O FIM DE UMA GERAÇÃO JORNALÍSTICA

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A morte do jornalista Arimathéa Athayde, aos 90 anos, nos leva a pensar sobre o final de uma geração de intelectuais que brilhou intensamente no jornalismo do Maranhão, numa época em que só os jornais impressos e as emissoras de rádio pontificavam como veículos divulgadores de notícias e informações.

Essa geração de jornalistas conquistou notoriedade, projetou-se e conquistou respeito e conceito na sociedade maranhense pelos conhecimentos adquiridos nos livros e nos colégios de São Luis, dotados de bons professores, que transmitiam ensinamentos que capacitavam e preparavam os alunos como mandava o então vigente sistema educacional.

Essa geração de jornalistas, não era egressa de faculdades e de universidades, até porque o Maranhão, naqueles tempos, possuía apenas cursos de Direito e de Farmácia. Eram jornalistas que chegavam às redações não com diplomas ou anéis de formaturas nos dedos, mas com talento e boa formação cultural, que os credenciavam a escrever textos, elaborar reportagens ou fazer editoriais primorosos sobre os mais diversos assuntos.

Essa geração de jornalistas não se beneficiou dos meios científicos e tecnológicos que hoje a internet e os computadores oferecem aos profissionais de imprensa para que, conectados com o mundo, possam captar informações instantâneas e produzir matérias bem elaboradas e completas e deixem o leitor bem informado. Eram jornalistas que trabalhavam em condições precárias, em cujas redações só as máquinas datilográficas e os telefones, ainda rudimentares, serviam de instrumentos para a preparação das notícias que diariamente chegavam ao conhecimento dos leitores.

Essa geração de jornalistas também não era profissionalizada, até porque os jornais não tinham condições de remunerar todos os que trabalhavam nas redações. Por serem intelectuais e egressos de famílias de classe média, escreviam como colaboradores ou pelo prazer de escrever, por isso, desfrutavam de prestígio social.

Dessa geração de jornalistas, Arimathéa Atahyde fez parte e distingui-se pela maneira ímpar como atuou nos jornais nos quais militou. Mas entre ele e os contemporâneos havia um diferencial: o seu perfeccionista na arte de escrever. Sem constrangimento reescrevia o texto por seguidas vezes e só o publicava quando achava que o mesmo estava corretamente perfeito e não dar margem às críticas.

Dessa geração, também pontificaram jornalistas da tempera de Erasmo Dias, Neiva Moreira, Bernardo Almeida, Djard Martins, Lago Burnnet, Nascimento de Moraes Filho, José Lustosa, Nonato Masson, Cloves Sena, José Chagas, Ubiratan Teixeira, José Bento Neves, Vitor Gonçalves Neto, Luis Lílio, Eider Paes e tantos outros.

Ainda  jovem, Arimathéa  trabalhou no gabinete do governador Eugênio Barros e, como tal, recebeu uma missão espinhosa em plena crise em que as Oposições Coligadas tentaram expulsar do Palácio dos Leões o chefe do Executivo maranhense.

No dia 9 de março de 1951, o Tribunal de Justiça decide tornar ilegal a posse de Eugênio Barros e empossar o desembargador Nelson Jansen no cargo de governador. Nesse sentido, o Tribunal de Justiça envia emissário ao Palácio para comunicar a Eugênio que deveria deixar o governo. A tarefa não foi cumprida porque o chefe do gabinete, Arimathéa  Atahyde, interceptou a comunicação de maneira astuciosa.

Como era neurastênico, demorou pouco tempo no cargo palaciano. Desentendeu-se com o governador e migrou de armas e bagagens para as oposições. Através de artigos cáusticos, não poupou a figura do governador pelas páginas de O Combate e do Jornal do Povo.

Só vim a conhecê-lo pessoalmente quando o governador João Castelo assumiu o governo do Estado. Veio de Brasília para chefia da secretaria de Comunicação. Pelo seu controvertido comportamento, criou problemas sérios com o secretariado e quase foi demitido.

Construímos uma boa amizade, mas eu sempre ficava com o pé atrás quando conversava com ele. Ao lançar em 1983, o livro A Greve de 51, evento a céu aberto e realizado ao entardecer, na Praça João Lisboa, convidei-o para falar sobre aquele movimento político, do qual participou.

Depois disso, os nossos encontros tornaram-se esporádicos, até porque ele passou longo tempo exilado na cidade de Araioses, onde seus familiares moravam. Afastado de tudo e de todos, passava os dias lendo e escrevendo crônicas e poesias.

Anos depois, retornou a São Luis, onde se fixou definitivamente. No ano passado, telefonou-me e marcamos um encontro na Academia Maranhense de Letras. Mais neurastênico, por conta da idade, avisa-me que publicara, com recursos próprios, vários livros e desejava lançá-los na AML. Como era um perfeccionista, cuidou de todos os detalhes para nada faltar à solenidade. E assim foi. Após o evento, que o deixou muito feliz, recolheu-se novamente ao exílio doméstico de onde saiu direto para o cemitério.

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