Como estamos em fase de campanha eleitoral, não custa recuar no tempo e relembrar como e por que fui candidato a deputado estadual nas eleições de outubro de 1962.
Daquele pleito aos dias de hoje decorrem 52 anos, ou seja, mais de meio século. À época, contava com 24 anos, ainda na flor da juventude, mas já me considerava apto a disputar uma eleição até certo ponto imprevisível, porque o Maranhão ainda vivia sob o domínio da fraude eleitoral e eu seria candidato pela oposição, uma temeridade para um principiante político.
Em 1961, estudava no Rio de Janeiro, na Universidade Rural, cursando Agronomia, mas só pensava voltar ao Maranhão por dois motivos. Primeiro, a não identificação com o curso levou-me à conclusão de que a agronomia não era o meu sonho de vida. Segundo, na minha cabeça apenas a política regurgitava. Em torno dela giravam as minhas leituras e tudo que fazia na Cidade Maravilhosa, que deixara de ser a capital da República, mas continuava o centro onde gravitavam todas as decisões nacionais.
Ao chegar a São Luis, parti para executar o meu projeto político, a começar pelo vestibular de Direito, um curso que tinha tudo a ver com o meu sonho de vida. Em apenas dois meses, com as aulas a cargo do meu amigo José Mário Santos, fui aprovado no exame de habilitação, ainda com provas escrita e oral e enfrentar uma banca examinadora formada pelos professores Fernando Perdigão e Pedro Neiva de Santana, que atemorizava os vestibulandos.
Cumprida a primeira etapa do projeto, teria agora de ultrapassar a segunda fase, considerada a mais espinhosa e complicada: a de convencer o meu pai, Abdala Buzar, então prefeito de Itapecuru, que o meu futuro estava imbricado à política e à conquista do mandato de deputado à Assembleia Legislativa.
Como previa, a reação dele foi imediata e viril. Com a experiência de principal chefe político de Itapecuru, portanto, conhecedor dos problemas que a vida política acarreta a quem dela se aproxima, não queria que o seu primeiro filho abraçasse de corpo e alma uma empreitada repleta de riscos e armadilhas.
Com o passar dos dias, aquelas resistências paternas foram diluídas e quebradas, pois alguns amigos o convenceram de que a minha candidatura a deputado estadual seria vantajosa ao município, que há muito estava sem representante na Assembleia Legislativa.
Vencidas essas barreiras, as minhas atenções se voltaram para uma questão de natureza política. Meu pai havia assumido o compromisso de votar em Líster Caldas, do PSD, para deputado federal, fato que poderia inviabilizar a minha candidatura, tendo em vista que, por motivos ideológicos, filiara-me ao Partido Social Progressista, a convite de Neiva Moreira e de oposição ao vitorinismo.
A situação, depois de consultas a especialistas na matéria, foi contornada pela própria omissão da legislação eleitoral que ainda não disciplinara a infidelidade partidária e deixara a questão a critério dos partidos.
Superados todos os obstáculos que se antepunham à consolidação do projeto político, inclusive o registro no Tribunal Regional Eleitoral, restava agora atirar-me à luta eleitoral, com vistas, a despeito da inexperiência política, a convencer o eleitorado de minha terra a votar maciçamente em mim, já que não contava com outros municípios para conseguir votos suficientes e obter o cociente eleitoral.
Com garra, volúpia de vencer e de conquistar o mandato eletivo, não me intimidei com as adversidades – e como foram muitas – parti para a campanha eleitoral convicto de que mobilizaria o povo de Itapecuru a não dispersar votos e votar em quem poderia representá-lo de maneira digna e confiável.
Durante três meses não descansei um dia indo atrás do eleitor em sua própria casa. Como não tinha carro, usava a bicicleta e com ela percorri todas as ruas da cidade, entregando material de propaganda bem modesto, se comparado ao de hoje. Importa dizer que não encontrei ninguém que me pedisse dinheiro, emprego ou coisa semelhante, como atualmente o eleitor viciado exige.
Naquele tempo, a campanha eleitoral não requeria os volumosos recursos de hoje, em que os partidos gastam fortunas do fundo partidário, e os candidatos buscam dinheiro, quase sempre de origem duvidosa, junto à iniciativa privada e ao governo, este que, sob a forma de convênios, transfere verbas aos prefeitos que as desviam ostensivamente para os bolsos e compra de votos.
Dinheiro em eleição sempre se gastou e sempre se gastará. Mas o gasto de ontem não tem nada a ver com a gastança dos dias correntes. Em Itapecuru, por exemplo, meu pai, bancou a minha eleição e de outros que apoiou ao longo da vida, mas sempre com recursos próprios, que os empregava no custeio de comícios, animados por orquestras, especialmente nos povoados, transporte do eleitor e comida farta no dia da eleição.
Foi assim que consegui ser bem votado em Itapecuru e sair praticamente eleito com os votos do povo da amada terra, que, empolgado com a minha candidatura, deu-me quase 2.000 mil dos 2.490 conquistados nas urnas, que me valeram ser o terceiro mais votado do Partido Social Progressista, que elegeu seis deputados à Assembleia Legislativa.