CENTENÁRIO DE REMY ARCHER

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Como não temos memória política, passou batido o centenário de nascimento de Remy Bayma Archer da Silva, ocorrido em São Luis, a 5 de julho de 1914.

Dos cinco filhos do industrial e ex-governador Sebastião Archer da Silva, quatro com a primeira esposa, Maria José, e um com a segunda, Maria Gertrudes, apenas dois optaram pelo exercício da política: Remy e Renato.

Enquanto Renato trilhou na estrada do legislativo, Remy peregrinou pelas veredas do executivo, a princípio ocupando cargos relevantes na administração pública federal, posteriormente dedicando-se a negócios privados.

Remy fez o curso primário na Escola-Modelo Benedito Leite, o secundário no Colégio Antônio Vieira, na Bahia, e o curso superior na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, graduando-se engenheiro, em 1938, e especializando-se na área da construção civil.

Diplomado, veio para o Maranhão e suas primeiras iniciativas profissionais foram na fábrica de tecidos de propriedade do pai, a Companhia Manufatureira e Agrícola de Codó.

Em 1942, interrompeu as atividades empresariais, como um dos diretores da empresa, para atender ao convite do ministro da Viação e Obras Públicas, general João de Mendonça Lima, do qual Vitorino Freire era oficial de gabinete, para dirigir a Estrada de Ferro Central do Piauí. Um ano depois, assumiria a direção da Estrada de Ferro São Luís-Teresina, tendo ocupado, concomitantemente, os dois cargos até 1945.

Em 1946, com o general Eurico Dutra na Presidência da República, foi nomeado diretor da Estrada de Ferro Bragança e, em seguida, da Viação Férrea Leste Brasileiro. Em 1947, recebeu nova incumbência do chefe da Nação: presidiu o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários, cargo que exerceu até 1951. No Maranhão, o IAPC, na gestão de Remy, construiu o conjunto residencial do Filipinho e o Hospital Presidente Dutra.

 

Remy sempre foi ligado à corrente política liderada pelo senador Vitorino Freire. Era filiado ao Partido Social Democrático, mas o rompimento de Vitorino com Genésio Rego e Clodomir Cardoso fez com que ingressasse no Partido Proletário Brasileiro e depois no Partido Social Trabalhista, legenda fundada por Vitorino, e por este comandada até 1954, quando, através de hábil negociação, reconquistou o PSD.

Por essa agremiação partidária, no pleito de outubro de 1954, elegeu-se suplente de senador do pai, Sebastião Archer da Silva. Em decorrência da licença do titular, algumas vezes, assumiu o mandato de senador, sendo membro das Comissões de Serviço Público, de Economia, de Legislação Social, de Relações Exteriores, de Redação e de Reforma Administrativa. Foi o autor do substitutivo sobre a transformação das estradas de ferro da União em sociedades anônimas, aprovada pelo Congresso.

Era suplente de senador e recém-empossado na presidência do Banco da Amazônia, quando aconteceu um episódio que marcou a sua vida pública: o seqüestro do avião, um Constellation da Panair do Brasil, como parte de uma conspiração militar, objetivando a deposição do presidente da República, Juscelino Kubitscheck.

 

A insurreição começou por volta das 7 horas de 13 de dezembro de 1959. Para a rebelião ganhar repercussão política, os revoltosos seqüestraram uma aeronave comercial, que partira do Rio de Janeiro com destino a Belém. Com trinta e oito passageiros a bordo, além da tripulação, encontrava-se o suplente de senador e presidente do Banco da Amazônia, Remy Archer.

Sem que nenhum passageiro pressentisse algo de anormal dentro do avião, para espanto de todos, aterrissou num pequeno campo de pouso de Aragarças, no estado de Goiás.

As aeromoças, instruídas pelos seqüestradores, disseram aos passageiros que, por motivo de segurança, o avião pousaria naquela localidade. Ao descer, Remy Archer notou a presença de quatro aviões: três DC-3 e um de pequeno porte, todos da Força Aérea Brasileira. Também podiam ser vistos alguns militares da Aeronáutica e poucos civis, totalizando não mais do que dez amotinados.

Confinados num hotel, mas sem sofrerem qualquer violência física ou moral, os passageiros e a tripulação do “Constellation” ficaram sem saber por que ali se encontravam e qual o destino que lhes era reservado, uma vez que estavam sem comunicação. Por volta das 15 horas, Remy recebeu ordem para se dirigir à Base Aérea de Aragarças, onde se encontravam os rebeldes. Na base, tomou conhecimento de que estava preso. Em resposta à ordem de prisão, disse: “Não posso ser preso, pois na qualidade de senador estou acobertado pelo instituto da imunidade parlamentar.”

Depois disso, os revoltosos começaram a sentir que o propósito de sublevar o país tinha fracassado, pois, além de não receberem adesão de qualquer militar ou civil, perceberam que as providências do governo federal, para debelar a intentona, passaram a ser desencadeadas, com urgência e rigor.

Apreensivos com as articulações promovidas pelas autoridades da República, comandadas pelo ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, para a captura dos aviões e a prisão dos rebeldes, estes, imediatamente, transformaram Remy Archer em refém, como meio de impedir que as forças da legalidade acionassem seus dispositivos para prendê-los em território brasileiro.

Depois dos procedimentos para o abastecimento da aeronave, pilotada pelo comandante Mário Borges, decidiram voar rumo do Norte, em busca de Santarém e depois Cachimbo. Como não conseguiram pousar nas duas cidades, tomaram o destino de Buenos Aires, onde, após 11 horas de vôo, o avião aterrissou.

Na capital argentina, Remy recebeu a visita do embaixador brasileiro e um telefonema do próprio presidente da República, Juscelino Kubitscheck. No dia seguinte, retornou para o Rio de Janeiro, onde prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito, instalada no Senado.

 

 

Antes de deixar a vida pública, Remy foi nomeado pelo presidente João Goulart para dirigir o Banco Nacional de Crédito Cooperativo. A nomeação correu por conta de um movimento de rebeldia de seis deputados federais do PSD contra o governador Newton Bello, em 1963.

Os parlamentares rebelados, liderados pelo deputado Cid Carvalho, aderiram ao PTB, através do qual começaram a minar as bases do vitorinismo. Remy, mesmo sem mandato político, aderiu ao movimento contra o governador Newton Bello, em posição de confronto ao irmão Renato Archer, então candidato do PSD ao governo do Estado.

Ficou na presidência do Banco Nacional de Crédito Cooperativo até a eclosão do movimento militar, em abril de 1964.

Quando o presidente Castelo Branco vetou a candidatura de Renato a governador, que o levou ao rompimento com Newton Bello, Remy voltou a comungar politicamente com o irmão, chegando a apoiá-lo na sua pretensão de ocupar o Palácio dos Leões pela legenda do PTB, o que não veio a acontecer, pois, nas eleições de 1965, o vencedor foi José Sarney.

Desencantado com a política, mormente depois que os militares assumiram o poder, tomou a decisão de voltar às origens e dedicar-se novamente à iniciativa privada. Homem de visão instalou em São Luis a empresa Agrima, voltada para a extração de óleo de babaçu, mas com uma inovação tecnológica: extrair amêndoa de coco por um sistema mecanizado.

A crise que assolou a indústria oleaginosa no Maranhão, na década de oitenta, terminou levando a Agrima de roldão.

Atacado pela doença conhecida como Mal de Parkinson, Remy mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se submeteu a rigoroso acompanhamento médico.

Faleceu a 1º de junho de 1997, no mesmo mês em que há um ano (20 de junho de 1996) faleceu, em São Paulo, o irmão Renato, mais novo do que ele oito anos.

Casou-se com Léia de Castro Figueiredo Archer, e com ela teve três filhos, dentre os quais o ex-prefeito de Codó, Ricardo Archer.

 

 

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