A FRUSTRADA CANDIDATURA DE AMÉRICO DE SOUSA

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Como o processo da sucessão da governadora Roseana Sarney foi deflagrado com antecedência, não custa rememorar as peripécias ocorridas na segunda metade de 1968, quando um deputado federal da Arena e da bancada maranhense, também, lançou-se prematuramente à sucessão do governador José Sarney.
Era o deputado Américo de Sousa, que resolve bater de frente com Sarney, que, àquela altura dos acontecimentos, já conquistara da população maranhense a aura de líder popular pelo governo que realizava, fazendo uma administração renovadora, calcada na mudança e no desenvolvimento sócio-econômico.
Em função desse governo progressista, a imagem de Sarney como exemplar governante, chega a Brasília, onde o presidente da República, Castelo Branco, empresta-lhe apoio institucional e ajuda política e financeira para tirar o Estado do secular atraso em que se encontrava.
Com o término do mandato de Castelo Branco, assume o poder federal o general Artur da Costa e Silva. Essa mudança no governo altera significativamente o projeto que Sarney operava no Maranhão. O governador logo percebe que pelo seu alinhamento ao grupo castelista e dada à amizade com o ex-presidente da República, o seu trânsito no Palácio do Planalto não seria mais tão livre e que as portas da administração pública federal não estariam mais abertas para os problemas maranhenses como até recentemente.
Ainda que Sarney não recebesse da parte do presidente Costa e Silva qualquer hostilidade pessoal ou política, contudo, as relações entre o Governo do Maranhão e o Poder Central se deterioraram e deixaram de ser como nos tempos de Castelo Branco, com o qual o governador se identificava até no plano intelectual.
Os reflexos dessa situação logo repercutiram no Maranhão. O deputado Américo de Sousa, que colocara sua candidatura a governador na rua, mas sem obter qualquer sinal de receptividade da parte de Sarney, decide agir vangloriando-se da estreita amizade com Costa da Silva, desde a época em que este ocupou o cargo de ministro da Guerra. Prevalecendo-se disso, o parlamentar da Arena passa a se movimentar com desenvoltura no Palácio do Planalto, procurando ocupar, no universo federal, o lugar que Sarney conquistara quando Castelo Branco estava à frente da Nação.
Se Américo já não era bem visto no Palácio dos Leões, mais complicada fica a sua situação a partir do momento em que tentou imiscuir-se nos assuntos políticos e administrativos do Estado. Quando maior era a animosidade entre Sarney e Américo de Sousa, chega a São Luis (12-12-1968) o ex-presidente Juscelino Kubitscheck, a convite dos formandos da Faculdade de Economia, para proferir palestra na condição de patrono da turma. O governador Sarney, como paraninfo, comparece ao almoço em homenagem a JK, no Clube Jaguarema, onde pronuncia um discurso em que enaltece, com os mais rasgados elogios, ao fundador de Brasília, àquela altura, já sofrendo violenta perseguição dos setores radicais do governo.
Desse fato, aproveitaram-se os adversários de Sarney, dentre os quais o deputado Américo de Sousa, para engrossar o coro de denuncias contra o governador, segundo as quais ele, além de participar da homenagem a um inimigo da Revolução, mantinha ainda na administração estatal pessoas consideradas subversivas e punidas pelo regime militar.
Nesse quadro de revoltantes denúncias e acusações ao governador, o Maranhão que vivia uma fase de calmaria e de trabalho, imediatamente se transforma e convive com dias de tumulto e inquietação, por conta dos boatos, cada vez mais fortes, de que a cabeça de Sarney rolaria nas águas tempestuosas do AI-5. A boataria foi de tal monta que levou o governador a pensar em renunciar ao mandato.
Ele só não pratica o gesto pela intervenção de amigos e do vice-governador Antônio Dino, ao anunciar que se Sarney renunciasse ao cargo, ele não assumiria o governo. Antes, porém, lança um manifesto ao povo maranhense, em que relata a luta que teve para chegar ao poder e do esforço que fazia para rebater as insensatas e sórdidas acusações feitas contra ele e seu governo.
A firme e desassombrada atitude do governador repercute aqui e fora do Estado, a ponto de fazer com que as forças que tentavam defenestrá-lo do governo, recuam para ganhar tempo para novas investidas, mas que não se viabilizam por um fato inesperado e lamentável: o afastamento da chefia da Nação do presidente Costa e Silva, atacado, em 28 de agosto de 1968, por uma violenta trombose, que o tornou inválido.
A doença não permite mais o retorno de Costa e Silva ao poder, sendo substituído não pelo vice-presidente Pedro Aleixo, mas por uma Junta formada pelos três ministros militares, que transferem o governo ao general Ernesto Garrastazu Médice.
Com essa reviravolta institucional operada no país, Américo de Sousa fica na orfandade e sem condições políticas de continuar conspirando contra a presença de Sarney no Palácio dos Leões, onde permanece até junho de 1970, em cumprimento à legislação eleitoral, para ser candidato ao Senado. Só então renuncia ao cargo, o qual transfere ao vice-governador Antônio Dino.
Anos depois, quando Sarney estava no exercício da Presidência da República, esquece e perdoa as tramóias arquitetadas por Américo de Sousa em 1968, e o nomeia ministro do Tribunal Superior do Trabalho.
E ainda dizem que Sarney é rancoroso.

1 comentário para "A FRUSTRADA CANDIDATURA DE AMÉRICO DE SOUSA"


  1. AMÉRICO DE SOUZA

    É pena que o prezado conterrâneo jornalista Benedito Buzar, por quem tenho o maior apreço, tenha escrito uma matéria com meias verdades e nuita desinfirmação. Minha candidatura a governador em 1970 não prosperou porque houve mudançan do sistema eleitoral: substituição da eleição direta (pelo povo) por indireta (pela Assembleia Legistativa), em que era acatada a indicação da presidência da República (Garrastazu Medici). Quanto à relação pessoal com o senador José Sarney sempre foi cordial amistosa, mesmo quando ambos defendiam propostas eleitorais antagônicas.

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