AS ELEIÇÕES NO MARANHÃO-EUGÊNIO BARROS (2)
A eleição à sucessão de Sebastião Archer da Silva deu-se a 3 de outubro de 1950, dia em que, também, seriam escolhidos o novo presidente e vice da República, um senador, deputados federais e estaduais.
Estas eleições apresentaram um cenário diferente do pleito anterior, travado em 1947. Primeiro, pela presença de uma nova legenda partidária, o Partido Social Trabalhista, criado pelo senador Victorino Freire e pelo qual concorreu à vice-presidência da República. Segundo, por conta do rompimento do vice-governador Saturnino Bello com o vitorinismo, levando-o a integrar o bloco das Oposições Coligadas – PSP, UDN, PSD, PR, PL e PTB, pelo qual se lançou candidato ao cargo de governador.
Ao senador Victorino, pelo incontestável domínio na política maranhense, coube escolher o nome para disputar o pleito: Eugênio Barros, industrial e ex-prefeito de Caxias, onde realizara exemplar administração.
Eugênio, por não sofrer resistências dos membros do PST, a 15 de julho de 1950, em convenção realizada no Palácio dos Leões, teve sua candidatura homologada, sendo seu companheiro de chapa, o tenente da Marinha, Renato Archer.
Pelas estimativas do TRE, 254.321 eleitores, dos quais 43.306 pertenciam às três zonas eleitorais de São Luis, compareceram às eleições majoritárias e proporcionais de 1950. Com a abertura das urnas, evidenciava-se em São Luis a superioridade do candidato oposicionista sobre o governista, mas este, no interior do estado, impunha-se de modo galopante.
Pelo desenrolar das apurações, tudo indicava que o oposicionista Saturnino Bello seria o vitorioso, mas, surpreendentemente, o TRE anulou aproximadamente 16 mil votos da Capital, permitindo a Eugênio Barros ultrapassá-lo em torno de 6 mil votos . A situação complica-se com a inesperada morte de Saturnino Bello, a 16 de janeiro de 1951, vitimado por um enfarte cardíaco, deixando o eleitorado de São Luis revoltado, pois o desaparecimento do candidato passou a ser creditado aos juízes, que acharam por bem não realizar as eleições suplementares, no pressuposto de que não se vota em candidato morto. Em vista disso, o TRE diplomou Eugênio Barros governador do Estado.
A posse, marcada para o dia 31 de janeiro, terminou transferida para março, graças a um acordo para dar tempo ao Tribunal Superior Eleitoral de julgar os processos pendentes.
O acordo, contudo, foi rompido por Eugênio que decide tomar posse antes da data marcada, tendo o cuidado de solicitar força federal ao TSE para garanti-la, no que é prontamente atendido. No dia 28 de fevereiro, às 10 horas, no Tribunal de Justiça, presta juramento de posse, ato não realizado na Assembleia por esta encontrar-se em recesso. Em seguida dirige-se ao Palácio dos Leões, para receber o cargo.
Enquanto a solenidade ocorria, grupos de populares, mobilizados pelos líderes oposicionistas, promoviam nas ruas violentos atos de repúdio e protesto, retirando do ar a Rádio Timbira, empastelando o Diário de São Luis, jornal que apoiava o governo e depredando as casas de juízes do TRE. A Polícia Militar, acionada para manter a ordem, enfrenta a população e contra ela abre fogo, episódio que acaba com numerosos feridos e um morto. Para restabelecer a ordem pública, tropas do 24º Batalhão de Caçadores, que estavam de prontidão, entram em ação.
Com a presença do general Edgardino Pinta, comandante do 10ª Região Militar, um novo acordo foi firmado: Eugênio Barros se afasta do governo, viaja para o Rio de Janeiro, sendo substituído pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado César Aboud, até que os recursos fossem julgados pelo TSE. A cidade volta à calma e as atividades públicas e privadas são reativadas.
Eugênio Barros volta a São Luis no começo de setembro de 1951, após a decisão do TSE, que reconhece a legitimidade de sua diplomação. Na sua chegada, novos distúrbios e protestos, com o centro da cidade transformado em praça de guerra e troca de tiros entre policiais, populares e políticos, com mais feridos e mortos.
A situação foi contornada pelas forças do 24º BC, que ocuparam novamente os lugares mais agitados e assim evitar conflitos. A despeito disso, Eugênio entra no Palácio dos Leões e investe-se no cargo. Mas não governar porque os oposicionistas mantinham-se concentrados no Largo do Carmo, de onde incitavam a massa a somente sair dali quando o presidente Getúlio Vargas decretasse a intervenção federal no Maranhão.
Enquanto o Governo federal decidia se intervinha ou não, Eugênio, diplomática e sensatamente, convence a massa a procurá-lo no Palácio dos Leões onde atende as reivindicações dos que perderam os seus tetos, causados por incêndios criminosos.
Resultado: o movimento grevista esvazia-se, perde força, Eugênio conquista a massa e convence o Governo federal de que intervir no Estado era conversa para boi dormir dos oposicionistas.