No período de 1970 a 1990 vivi o auge de minha carreira jornalística, por conta da coluna “Roda Viva”, que escrevia no antigo Jornal do Dia, depois em O Imparcial e, em seguida, em O Jornal, do caro amigo Cordeiro Filho.
A coluna, de essência política, modéstia à parte, era a mais lida e a mais conceituada da cidade. A vida política do Maranhão girava em torno da “Roda Viva”. Sem jamais extorquir vantagem pecuniária, invadir a privacidade ou ferir a dignidade ou a honra de alguém, dela servia-me apenas para noticiar e comentar assuntos em pauta nos meios políticos.
Por causa da penetração e da repercussão da coluna, aqui e alhures, ao mesmo tempo em que ganhei credibilidade junto ao leitor, também conquistei alguns inimigos, em sua grande maioria, avessos a críticas. Só queriam elogios. Com o passar dos anos, eu e os desafetos esquecemos as rusgas e reatamos as relações de amizade.
Estávamos na década de 90, época em que, além do jornalismo diário, também exercia o cargo de secretário da Cultura, no governo João Alberto, e comandava um programa semanal de entrevistas – “Maré Alta”, de grande audiência na antiga TV Ribamar.
Foi assim que, num encontro meramente fortuito com o então presidente da Academia Maranhense de Letras, Jomar Moraes, em meio a uma boa conversa, veio à tona a sondagem para candidatar-me à Casa de Antônio Lobo. Quase desmaiei ao ouvir do presidente da mais importante instituição cultural do Maranhão convite tão inesperado. Logo eu que, até então, jamais havia pensado, cogitado ou programado fazer parte da AML.
A surpresa foi tamanha que pedi tempo para pensar. O convite era para ocupar a vaga do meu querido amigo e professor da Faculdade de Direito, Fernando dos Reis Perdigão, falecido em maio de 1990, no Rio de Janeiro. Depois de refletir e de ouvir a minha mulher e conselheira, Solange, e alguns amigos, cheguei à conclusão de que deveria aceitar o convite, no suposto de que partira do presidente da Casa de Antônio Lobo, portanto, uma categorizada autoridade para avaliar as minhas condições intelectuais. Se assim pensava Jomar, quem era eu para questioná-lo ou contestá-lo?
Dessa maneira cheguei à Academia Maranhense de Letras, com a sorte de ser eleito sem concorrente no dia 2 de agosto de 1990. Oito dias depois, ou seja, a 10 de agosto, empossava-me na Cadeira nº 13, patroneada por José Cândido de Moraes, fundada por José de Almeida Nunes e ocupada por Clarindo Santiago, Antônio Lopes e Fernando Perdigão, todos, jornalistas como eu. Milson Coutinho, também homem de imprensa, recepcionou-me em nome dos confrades.
Na condição de membro da AML, desde que ali ingressei, orgulho-me de ser um “imortal” cumpridor das obrigações e dos deveres acadêmicos, ao contrário dos que lutam e desejam fazer parte da instituição apenas com a intenção de usufruir do seu prestígio. Ao longo desses 23 anos, a minha convivência com os confrades tem sido marcada pelo respeito, camaradagem e companheirismo, não me descuidando, também, de honrar as tradições da Casa e fazendo de tudo para vê-la superar as suas inerentes dificuldades.
Por essa conduta e pela minha participação sempre ativa em favor da AML, vinha ocupando cargos importantes na direção da instituição. Algumas vezes como secretário, outras, como tesoureiro, sem o cometimento de qualquer deslize.
Na sucessão do confrade Lino Moreira, tudo estava certo para elegermos a nova Mesa Diretora que regeria os destinos da Academia, no biênio 2010-2012, tendo à frente os confrades Milson Coutinho, presidente, e José Maria Cabral Marques, vice-presidente.
Antes da eleição, sou procurado por Cabral Marques, que, alegando problemas de saúde, pede a minha colaboração para substituí-lo na vice-presidência, fato que não pude esquivar-me.
Ao final de 2010, a Academia é surpreendida com a renúncia do presidente Milson Coutinho, por causa de sua delicada situação de saúde. Quem passa então a presidi-la é este escriba, com a missão de cumprir apenas o mandato que finalizaria em fevereiro de 2012. Nas proximidades da eleição, avisei aos confrades que não seria candidato. Mas a reação deles foi imediata e, por unanimidade, achavam que eu deveria cumprir não um mandato pela metade, mas inteiro. Se assim achavam é porque não os havia decepcionado e nem comprometido a majestade da instituição. Quedei-me à força da amizade e da confraria.
A partir do segundo semestre deste ano voltei a cantar o samba de uma nota só. Em reuniões ordinárias ou fora delas afirmava que a Academia deveria ter nova diretoria e, por isso, abdicava ao direito da reeleição.
Ao se aproximar, porém, o encerramento de apresentação de chapas sou novamente surpreendido pelos confrades, que, por aclamação, intimaram-me a ficar mais um biênio na direção da Casa de Antônio Lobo. Tentei resistir, mas as minhas forças foram insuficientes e acabei cedendo à vontade dos acadêmicos.
Estou consciente de que serão mais dois anos de luta e sacrifício, mas espera chegar ao final do mandato, em 2015, de cabeça erguida e oferecendo, a despeito de minhas limitações, a minha alma e o meu corpo a serviço da AML.