SER E TER UM AMIGO COMO GASTÃO

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Há algo que me envaidece na vida: possuir uma casta de bons amigos. Não são muitos, mas fazem parte de uma relação rigorosamente selecionada. São amizades verdadeiramente sinceras e fraternas, que espero, parafraseando o poeta Vinicius de Moraes, serem infinitas enquanto durarem.
Gastão Dias Vieira é um desses amigos e com o qual mantenho uma relação de amizade que se arrasta há mais de 60 anos. Tudo começou quando eu estudava na Faculdade de Direito, que funcionava na Rua do Sol. Ele, mais moço, aluno do Liceu Maranhense, pontificava por sua incontestável liderança, fulgurante inteligência e vocação política, com P maiúsculo.
Vivíamos os anos de chumbo em que a juventude brasileira, inconformada e revoltada com os rumos que o Brasil atravessava, tentava encontrar saídas, algumas violentas, outras discursivas, para tirá-lo da situação a que fora submetido. Nesse clima de apreensão e angústia, vejo o jovem Gastão à frente de entidades estudantis em busca de estratégias para ultrapassar as barreiras impostas pelo regime militar, que proibia os estudantes de se posicionarem contra as arbitrariedades, as opressões e as injustiças ditadas pelos Atos Institucionais, que garroteavam a liberdade e a democracia.
Ainda naqueles tempos de incerteza e de aflição, revejo-o na Faculdade de Direito, onde continuava a luta política em defesa de causas nobres, que exigiam dos que dela participavam idealismo, coerência e posições firmes.
Nesse contexto, a nossa amizade corporificou-se, consolidou-se e me permitiu acompanhar de perto os seus passos na atividade política, vendo-o atuar com senso de responsabilidade e não se arredando dos princípios éticos que abraçara e o levariam, anos depois, a chegar aonde chegou, conquistar aplausos e admiração, ainda que, muitas vezes, tenha enfrentado injustiças, adversidades, malquerenças, invejas e dissabores, mas graças à sua habilidade intelectual e seu equilíbrio emocional, consegue contorná-las ou jogá-las no lixo.
Antes de ingressar na ação política, vi Gastão desempenhar-se de modo positivo e exemplar na gestão pública, prestando inestimáveis serviços ao governo Pedro Neiva de Santana e ao Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, em Brasília, onde o seu talento profissional aflorou em toda plenitude.
Ainda em Brasília, quando José Sarney chegou à presidência da República, assisti Gastão assumir o cargo de secretário-executivo do Projeto Carajás. A partir daí, ninguém o segurou mais. O sangue político que corria em suas veias fez com que se candidatasse em 1986 e 1990 a deputado estadual, pelo PMDB. Brilhou na Assembleia, especialmente na fase da elaboração da nova Constituição do Maranhão. Pela sua atuação no Legislativo estadual, convenceu-se a disputar o pleito de 1994 à Câmara Federal, sendo reeleito em 1998, 2002, 2006 e 2010. Em todos esses mandatos, brilhou intensamente, a ponto de ser escolhido a vice-líder do PMDB e presidente da Comissão Nacional de Educação.
Ao tempo em que esteve no exercício da atividade parlamentar, vibrei quando recebeu o convite dos governadores Edison Lobão e Roseana Sarney para ocupar os cargos de secretário de Planejamento (duas vezes) e Educação, nos quais sua atuação foi impecável. Mais empolgado fiquei ao saber que a presidente da República, Dilma Roussef o nomeara ministro do Turismo num momento delicado em que vários políticos haviam ocupado o cargo, mas não se comportaram como deviam e, por isso, foram demitidos. Gastão chegou ao Ministério do Turismo quando o órgão estava desacreditado e sem pique para desenvolver um trabalho de monta. Ele fez o ministério dar a volta por cima e recuperar o prestígio dentro e fora do país. De modo competente e com criatividade introduziu no órgão normas e diretrizes voltadas para revelar a transparência de seu trabalho e a lisura de suas ações, inovações que levaram a Controladoria Geral da União a louvá-lo e a premiá-lo.
Como seu amigo e conhecedor de suas virtudes de homem público, não me conformo quando o vejo desprezado ou marginalizado pela nossa cúpula dirigente. Com um cartel de relevantes atividades e iniciativas prestadas ao Maranhão e ao Brasil, a Gastão só uma vez foi dada a oportunidade de mostrar o seu potencial técnico e político: em 2008, quando se candidatou a prefeito de São Luis, mas não se elegeu. O melhor discurso era o dele. Jogado à própria sorte ficou sem apoio e recursos para sustentar a campanha eleitoral.
Por suas qualidades, sobejamente reconhecidas, e por seu desempenho, testado e comprovado nas esferas estadual e federal, Gastão já deveria ter sido olhado ou cogitado para figurar numa disputa em que estivesse em jogo o cargo mais alto do Estado. Em qualquer outro lugar deste país, onde a meritocracia e não a politicalha tivesse vez, ele, certamente não seria esquecido e já teria sido chamado a ocupar uma função de alta envergadura, pois experiência, criatividade, competência e probidade não lhe faltam.
Um homem da estirpe de Gastão, que o país exalta como gestor e parlamentar, mas que a elite política do Maranhão desdenha ou lhe dá um tratamento imerecido, não pode ser desperdiçado ou ficar preso às disputas para conquistar de quatro em quatro anos um mandato de deputado federal.

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