No começo deste mês, o coronel Flávio Peregrino, comandante do 24º Batalhão de Caçadores, organizou a Marcha Barão de Caxias, formada por contingentes do Exército, que saíram de São Luis com destino à Caxias, passando antes por Rosário, Itapecuru, Coroatá e Codó.
Nestas cidades, o coronel Luiz Alves de Lima e Silva, no período regencial, como presidente da província do Maranhão e comandante das Armas, enfrentou o movimento insurrecional e popular chamado Balaiada.
Naquela época, as insatisfações sociais e políticas no Maranhão criaram condições para que no interior da província, onde vivia a população menos assistida e mais sofrida, eclodisse um movimento de revolta contra os detentores do poder. O estopim da rebelião deu-se em 13 de dezembro de 1838, quando o vaqueiro Raimundo Gomes, em represália à prisão do irmão, invade a cadeia pública da vila de Manga, hoje, Nina Rodrigues, e solta os prisioneiros.
Da vila da Manga, Raimundo Gomes, vulgo Cara Preta, e seus asseclas, partem para o interior do Maranhão, onde praticam atos contra as elites e as autoridades, recebendo, por isso, a adesão das camadas mais humildes da população.
Do meio rural, de numerosos contingentes humanos, liderados por Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, o Balaio, e Cosme Bento das Chagas, o negro Cosme, chefe das legiões de quilombolas. Das cidades, o apoio e o incentivo de intelectuais, do porte de Estevam Rafael de Carvalho, João Lisboa e José Cândido de Moraes e Silva.
Dia a dia, os governantes da província perdiam o controle da situação e os rebeldes ganhavam força. Resultado: os revoltosos dominam e ocupam vilas e cidades, dentre as quais Caxias, onde uma Junta Governativa instala-se e exige, para cessação dos conflitos, a revogação da lei dos prefeitos, a anistia aos revoltosos e a expulsão dos portugueses do Maranhão.
Após terríveis refregas, que revelavam a incompetência dos governantes para debelar a insurreição, o governo imperial nomeia o coronel Luiz Alves de Lima e Silva presidente da Província e comandante das Armas do Maranhão.
Assume cargo em fevereiro de 1840, após o que lança um manifesto ao povo, traça estratégias para sufocar os amotinados e prepara planos restaurar a tranqüilidade e a paz na província. As forças sob seu comando, intituladas de Divisão Pacificadora do Norte, foram distribuídas em três colunas. A primeira, em Caxias e Pastos Bons; a segunda, em Vargem Grande e Brejo, a terceira, em Icatu.
Nos meados de 1840, a “guerra civil do Maranhão” já sinalizava a superioridade das forças legalistas sobre os rebeldes, que por não resistirem aos intensos combates a que eram submetidos, recuam, entregam as armas, viram prisioneiros ou são mortos.
Duque de Caxias, diante da derrota iminente dos balaios, conclama-os à rendição e à capitulação, para se beneficiarem da anistia concedida pelo imperador Dom Pedro II. O único que não se entrega é o Negro Cosme, sendo caçado, preso e condenado à morte, na cidade de Itapecuru.
Finda a Balaiada, o coronel Luiz Alves de Lima, antes de passar o governo do Maranhão ao substituto, retorna à vila de Itapecuru-Mirim, para cumprir o que prometera à população. Sobre o assunto, Domingos José Gonçalves, no livro “Memória histórica e documentada da Revolução da Província do Maranhão”, fez este relato: “No dia 2 de abril de 1841, em que reza a igreja pelas seis dores da Mãe do Redentor, fomos à vila de Itapecuru, e ali lançou ele a primeira pedra da igreja matriz de Nossa Senhora das Dores, e fez-se a solenidade segundo o ritual romano”. Conclui dizendo que “A pedra de palmo e meio, bem quadrada, tem na face superior a data do ano e as iniciais do presidente L.A.L. para as obras dessa igreja fez ele de seu bolso um avultado donativo, além do que se colheu por subscrição entre os paroquianos, e do que ele mandou dar pelo cofre da província, e se distribuir por outras muitas igrejas arruinadas consignações para seus reparos e paramentos”.
Em 2002, quando ocupava o cargo de gerente regional de Itapecuru, soube que havia sido encontrada numa escavação, uma pedra pesada, quadrada e com letras. Interessei-me e fui atrás da pedra. Ao vê-la, comprei-a na certeza de possuir valor histórico, em face das letras gravadas, que imaginei serem do Duque de Caxias, fato comprovado pela descrição de Domingos José Gonçalves de Magalhães. Na face superior da pedra, encontravam-se as letras L.A.L.,que correspondiam às iniciais do nome de Luiz Alves de Lima.
A referida pedra, ainda em meu poder, desejava mostrá-la ao coronel Peregrino, quando a Marcha Barão de Caxias passou por Itapecuru. Queria homenagear o Exército brasileiro, que, pela palavra de sua oficialidade, deixou de vocalizar e repetir às novas gerações aquele rançoso discurso oficial, de que a Balaiada foi um movimento de bandoleiros, facínoras e bandidos.
O escritor maranhense Astolfo Serra, no seu livro A Balaiada, recentemente reeditado pelo Instituto GEIA, afirma que o movimento “não era uma aventura, nem política, nem de banditismo, foi antes um fenômeno de acentuadas características sociais, e que se manifestou como movimento de massa com o caráter de reabilitação social”.