No final do ano passado, o Liceu Maranhense completou 175 anos de fundação. A instituição criada em 24 de julho de 1838, só iniciou as suas atividades em 1839, sob a direção do professor Sotero dos Reis, um dos luminares da literatura no Maranhão.
Dos 175 anos de vida do Liceu, eu, como estudante, participei pessoalmente de quatro temporadas escolares: de 1953 a 1956.
Naquele estabelecimento educacional cheguei depois de fazer um extraordinário primário, em Itapecuru-Mirim, no Grupo Escolar Gomes de Sousa, concluído em 1949. Como na cidade em que nasci não havia ainda curso ginasial, meus pais trouxeram-me para São Luis, onde fui submetido, em 1950, ao exame de admissão no Colégio dos Irmãos Maristas, que começava a funcionar em sede nova, na Rua Grande, numa área conhecida como Quinta do Barão.
O primário, em Itapecuru, era tão bem ministrado que passei direto no exame de admissão, proeza que logrei graças às competentes professoras Santinha Fonseca, Celestina Nogueira da Cruz, Sinhá Rodrigues e Tusa Ewerton. Nos Maristas, pontificavam apenas professores que pertenciam à congregação criada pelo padre Marcelino Champanhat, dentre os quais os Irmãos (assim chamados), Mário, Máximo, Acácio, Nelson, Ábdon, Luis, Ilídio, Xavier, Miguel e Hermano.
Ali, estudei de 1950 a 1952. À falta de parentes em São Luis, cursei a primeira série do ginásio, em regime de internato. Como foi difícil, aos 12 anos de idade, separar-me da minha querida terra e da família. Chorava como um bezerro desmamado e levei tempo para acostumar-me com a vida de interno, regime em que a gente não é dono de si e vive-se sob o controle direto e rígido dos superiores.
Dos Maristas, fui transferido, em 1953, para o Liceu Maranhense, por interferência do renomado professor Newton Neves, amigo e compadre do meu pai, e lá cursei o quarto ano ginasial e os três do Científico. Os meus primeiros dias no novo colégio foram inesquecíveis, pois vinha de um estabelecimento de ensino de bom nível, mas que impunha aos alunos uma disciplina draconiana, em que os castigos imperavam de modo acentuado e constrangedor e os ofícios religiosos predominavam além do necessário.
A sensação que tive ao chegar ao Liceu era de que eu trocara um regime prisional por um aberto e livre. Ali, tudo era diferente dos Maristas: a metodologia do ensino, a disciplina, o uniforme, o relacionamento com os diretores, o contato com os mestres, estes, profissionais liberais, as ligações com os colegas, mais fraternos e egressos de segmentos sociais menos afortunados. Enfim, nada lembrava ou assemelhava-se aos três anos vividos na Quinta do Barão.
O que mais chamava a minha atenção, todavia, era o clima de liberdade com responsabilidade reinante no Liceu. Se nos Maristas eu contava as horas e os dias para chegar ao fim de semana, no Liceu, era o contrário. Ficava triste e mal humorado quando o final de semana se aproximava. Rezava para a segunda-feira chegar e poder juntar-me aos colegas de turma e assistir as aulas sem temer os nefandos castigos a que nós, alunos, éramos submetidos (ficar de pé e olhando para a parede, decorar nas sei quantas páginas, fazer cópias de longos textos, não praticar esportes e outros que a memória já apagou).
Ao deixar os Maristas, não pude esquecer os colegas que lá deixei: Newton Belo Filho, Cláudio Macieira, Railton Santos, já falecidos, Antônio Augusto Nogueira Santos (Manga Rosa), Bento Moreira Lima, Otávio Augusto Fernandes, João Castelo, José Quarto de Oliveira Borges, Gerson Marques, entre outros.
Mas ao chegar ao Liceu, novos colegas surgiram e deles só recebi demonstrações de amizade e de companheirismo e com os quais participei de momentos agradáveis, partilhados em salas de aula, no recreio e nas atividades esportivas. Com saudades, relembro dos que já partiram para a eternidade, tais como, Ernani Coutinho Nunes, Antônio José Lobato, Henrique Silva (dentista), Wanderley Carvalho, Sinésio Gonçalves, José Ribamar Ferreira Filho, Alexandre Viveiros, Pedro Rodrigues, José Trajano Nogueira Neves, bem como os que ainda estão em plena forma física e técnica, a exemplo de João Alberto de Sousa, Henrique Silva (advogado), Ezíodo Araújo, Alcemir Belém, residente em São Paulo, e Oldeir Silva Ramos, em Itajubá.
Impossível também não falar do elenco admirável de professores que o Liceu mantinha no seu corpo docente. Além de habilitados, eram figuras conceituadas e respeitadas na sociedade maranhense pela cultura e pelas atividades profissionais que exerciam. Até hoje permanecem na minha memória e jamais os esquecerei pelos exemplos e dedicação aos discípulos: Rubem Almeida, Mata Roma e Maria Helena Rocha (Português), Maria de Jesus Carvalho e Maria Freitas (Geografia e História), José Lopes e Balduíno (Matemática), Maria José Serrão (Química), Pedro Santos (Física), José Silva e Ribeirinho (Biologia e Ciências Naturais), Vicente Maia (Inglês), Braga, (Francês), Lilah Lisboa de Araújo (Música), Concita Quadros (Espanhol), Cádmo e Agesislau (Desenho).
Devido a esse primoroso e ilustrado naipe de mestres, os alunos do Liceu, daquela época, ocuparam cargos elevados, exerceram funções nobres e cumpriram atividades relevantes na área pública e privada de maneira altiva e sem comprometer aos que lhes legaram sabedoria e boas lições de vida.