A TRAJETÓRIA DO PSD NO MARANHÃO
Os jornais de São Luis, na semana passada, informaram que o “PSD estagna no Maranhão e pode se esvaziar por falta de projeto político”. Mais ainda: “Fundado há pouco mais de um ano, o Partido Social Democrático parece ter chegado a um estágio de ostracismo”, por isso “alguns membros pretendem deixar a sigla, insatisfeitos com os rumos do partido”.
Este PSD, fundado em 11 de março de 2011, que está na iminência de desaparecer do mapa, não é o primeiro a ter vida no Maranhão. Antes dele, outros dois surgiram com o nome de Partido Social Democrático. Um, teve existência curta: de 11 de agosto de 1934 a 3 de dezembro 1937, quando o ditador Getúlio Vargas dissolveu todos os partidos políticos brasileiros. O outro, fundado em 17 de junho de 1945, saiu de cena em 27 de outubro de 1965, por força do Ato Institucional nº 5, que extinguiu os partidos nacionais.
O primeiro Partido Social Democrático criado no Maranhão foi em 1934, produto da aliança entre o ex-governador Magalhães de Almeida e o interventor Martins de Almeida. Esta costura política foi feita por Vitorino Freire, que veio para o Maranhão coordenar as ações políticas do governo e eleger a maioria dos deputados federais e estaduais, estes, com a responsabilidade de fazer a Constituição do Estado e eleger, por via indireta, o novo governador.
O PSD elegeu 2 dos 7 deputados federais e 13 dos 32 deputados estaduais, os quais não votaram no candidato que ganhou as eleições para o governo do Estado: o cientista Aquiles Lisboa. A ele fizeram ferrenha oposição na Assembleia Legislativa, a ponto de moverem uma moção de desconfiança, que culminou em intervenção federal e em seguida na nomeação de Paulo Ramos para o Poder Executivo do Maranhão.
Em dezembro de 1937, por causa do Estado Novo, que transformou Getúlio Vargas em ditador, o PSD foi extinto com outros partidos.
Com nova roupagem e novo comando, o Partido Social Democrático reaparece em 1945, fruto da redemocratização do país e das negociações entre Vitorino Freire, Genésio Rego e Clodomir Cardoso. Em 2 de dezembro de 1945, nas eleições para a Câmara e Senado Federal, o PSD elege seis dos nove deputados federais e dois senadores. Com esse resultado, o partido teve o direito de indicar o novo interventor: o empresário Saturnino Belo, encarregado de fazer a transição da ditadura para a democracia.
O novo PSD teve pouco tempo de harmonia política, pois logo surgiram os desentendimentos de Genésio Rego e Clodomir Cardoso com Vitorino, este, fortalecido dado sua amizade com o presidente da República, Eurico Dutra. Por conta disso, o PSD divide-se em dois grupos. Um, o mais forte, o PSD do V, liderado por Vitorino; o outro, o PSD do G, sob o controle de Genésio e Clodomir.
Para contornar a situação, o Diretório Nacional do PSD decide apoiar o PSD do V, com o que não concorda o PSD do G, indo imediatamente bater às portas do Tribunal Superior Eleitoral, que lhe dá ganho de causa. Para não ficar sem legenda partidária no Maranhão, Vitorino deixa o PSD e consegue o Partido Proletário Brasileiro para abrigar seus correligionários políticos, que disputariam as eleições de 1947. Os candidatos do PSD do G são esmagados pelo PSD do V.
Depois de oito anos fora do PSD, sem deixar de pensar no partido e na expectativa de um dia reconquistá-lo, o senador Vitorino Freire, com muita luta e conchavo, volta ao ninho do partido que ajudou a fundar em 1946. Em 28 de junho de 1954, o Tribunal Regional do Maranhão registra a nominata dos membros do novo diretório regional do PSD, constituído por figuras representativas da política maranhense, dentre as quais Eugênio Barros, Sebastião Archer, Newton Bello, Raimundo Bogéa, Alexandre Costa e Matos Carvalho.
Em 1963, o PSD sofre um terrível abalo no Maranhão, em decorrência da insurreição de sete deputados federais ao comando do governador Newton Bello. Os rebelados, liderados pelo deputado Cid Carvalho, desligam-se do PSD, filiam-se ao PTB e passam a apoiar o presidente João Goulart e a luta por ele travada pelas reformas de base. Pensavam também criar condições para disputar as eleições de governador do Estado, em 1965, fato que não aconteceu, face ao golpe militar de 1964.
Mas a grande cisão nas hostes do PSD maranhense veio à tona em 1965, com o processo de sucessão do governador Newton Bello. Para enfrentar a candidatura oposicionista de José Sarney, que estava na rua, o governador aposta na candidatura de Renato Archer, que não vinga por causa do veto dos militares. Newton Belo, com o PSD em suas mãos, lança o prefeito de São Luis, Costa Rodrigues, a candidato, este, vetado por Vitorino. O impasse resulta no rompimento do senador com o governador. Resultado: Newton Bello, com maioria na convenção, homologa a candidatura de Costa Rodrigues; Vitorino, por sua vez, faz uma representação ao diretório nacional do PSD contra o governador e pede intervenção no diretório estadual do PSD, sendo prontamente atendido.
Desfecho da crise: sem o PSD, Newton Bello socorre-se do PDC, pelo qual homologa a candidatura de Costa Rodrigues; com o PSD em seu poder, Vitorino rende-se à candidatura de Renato Archer, lançada pelo PTB.
Com o PSD derrotado e dividido, tendo em vista que Costa Rodrigues e Renato Archer perderam as eleições para José Sarney, o vitorinismo mostrava que estava em pleno processo de eutanásia. Mas o golpe fatal para o desaparecimento do Partido Social Democrático ocorre a 27 de outubro de 1965, por conta da edição do Ato Institucional nº2, que extingue inapelavelmente o pluripartidarismo e faz nascer o bipartidarismo com a criação da Arena e do MDB.