Foi após a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil em 5 de outubro de 1988 que o Maranhão passou a ter mais representatividade política no primeiro escalão do governo da União. Da época em que José Sarney assumiu a Presidência da República aos dias de hoje, ocuparam o cargo de Ministro de Estado nada menos do que oito maranhenses, um dos quais (Renato Archer) para ministérios diferentes.
No governo Sarney, José Reinaldo Tavares ocupou o Ministério dos Transportes e o Renato Archer os ministérios da Ciência e Tecnologia e Previdência Social; na gestão do presidente Itamar Franco, o senador Alexandre Costa esteve à frente do Ministério do Interior e Organismos Regionais; no mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, o deputado Sarney Filho exerceu o cargo de ministro do Meio Ambiente; no governo do presidente Lula, o engenheiro Silas Rondeau comandou o Ministério de Minas e Energia, sendo substituído pelo senador Edison Lobão, que continuou no governo da presidente Dilma Roussef, que também nomeou o deputado Pedro Novaes para ministro do Turismo, pasta posteriormente comandada pelo deputado Gastão Vieira.
Se de uns tempos para cá, o Maranhão começou a ser mais visto e melhor aquinhoado nos governos federais, que sucessivamente passaram a convocar, sobretudo políticos, para os cargos ministeriais, o mesmo não se pode dizer do passado, quando o nosso Estado ficou 66 anos esquecido e longe da composição do primeiro escalão da máquina pública brasileira. Da proclamação da República, em 1989, ao governo do presidente Sarney, em 1985, apenas um político maranhense fora chamado a ocupar o cargo de ministro: Urbano Santos, de dezembro de 1918 a julho de 1919, na gestão do presidente Delfim Moreira.
Depois de Urbano Santos somente em 1930 realizou-se uma articulação de políticos estaduais para um maranhense ser nomeado ao cargo de ministro. Quem conta as peripécias levadas a cabo no sentido do ex-governador do Maranhão, Magalhães de Almeida, ser convocado pelo futuro chefe da Nação para fazer parte de seu ministério, é o escritor Humberto de Campos, no segundo volume de seu Diário Secreto, lançado em 2010, pelo Instituto Geia.
Tais movimentações vieram a lume quando o senador Godofredo Viana e os deputados Domingos Barbosa e Humberto de Campos, todos intelectuais, se reuniram no Rio de Janeiro, em maio de 1930, com vistas à elaboração de uma carta ao futuro presidente da República, Júlio Prestes, cuja tarefa ficou a cargo do escritor de Miritiba. A carta, por ser longa, obrigou-me a pinçar as partes consideradas importantes e alusivas ao assunto ministerial.
A 7 de agosto, assinada somente por Humberto de Campos, a epístola foi endereçada ao presidente eleito, Júlio Prestes. Após uma série de salamaleques, comuns em missivas protocolares, a ele foi pedido que “na organização do seu Ministério, reservasse um pensamento para a nossa pequena terra distante na pessoa do nosso dileto amigo Magalhães de Almeida que realizou no Estado a mais fecunda administração, abrindo caminho para um futuro mais largo, num cenário maior”.
Em seguida, diz o missivista: “A política do Maranhão, como sabe o eminente e querido amigo de minha terra, só forneceu ao Governo da República, em 41 anos de regime, uma figura sua, e que foi o senador Urbano Santos. Dos estados do Norte e Nordeste, todos, ou possuem bancada menor do que a nossa, que apresenta dez membros nas duas Casas do Congresso, ou tem-na dividida em duas. Nós, não; nós apresentamos uma força uniforme e coesa, obediente à voz de comando de nossos chefes, sem dar oportunidade, jamais, a uma inquietação por parte do governo da União”.
Mais adiante, assinala o escritor “Assim pensando, meu ilustre presidente e amigo, é que venho lhe dizer estas duas coisas, com todo o coração: a alegria com que o Maranhão veria o nome de seu ex-governador, e legítimo chefe da política do Estado, contemplado no seu governo; e a serenidade amiga com que continuará a cercar a pessoa de Júlio Prestes da mesma dedicação e do mesmo carinho, no caso de não ser atendida a nossa aspiração”.
No dia 19 de agosto de 1930, no mesmo Diário Secreto, Humberto de Campos volta a se reportar sobre a nomeação de Magalhães de Almeida a ministro, mas dando a entender que Júlio Prestes não havia respondido a carta que lhe fora enviada, tanto que procurou o senador Manoel Vilaboim, ao qual pediu que sondasse o futuro presidente da República quanto ao teor da sua missiva.
Se Júlio Prestes teve ou não vontade de atender ao pedido dos políticos maranhenses ninguém sabe. Ainda que tivesse cogitado da nomeação de Magalhães de Almeida a ministro, tal ato não teria se materializado por causa de episódio histórico que aflorou no Brasil a 8 de outubro de 1930: a chamada Revolução de Trinta, que levou de roldão a política oligárquica vigente no país, da qual Júlio Prestes era de seus legítimos representantes.
Após essa empreitada malograda, somente em 1955 surgiu nova oportunidade de o Maranhão contar com um ministro. Deu-se com a renúncia do senador Antônio Bayma e do suplente Newton Bello, para possibilitar a eleição do jornalista Assis Chateaubriand, que perdera o pleito senatorial na Paraíba. O então candidato do PSD à Presidência da República, Juscelino Kubitscheck, que precisava do apoio dos jornais e das emissoras de rádio de Chatô, prometeu nomear um político maranhense para o Ministério da Agricultura, caso o Maranhão desse o mandato de senador ao jornalista paraibano. JK, contudo, face às pressões de estados mais fortes politicamente, não cumpriu a promessa e ficamos a ver navios.