O COMEÇO E O FIM DA CEPALMA
A última vez que vi Raimundo Bacelar foi a 20 de agosto de 2010, quando em São Luis lançou o livro de sua autoria,“Duque Bacelar Um Predestinado”, no qual relata a trajetória de sua família na área empresarial e política.
Essa trajetória teve no inquebrantável e destemido Raimundo de Melo Bacelar, conhecido como Duque, o começo de tudo. Foi ele que iniciou a construção de um império no povoado Curralinho, depois transformado no município de Coelho Neto, na região do Baixo Parnaíba.
Duque Bacelar, assassinado no dia 22 de junho de 1954, aos 56 anos, legou aos filhos um patrimônio econômico dos mais pujantes do Maranhão. Raimundo Emerson, o terceiro filho, foi continuador da luta do pai, assumindo o comando da família, ampliando os negócios empresariais e mantendo a liderança política herdada do genitor.
No livro, Raimundo conta como ele e os irmãos mais novos encontraram forças para incrementar e diversificar as atividades privadas do grupo Bacelar, destacando-se a Cepalma, empreendimento agro-industrial de grande vulto econômico do Nordeste.
A Celulose e Papéis do Maranhão S.A. – Cepalma foi inaugurada a 20 de janeiro de 1973. Gente de todas as partes do país participou da inauguração do notável projeto, destacando-se o ministro do Interior, Costa Cavalcanti, governador Pedro Neiva, senador José Sarney, presidente do Banco do Brasil, Nestor Jost, superintendente da Sudene, Evandro Sousa Lima, além de renomados empresários, conceituados jornalistas e convidados especiais, que marcaram presença em Coelho Neto viajando a bordo de jatinhos e de aviões tipo DC3, especialmente fretados.
No ato de inauguração, Raimundo Bacelar deu aos convidados informações preciosas sobre a Cepalma, ressaltando que fora constituída em 14 de julho de 1967 e o projeto aprovado pela Sudene em 25 de setembro de 1968. Pelo cronograma da fábrica, a produção inicial seria de 120 toneladas de celulose/dia e entre 50 e 60 toneladas de papel, 38 a 40 toneladas de embalagens corrugadas e 10 a 12 toneladas de sacos multifoliados. Bagaço de cana, babaçu, madeiras subtropicais, eucalipto e bambu seriam usados como matéria-prima. O capital autorizado era de Cr$ 100 milhões, sendo 60 milhões de incentivos fiscais. Além desses incentivos financeiros, a Sudene ainda proporcionava isenção total do Imposto de Renda por dez anos, contados a partir do início da produção. A construção dos edifícios da usina e dos produtos acabados, numa área de 30 mil metros quadrados, foi executada pelas empresas Soares Leone e Lourival Parente. Para as necessidades de energia elétrica, a Cohebe construiu em torno de 12.000 kwh, além dos 12.038 gerados pelo sistema termoelétrico da própria empresa. Toda a água era captada no Rio Parnaíba, armazenada em cinco reservatórios.
No que diz respeito à infra-estrutura, a empresa construiu 82 quilômetros de estradas, ligando Coelho Neto a Caxias, escolas, hospital, conjunto residencial e hotel.
Quando da inauguração da Cepalma, eu militava na imprensa diária de São Luis. Por conta disso fui convidado a ver o início do funcionamento da fábrica, instalada com equipamentos modernos e importados da Alemanha, que tinha tudo para dar certo e ser uma alavanca no processo de desenvolvimento do Maranhão.
Um ano depois, contudo, ninguém acreditava no que estava ocorrendo em Coelho Neto. A empresa dava os primeiros passos no sentido de sua desintegração e posterior desativação.
As mais desencontradas versões vieram à tona, aqui e alhures, sobre a paralisação das atividades da Cepalma. Eu, por exemplo, só após o lançamento do livro de Raimundo Bacelar, que narra, corajosamente e sem rodeios, as causas que levaram aquele empreendimento agro-industrial ao precoce desaparecimento, pude fazer um juízo verdadeiro dos fatos que durante anos ficaram guardados na memória dos herdeiros de Duque Bacelar.
A história da derrocada da Cepalma, segundo Raimundo, é longa e penosa. Resumidamente, tudo começou quando a empresa sentiu a necessidade de capital de giro para fazer face ao seu processo produtivo. Como à época, o BNDES não existia, a solução foi recorrer ao Banco do Brasil, que para conceder o financiamento desejado pela empresa, exigiu uma série de procedimentos, dentre os quais a nomeação de um funcionário da instituição bancária para dirigir a fábrica, e com todas as ações do grupo Bacelar caucionadas e hipotecadas.
Ao ceder às exigências do Banco do Brasil, a Cepalma assinou a própria ruína e a viver a sua via crucis. Para sair da crise, os Bacelar tentaram negociá-la com empresas nacionais e internacionais, mas tais negociações nunca chegaram a bom termo, por força das dificuldades impostas pelo BB e pelo Ministério da Fazenda, que passou a fazer reiteradas devassas no patrimônio dos filhos de Duque Bacelar, que, para se sustentarem, obrigaram-se a desfazer dos bens particulares.
Quem os livrou de passar por maiores dificuldades financeiras foi o advogado Kleber Moreira, que Raimundo fez questão de afirmar com todas as letras da gratidão, que tomou para si a responsabilidade de defendê-los em todas as instâncias da Justiça, sem cobrar honorários.