Na crônica de Joaquim Itapary, publicada em O Estado do Maranhão (9-10-2014),intitulada “Eleições: um passo à frente ou atrás”, o confrade da Academia Maranhense de Letras, como sempre brilhante, diz que “As campanhas e as eleições de Flávio Dino, hoje, e de José Sarney, em 1965, embora ocorridas em tempo histórico tão diverso, guardam notáveis semelhanças entre seus principais aspectos sociológicos, políticos e ideológicos, bem como no conteúdo das respectivas mensagens de mudança”.
Itapary está cheio de razão quando compara as campanhas de José Sarney e de Flávio Dino. Em apoio ao seu ponto de vista, consigo observar, mutatis mutandis, certa analogia em quatro pontos levantados pelos dois candidatos, respectivamente, em 1965 e 2014, no afã de empolgarem o eleitorado e ganharem as eleições. Vejamos.
- O lançamento das candidaturas. José Sarney e Flávio Dino começaram as campanhas políticas, para se elegerem ao cargo de governador, bem antes do tempo previsto no calendário eleitoral. Sarney, para chegar ao poder em 1966, botou o bloco na rua após eleger-se em 1962 a deputado federal, pela UDN, com uma votação esmagadora, que o credenciou ser o candidato das Oposições Coligadas. Em 1963, portanto, dois anos do pleito de 1965, já estava com a sua candidatura registrada no Tribunal Regional Eleitoral, pelo Partido Republicano, e percorrendo o interior do estado, onde o seu nome impôs-se como alternativa à velha e dominante estrutura do PSD.
Flávio Dino iniciou, também, a sua campanha rumo ao Palácio dos Leões com bastante antecedência. Em 2010, ele enfrentou Roseana Sarney nas eleições de governador. Não ganhou, mas deixou o seu nome plantado em todas as regiões do estado. No exercício do cargo de presidente da Embratur não abandonou o projeto de governador, daí a sua presença permanente no Maranhão, onde manteve a sua candidatura em ação, polarizando as atenções da opinião pública e na expectativa de ser o candidato com chances de derrotar, em 2014, o grupo governista.
- O alvo das campanhas. Destruir a máquina administrativa que o senador Vitorino Freire montou no Maranhão em vinte anos de poder, período em que elegeu quatro governadores – Archer da Silva, Eugênio Barros, Matos e Newton Bello – era, para Sarney, uma missão imperiosa e inadiável. Desse modo, granjeou apoio popular e ainda valeu-se da revisão eleitoral, sob os auspícios do Tribunal Superior Eleitoral, que expurgou das folhas de votação mais de 200 mil votos fraudulentos.
Para Flávio Dino impor ao sarneísmo fragorosa derrota era questão prioritária, pois implicava solapar a estrutura política construída por Sarney, em que vários governadores, através de pleitos diretos e indiretos, chegaram pelas suas mãos ao Palácio dos Leões, conquanto a maioria não lhe tenha prestado a devida lealdade política.
- Os opositores no pleito. Por causa da divisão nas hostes do PSD – Partido Social Democrático, do rompimento do governador Newton Bello com o senador Vitorino Freire, e do veto do regime militar ao candidato governista Renato Archer, Sarney enfrentou a candidatura do ex-prefeito de São Luis, Costa Rodrigues, convocado no frigir dos ovos para o governo não ficar sem candidato às eleições de 1965.
Flávio Dino conviveu com um fato quase similar nas eleições deste ano. Seu opositor, o senador Lobão Filho, foi chamado às pressas para substituir e ocupar o lugar do pré-candidato Luis Fernando Silva, escolhido pela governadora Roseana Sarney, mas não se viabilizou como candidato do grupo sarneísta. Nas proximidades da convenção partidária, entregou os pontos e saiu da luta.
- As mensagens políticas. Foi com a mensagem da mudança e de proporcionar ao povo maranhense uma nova era de progresso, que Sarney e Flávio conquistaram credibilidade e mantiveram-se na crista da onda ao longo da campanha. Também prometeram uma revolução econômica e social no Maranhão, renovar os costumes políticos, recuperar o tempo perdido e engajar o estado no processo de desenvolvimento. Resultado: Sarney e Flávio foram os mais votados pela grande maioria do eleitorado.
Mas esses pontos de convergência entre Sarney e Flávio, vislumbrados na campanha eleitoral, ficaram para trás. De agora por diante a situação é outra, assume novos contornos e estratégias opostas.
O candidato do PC do B, vencedor da recente pugna política, sobre os ombros do qual pesará a responsabilidade de governar o Maranhão, a partir de 1º de janeiro de 2015, começou a organizar a equipe que com ele trabalhará no governo e já mostrando a impossibilidade de se repetirem atos que fortuitamente vieram à tona na fase que antecedeu à sua eleição.
Basta ver, por exemplo, a escolha dos auxiliares de primeiro escalão. Se Flávio tomasse Sarney como referência, só anunciaria o seu secretariado dois dias antes da posse. Foi assim que o governador do Maranhão Novo procedeu. Nesse particular, o futuro governador inovou e mudou as regras do jogo. Já iniciou a escolha dos que o ajudarão a administrar o estado e, lenta e gradualmente, vem anunciando os nomes dos que comporão o seu secretariado, antes que aflorem as pressões dos partidos políticos que o apoiaram e dos candidatos derrotados, ávidos de uma “boquinha” para não ficarem desempregados.