Há 60 anos, na madrugada de 24 de agosto de 1954, uma tragédia abalou o Brasil inteiro: o presidente Getúlio Vargas surpreende com o gesto extremo do suicídio, ato praticado no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.
Pela segunda vez, ele comandava a nação brasileira não em função de um movimento revolucionário como o de outubro de 1930, mas pela grande e esmagadora vontade popular que o elegeu em outubro de 1950.
Vargas suicida-se por não resistir à violenta campanha das forças políticas retrógadas, que não concordavam com um governo que empreendia ações em favor dos mais humildes e pela libertação econômica do Brasil.
Morto, legou ao povo brasileiro uma carta-testamento, na qual registrou explicitamente as razões que o levaram a deixar a vida para entrar na história.
Nos dois momentos em que governou o Brasil, Vargas teve participação ativa na vida política do Maranhão.
No período de 1930 a 1945, por conta dos poderes extraordinários que o movimento revolucionário colocou em suas mãos, a ele foi atribuída a faculdade de nomear os interventores estaduais. Para governar o Maranhão, Getúlio nomeou cinco interventores: Luso Torres, Reis Perdigão, Astolfo Serra, Seroa da Mota e Antônio Martins de Almeida.
Passada a fase dos interventores, o governo maranhense foi exercido pelo cientista Aquiles Lisboa, eleito indiretamente pela Assembleia Legislativa, com o apoio dos partidos locais.
Mas o novo governante, por lhe faltar habilidade política, acabou batendo de frente com os interesses dos chefes partidários, que passaram a mover contra ele ações visando desestabilizá-lo e a expurgá-lo do poder. Resultado: a Assembleia Legislativa, que em 1935 preparava a nova Constituição do Estado do Maranhão, dividiu-se e o impasse político veio à tona, levando a questão a ser discutida no Tribunal de Justiça.
Depois de mais de um ano de turbulência política, em que recursos de todas as naturezas foram impetrados no Poder Judiciário, sem que o mesmo se manifestasse por estar dividido em torno do assunto, as forças empresariais solicitaram ao presidente Getúlio Vargas a decretação da intervenção federal no Maranhão, para a restauração da paz política e a reativação dos negócios produtivos, que ameaçavam prejudicar a vida da população.
No dia 14 de junho de 1936, desembarca em São Luis o major Carneiro de Mendonça, nomeado por Vargas ao cargo de interventor no Maranhão, antes que a Assembleia decretasse o impeachment do governador Aquiles Lisboa.
O oficial do Exército só deixou a interventoria em julho de 1936, após a restauração da ordem pública e da eleição pela Assembleia Legislativa do governador Paulo Ramos, maranhense e alto funcionário do ministério da Fazenda, escolhido por Getúlio e aceito pelas correntes políticas do Maranhão.
Com a instalação do Estado Novo, Vargas, com os poderes ditatoriais em suas mãos, mantém Paulo Ramos à frente dos destinos do Maranhão, mas com as atribuições de interventor, que, como tal, exerce o poder até maio de 1945, quando renuncia ao cargo que ocupava desde 1936, ao longo do qual empreendeu obras importantes, especialmente em São Luis, urbanizando-a e modernizando-a, mas, também, agia com mão de ferro em casos em que o regime ditatorial exigia rigor e prepotência.
Outro momento importante em que Getúlio Vargas interferiu na vida política maranhense ocorreu em 1951, por ocasião do movimento popular de contestação à diplomação e posse do governador Eugênio Barros, do PSD.
Com as atividades públicas e privadas paralisadas, em face do movimento grevista, que impedia o governador de tomar posse, direito que o Tribunal Superior Eleitoral assegurara por conta do julgamento dos processos da eleição de Eugênio Barros, considerados legítimos e legais e não resultado de fraude eleitoral, as Oposições Coligadas resolvem pedir insistentemente ao presidente da República a decretação de nova intervenção federal no estado.
Como Vargas em 1951 exercia o governo não de forma ditatorial, mas em harmonia com os ditames da Constituição promulgada em 1946, manda a São Luis o seu ministro da Justiça Negrão de Lima, para ver com os próprios olhos a situação que atravessava o Maranhão e sugerir medidas para o governo federal acabar com a crise política que ameaçava não ter fim.
Depois de conversar com lideranças políticas do governo e da oposição e setores representativos da sociedade, o ministro da Justiça retorna ao Rio de Janeiro e apresenta a Getúlio a fórmula da intervenção federal no Maranhão.
Para não correr riscos com um ato que poderia lhe trazer dissabores no Congresso Nacional, a quem caberia referendar ou não a sua decisão, Vargas decide não fazer a intervenção federal e assegura a posse do governador Eugênio Barros no Poder Executivo do Estado.