As mortes de presos na Penitenciária de Pedrinhas não são novidades no Brasil e as barbaridades delas decorrentes também não são exclusividades do Maranhão. Tão lamentáveis fatos fazem parte de uma indiscutível e triste realidade vigente em todo o país, resultado da superlotação das penitenciárias e da inércia dos governantes.
Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Porto Alegre serviram, servem e continuarão a servir de palco para ocorrências iguais ou mais violentas das aqui registradas e nada diferem quanto à natureza e objetivos. Só quanto à repercussão apresentam diferenças. Todas foram pautadas nos noticiários da grande mídia impressa e eletrônica do país. Contudo, as ocorridas em São Luis ganharam mais repercussão e foram mais escandalizadas do que as acontecidas em outros lugares.
Qual o motivo disso? Fácil e simples de explicar: por que foram praticadas na terra onde nasceu um homem chamado de José Sarney. Outra pergunta se impõe: desde quando começou esta campanha difamatória contra o Maranhão, apontado como o mais atrasado e a vergonha do Brasil? Resposta: desde quando Sarney chegou, por mérito pessoal e bafejo dos deuses, ao posto mais alto desta República.
Foi a partir desse marco temporal que ele passou a ser satanizado e acusado de responsável direto por tudo de ruim que acontece no Estado. Ao longo desse tempo, os poderosos meios de comunicação – que nunca imaginaram ver o país governado por um nordestino, com agravante de ser do Maranhão, começaram a desencadear contra o político maranhense as mais torpes campanhas.
Não sabem que ao assumir o governo do Maranhão, em 1966, Sarney encontrou o Estado atravessando um dos piores momentos de sua história. O quadro político, econômico e social era tão desolador que deixava o maranhense triste, constrangido e pessimista. Basta dizer que no interior do Estado só havia 27 médicos para atender uma população que crescia celeremente e atacada por doenças endêmicas e epidêmicas; a maioria esmagadora dos habitantes vivia no campo e cultivando uma agricultura de subsistência; as pequenas indústrias funcionavam com capacidade ociosa; o abastecimento de água e rede de esgoto só atendia a área urbana de São Luis; na área educacional, apenas duas escolas superiores e um ginásio oficial; nenhuma estrada asfaltada; a energia elétrica era racionada e deficiente; infra- estrutura, nem pensar; nas comunicações, só os Correios e Telégrafos prestavam serviços à população. Enfim, essas e outras mazelas dominavam o Estado de ponta e ponta.
Mas com a força de sua inteligência e de sua juventude, Sarney conseguiu reunir uma equipe de auxiliares competentes e fez o Maranhão mudar e trilhar por uma nova trajetória de desenvolvimento. As gerações de hoje, que de uns tempos para cá, influenciadas pelos meios de comunicação e pelas redes sociais passaram a vê-lo como malfeitor e causador dos males que nos afligem, deveriam, antes de demonizá-lo, ouvir os antepassados ou fazer pesquisas, para saber, na verdade, o realizado e construído no Maranhão, no período de 1966 a 1970.
Se assim o fizessem, certamente seriam informados de que Sarney, ao concluir a sua administração, legou ao povo maranhense um Estado em pleno processo de mudança, transformação e modernização, mercê das obras e serviços na capital e no interior, dentre as quais selecionamos as mais importantes: montagem da infra-estrutura com novas linhas de transmissão de energia elétrica da Usina de Boa Esperança para todos os municípios; construção de novos eixos rodoviários para integrar o Estado; asfaltamento da estrada São Luis-Teresina; implantação de ginásios Bandeirantes, escolas João de Barros, de combate ao analfabetismo, fundação das faculdades de Engenharia, Administração, Comunicação e Educação, em Caxias, núcleo que deu origem à Universidade Estadual do Maranhão; criação da Televisão Educativa; construção da Barragem do Bacanga, que permitiu a criação do bairro Anjo da Guarda; implementação da Ponte do São Francisco, que possibilitou o nascimento de uma cidade nova e a preservação da cidade velha e histórica; construção em parceria com o Governo Federal do Porto do Itaqui; fundação da Companhia de Telecomunicações do Maranhão, introdução de sistema de computador para modernizar a administração; asfaltamento da cidade de São Luis e abertura da Avenida Kennedy; ampliação da rede de distribuição de água de São Luis e cidades do interior.
Este elenco numeroso de obras públicas, todas imprescindíveis ao progresso do Estado, realizadas por Sarney, o levaram a conquistar forte popularidade e inconteste liderança política, a ponto de ser considerado o melhor e mais operoso governador que já tivemos. O Brasil todo, à época, se curvava ao Maranhão pelo fato de ter um homem público de sua envergadura e tenacidade, mas cuja imagem foi sendo deteriorada pela grande imprensa nacional e por alguns governadores que passaram pelo Palácio dos Leões, os quais, em vez de darem continuidade ao trabalho realizado, fizeram retroagir o Estado.
Dito isto, que seja esclarecido algo que virou samba de uma nota só: a de que Sarney, de 1965 aos dias correntes, domina o Maranhão face à montagem de uma oligarquia. Se os arautos desse ridículo discurso tivessem conhecimento de nossa história, se certificariam de que o Maranhão, do período Imperial aos dias atuais, sempre teve sob seu comando políticos com capacidade de chefiá-lo por longo tempo. Vejamos. Bem antes da Proclamação da República, o Partido Liberal e Conservador monopolizaram a cena política através de Gomes de Castro e José da Silva Maia, que se alternavam no poder conforme os interesses do regime monárquico. Com a implantação do regime republicano, ascende à chefia política do Estado, Benedito Leite, que só não permanece mais tempo no governo por causa de uma enfermidade que o levou a morte em 1908, em Paris. O sucessor de Benedito Leite – Urbano Santos, outro político brilhante, dominou a política estadual de 1909 à sua morte, em 1921, quando viajava num navio para o Rio de Janeiro, onde assumiria o cargo de vice-presidente da República. O desaparecimento de Benedito Leite e de Urbano Santos fez o poder político do Maranhão se transferir para as mãos de Marcelino Machado e Magalhães de Almeida, genros dos falecidos governantes. Nenhum deles deu continuidade às lutas dos sogros, pois a Revolução de 30 se encarregou de expurgá-los da vida pública. O retorno do país ao regime democrático, em 1945, trouxe novamente ao Maranhão, o pernambucano Vitorino Freire, que aqui chegara em 1932, pelas mãos do interventor Martins de Almeida. A partir, portanto, das eleições de 1946, destinada à elaboração da nova Constituição brasileira, Vitorino impôs-se como novo comandante da política maranhense, comando esse só findo com a Revolução de 1964, que, usando poderes extraordinários, fez através da Justiça Eleitoral, a revisão do eleitorado do Maranhão, que sustentava a fraude eleitoral e manteve o vitorinismo no poder por vinte anos. Esse reinado foi literalmente dizimado nas eleições de 1965, que conduziu José Sarney ao governo do Estado.