocar a conversa em dia.
Numa daquelas recepções, surgiu a ideia de Chagas, já desfrutando de relevante conceito e respeito na cidade, candidatar-se à Câmara Municipal de São Luis. A princípio o poeta resistiu, mas a insistência e o apoio do anfitrião fizeram-no recuar e a disputar o pleito de 1966, sendo eleito vereador pela Arena, com grande votação.
Em outro momento da minha vida, tive a ventura de conviver fraternalmente com José Chagas. Corria o ano de 1990, eis que recebo convite do então presidente da Academia Maranhense de Letras, Jomar Moraes, para candidatar-me à vaga do meu saudoso professor Fernando do Reis Perdidão, catedrático da Faculdade de Direito.
Como nunca havia pensado em tão ousado projeto, tentei esquivar-me, mas Jomar e o poeta convenceram-me a entrar para a Casa de Antônio Lobo.
Naquele sodalício, conheci o outro lado marcante do poeta e cronista de São Luis. Ele não parecia aquele homem que, também, resistiu ingressar na Academia Maranhense de Letras. Surpreendeu-me pela maneira como gostava de participar das sessões acadêmicas e de discutir com entusiasmo os assuntos em pauta.
Era dos primeiros a chegar e dos últimos a sair às reuniões das quintas-feiras na AML. Solidário com os confrades e sempre disposto a colaborar, pontificava e atuava como acadêmico dedicado e pronto a lutar para a instituição honrar as tradições de cultura do povo maranhense.
A partir de 2010, o poeta começa a sentir o peso da idade e das doenças que o afligiam. Algumas vezes, as crises que o atormentavam eram tão graves que só o internamento hospitalar atenuaria o seu sofrimento. Numa das ocasiões, pensei que ele não suportaria a crise. Sem pestanejar, busquei a ajuda do senador José Sarney, seu amigo dileto e admirador, que imediatamente entrou em ação e resolveu a situação, internando-o no Hospital Carlos Macieira.
Quando ele deixou, por problemas de saúde, de freqüentar a Academia, as sessões deixaram de contar com a sua contribuição, sob todos os pontos de vista, valiosa e produtiva. Levamos um bom tempo para nos acostumar sem a sua presença e suas participações, sempre em prol do desenvolvimento da cultura e das letras maranhense, das quais era a figura emblemática e fulgurante.
Durante a minha gestão na presidência da Casa de Antônio Lobo, o seu aniversário sempre foi comemorado. Sem que ele soubesse, ao amanhecer do dia, entrávamos em sua casa com um especial café da manhã para compartilhar com ele da alegria pela data e de tê-lo como amigo, confrade e um intelectual renomado e brilhante, que só não foi um poeta de invejável projeção nacional, porque nunca quis sair de São Luis, terra que abraçou com acendrado amor e veneração.