Eu tive o privilégio de ver a chegada da televisão em São Luis em duas oportunidades. A primeira, em maio de 1955, quando se instalou transitoriamente e para cumprir uma finalidade eleitoral; a segunda, em novembro de 1963, quando veio para ficar e para atender a uma sociedade em processo de transformação, que exigia a presença de inovações tecnológicas na área da comunicação de massa.
No primeiro momento, era eu um estudante ginasiano do Liceu Maranhense e vivia a plena adolescência; no segundo momento, cursava a Faculdade de Direito, visando o diploma de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e deputado eleito à Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão.
A primeira emissora de televisão inaugurada no Brasil, em setembro de 1950, foi na capital de São Paulo; a segunda, na Cidade Maravilhosa, em janeiro de 1951. Ambas ganharam o nome de TV Tupi. A iniciativa da empreitada coube ao jornalista Assis Chateaubriand, à época, dono da maior cadeia de rádio e jornal instalada no país.
A população de São Luis, ao longo da década de 1950, no que tange aos meios de comunicação, contava com cinco jornais, três emissoras de rádio e dezenas de serviços de alto falantes nos bairros. De repente, a cidade maranhense torna-se a terceira a conhecer a televisão e antes de capitais importantes e de maior potencial financeiro e político.
Quem empreendeu essa arrojada ação que apenas São Paulo e Rio de Janeiro tinham a glória de possuí-la? Respondo: o jornalista Assis Chateaubriand, proprietário da Cadeia Associada, que instalou um arremedo de televisão não porque São Luís contasse com um mercado empresarial forte ou uma população numerosa e dotada de bom poder aquisitivo, condições que poderiam possibilitar à sua emissora um vantajoso faturamento publicitário.
O motivo era outro e tinha conotação puramente política, haja vista que Chatô perdera a eleição de senador, em 1954, em sua terra natal, a Paraíba, e que, pela força e presença de seus jornais e rádios, precisava manter-se no Senado e apoiar o candidato do PSD, Juscelino Kubitscheck, às eleições de presidente da República, em 1955.
Sabendo que a sua candidatura estava sendo bombardeada pelas oposições maranhenses, que a denunciavam como inominável produto de barganha política, Chateaubriand, astuciosamente, mandou para São Luis uma equipe técnica e equipamentos da TV Tupi para funcionarem como veiculo de sua propaganda política e destinada ao aliciamento do eleitorado mais resistente à sua candidatura.
Com tal fim, precária e provisoriamente, em março de 1955, montou-se um estúdio de televisão no auditório da Rádio Timbira, que funcionava nos altos da Casa dos Tecidos, no começo da Rua Grande, onde eram geradas imagens e transmitidas aos aparelhos de TV espalhados na Praça João Lisboa. À noite, os maranhenses, daqui e do interior do Estado, se locomoviam para o Largo do Carmo para assistirem os shows de artistas do sul do país e do nosso meio artístico, animados pelo famoso locutor Carlos Frias, uma das vozes mais bonitas do Brasil.
Com o encerramento das eleições, que levaram Chateaubriand a ser o novo representante do Maranhão no Senado da República, o estúdio da televisão foi desmontado e a Praça João Lisboa voltava a ser o tradicional local onde as notícias ganhavam ressonância através do boca a boca.
Depois disso, a televisão só reapareceu em São Luis na década de 1960. Desta feita, por iniciativa de políticos e empresários maranhenses, que a fundaram não com objetivos estritamente eleitoreiros. A causa era outra e motivos mais nobres. Afinal, o Maranhão começava a modificara sua estrutura econômica e social e precisava de um veículo de comunicação para acompanhar e divulgar os novos tempos que chegavam.
A responsabilidade pelo funcionamento definitivo da primeira emissora de televisão genuinamente maranhense pertenceu ao grupo empresarial, sob o comando dos irmãos Raimundo e Magno Bacelar, donos em São Luis de uma estação de rádio (Difusora) e um jornal (Jornal do Dia).
Com a aquisição de equipamentos importados dos Estados Unidos, a TV Difusora foi inaugurada em 9 de novembro de 1962, com as presenças do governador Newton Bello e do ministro da Justiça, Abelardo Jurema. Os estúdios da emissora foram instalados no 10º andar do Edifício João Goulart, na Avenida Pedro II.
Na noite da inauguração, a cidade parou e viveu momentos de emoção e expectativa. Se as ruas estavam vazias, as poucas residências que tinham o aparelho televisivo, em torno de 300, estavam lotadas e um silêncio de ansiedade contaminava as pessoas que tinham os olhos e ouvidos voltados para um aparelho receptor de imagem.
Quando apareceu no vídeo a imagem das autoridades presentes à inauguração, gritos ressoaram e foguetes pipocaram saudando a mais nova forma de entretenimento, diversão e comunicação social.
A TV-Difusora, que hoje completa 50 anos de vida, ao longo desse período, passou por várias fases e teve a sua programação modificada em função do progresso tecnológico. Na primeira fase, a programação pautava-se na produção local (até novelas) e exibição de filmes de curta metragem; na segunda, a predominância dos chamados “enlatados”, filmes americanos, de longa metragem e dublados para o português; na terceira, a introdução do vídeotape, com programas gerados no Rio de Janeiro e em São Paulo, para todos os gostos e idades; a quarta, com a inauguração das transmissões por satélite e de imagem em HD.