O prefeito João Castelo é o político maranhense de maior intimidade com as eleições de segundo turno. Ao longo de sua vida pública, participou de três. Uma para o governo do Estado do Maranhão, em 1990, e duas para a prefeitura de São Luís, em 1996, concorrendo com Jackson Lago; em 2008, disputando com Flávio Dino.
No pleito do próximo domingo, o quarto a disputar, Castelo fará de tudo para evitar o que aconteceu em 1990, quando, no segundo turno, perdeu para Edison Lobão e viu escapar de suas mãos o cargo que ocuparia pela segunda vez. Em 1978, em pleno regime militar, foi eleito, por via indireta, governador do Estado, para cumprir o mandato de março de 1979 a março de 1983.
De acordo com a Constituição de 1988, a partir das eleições de 1990, os candidatos a governador seriam considerados eleitos se obtivessem maioria absoluta de votos na primeira votação. Se nenhum alcançasse, dar-se-ia nova eleição, concorrendo os dois candidatos mais votados, sendo eleito aquele que conseguisse a maioria dos votos válidos.
Como mandava o figurino constitucional, em 3 de outubro de 1990, ocorreu o pleito em que estava em jogo à sucessão do governador João Alberto, à frente do Poder Executivo estadual, face à renúncia do titular, Epitácio Cafeteira, que deixara o cargo para disputar uma cadeira no Senado da República. Três candidatos tiveram registros homologados pelo Tribunal Regional Eleitoral: João Castelo, pelo PRN, PMDB, PDC, PSDB, PL; Edison Lobão, pelo PFL, PTB, PSC: Conceição Andrade, pelo PSB, PT, PDT, PCB, PC do B.
Como nenhum candidato obteve maioria absoluta, levou-se a decisão para o segundo turno, entre os dois mais votados, João Castelo, que obteve 595.392 votos, equivalente a 45,8% da votação, e Edison Lobão, que conquistou 459.542 sufrágios, correspondente a 35,3% dos votos.
Galhardamente Castelo ganhou as eleições no primeiro turno, mas partiu para o segundo de salto alto. Esqueceu que a nova disputa era literalmente diferente da anterior, na qual obteve larga vantagem de votos sobre o seu principal opositor, Edison Lobão.
Fatos relevantes, como a participação de elementos humanos e introdução de ingredientes materiais, contribuíram para a sensacional virada do candidato Edison Lobão no segundo turno, levando-o a uma consagradora vitória eleitoral, surpreendendo o próprio adversário, João Castelo, e deixando estupefatos os setores identificados com a sua candidatura.
Dentre os pontos mais salientes dessa virada destacam-se a atuação marcante do governador João Alberto, que, no primeiro turno, havia se comportado como magistrado. No segundo turno, porém, o governador entregou-se de corpo e alma à campanha, durante a qual conquistou apoios e adesões de grande valia para Lobão – lideranças sindicais, setores das igrejas católicas e evangélicas e segmentos identificados com a esquerda, a exemplo da deputada Conceição Andrade.
Conhecendo como poucos a realidade política maranhense, João Alberto também tomou decisões importantes e atraiu prefeitos e deputados engajados na candidatura de Castelo, aos quais prometia, em nome do futuro governador, atender suas reivindicações e aspirações.
Deve também ser ressaltada a presença do senador José Sarney, que se ausentara do Maranhão no primeiro turno, pelo fato de participar, no Amapá, de sua eleição ao Senado da República. Em aqui chegando, integrou-se imediatamente à campanha de Lobão, passando a comparecer a comícios e reuniões, principalmente no interior do Estado, onde sua figura política era extremamente imperiosa.
Foi fundamental a sua participação ao lado de Lobão numa vibrante carreata, que começou em São Luís e terminou em Timon, com três dias de duração, com visitas às cidades e povoados à margem da BR-135.
Alvo de ataques e agressões no primeiro turno de setores castelistas, Sarney, astucioso inteligente, aproveitou-se disso para rebatê-las e aguçar o sentimento de admiração do povo com relação à sua pessoa e por onde passou deixou a marca de sua popularidade e liderança, que canalizou em proveito de Lobão.
Preocupado com a atuação de Sarney, Castelo trouxe do Rio de Janeiro o ator Lima Duarte, da TV Globo, à época, o Zeca Diabo, que fazia sucesso na novela Roque Santeiro, para agredir o senador. Foi pior a emenda do que o soneto. Sarney se fez de vítima e deu a volta por cima.
Outro fato a lembrar: o fraco desempenho de Castelo nos programas veiculados pelas emissoras de rádio e televisão, permitindo a Lobão agigantar-se com as modificações introduzidas pelos marqueteiros em suas apresentações, que neutralizaram a acusação de que ele consolidaria no Maranhão a oligarquia Sarney.
Mas o maior equívoco de Castelo foi escolher Sarney para centro dos ataques, como se fosse o seu competidor ou tivesse disputando algum cargo político. Com isso, deixou Lobão livre, leve e solto para se dedicar com mais fervor à campanha, mormente, no final, quando teve mais tempo para cuidar dos acordos, contatos e conversas e chegar à vitória a qualquer custo.
Grande aula meu caro.