Quem acompanha a cena política brasileira, não esquece a noite de 8 de junho de 1964, quando “A Voz do Brasil” informou o que já vinha sendo articulada pelos radicais do regime militar: a cassação do mandato de senador do ex-presidente Juscelino Kubitschek e a suspensão de seus direitos políticos por dez anos.
Os maranhenses tinham por JK uma admiração especial, não apenas pelo fato de ser um homem público notável, haja vista o processo de desenvolvimento que deflagrou no país no exercício da Presidência da República, mas pelas atenções prestadas ao nosso Estado, sem esquecer a amizade dispensada às lideranças políticas locais, priorizando os governistas Renato Archer e Cid Carvalho e os oposicionistas José Sarney e Neiva Moreira, este, deu ao seu governo uma fantástica contribuição, por ocasião da transferência da capital da República, do Rio de Janeiro para Brasília, em 1961.
Enquanto figura de relevo na política brasileira, Juscelino veio ao Maranhão quatro vezes. A primeira, no começo de 1954, então governador de Minas Gerais e potencial candidato à presidência da República. Cumpriu em São Luís a missão de convencer o PSD maranhense, principalmente o governador Eugênio Barros, a aceitar a operação orquestrada pela cúpula do partido para eleger o jornalista Assis Chateaubriand, derrotado em sua terra natal – a Paraíba, mas, pelo domínio sobre a mídia impressa do país, sua presença no Senado era imprescindível ao projeto de JK.
A segunda visita de Juscelino a São Luís foi em julho de 1955, em plena campanha eleitoral à sucessão presidencial. Na companhia de João Goulart, seu companheiro de chapa, aqui passou três dias, cumprindo uma programação intensa de comícios, reuniões, visitas e participação na convenção do PSD que homologou as candidaturas de Matos Carvalho e Alexandre Costa a governador e vice do Estado.
A terceira vez que pisou no solo maranhense deu-se no exercício do cargo de presidente da República. Não passou mais do que seis horas em São Luís, onde, no dia 18 de janeiro de 1958, marcou presença nas inaugurações do Hospital Presidente Dutra, construído pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários, então dirigido pelo engenheiro Remy Archer, e da Faculdade de Ciências Médicas, iniciativa do arcebispo Dom José de Medeiros Delgado. Também visitou a estação da Estrada de Ferro São Luis-Teresina para ver uma locomotiva diesel, comprada nos Estados Unidos.
A quarta e última visita de JK, a mais agitada, ocorreu no auge de seu inferno astral, por conta das indefectíveis perseguições e vinganças movidas pelo regime vigente no país, que o submetiam a humilhantes interrogatórios e malsinados inquéritos, patrocinados pela Comissão Geral de Investigação e pelo Serviço Nacional de Informação.
Naquela oportunidade, veio a São Luís a convite da primeira turma do curso de Economia da Universidade Federal do Maranhão, que, no dia 12 de dezembro de 1968, colou grau. Em solenidade especial, o ex-presidente da República, consagrado como patrono, foi alvo principal das homenagens dos formandos, desejosos de desagravá-lo dos sofrimentos morais a ele impingidos.
Na solenidade de formatura, realizada no auditório da Biblioteca Pública, aliás, pequeno para comportar tanta gente, o homenageado proferiu um discurso inflamado em favor da liberdade e da democracia, ao final do qual foi significativamente reverenciado e aplaudido.
No dia seguinte, nova homenagem foi a ele tributada pelos economistas, desta feita, no Clube Recreativo Jaguarema, com direito a banquete, ao qual marcou presença o então governador José Sarney, que discursou e, em brilhante improviso, enalteceu a figura de estadista do ilustre visitante, realçando sua operosa administração e seu elevado espírito democrático quando governou o Brasil. No auge da empolgação, Sarney o chamou de “meu presidente”, fato que obteve repercussão no país, irritou a linha dura do regime e por pouco sua cabeça não rolou. O governador chegou até a lançar um manifesto, como que se despedindo da vida pública.
À noite, em companhia do dileto amigo, Renato Archer, participou de um jantar no Olho D’Água, na residência do empresário Antônio Moraes Correia, onde acompanhou, pelo rádio, a sessão do Congresso Nacional, onde o mandato do deputado Márcio Moreira Alves era objeto de cassação, pelo discurso que fizera e considerado agressivo às Forças Armadas. Como foi poupado pela maioria parlamentar, o presidente Costa e Silva decretou o Ato Institucional nº 5, com base no qual foram cassados mandatos, realizadas prisões e suspensão de direitos políticos de centenas de brasileiros.
JK foi um dos primeiros a sentir os efeitos do AI-5. Ao regressar ao Rio de Janeiro, na manhã de 13 de dezembro de 1968, ainda no aeroporto do Tirirical, percebeu que havia alguma coisa ar, além da movimentação dos aviões de carreira. A bordo da aeronave, agentes do SNI, que acompanharam todos os seus passos em São Luís, sorrateiramente dele se aproximaram e ao seu ouvido disseram que ele viajava sob escolta e vigilância do Serviço Nacional de Informação. Chegando ao destino final da viagem, recebeu nova ordem: apresentar-se imediatamente aos militares encarregados do IPM, para prestar depoimento sobre a Frente Ampla, sumariamente fechada pelo Ato Institucional 5.
1- JK esteve em São Luis, pela 1ª vez em julho do ano da constituinte, como membro da Comissão e Transporte e Comunicações, durante o Governo de Sebastião Archer, segundo Cláudio Bojunga em “JK O Artista do Imposssível”, pag. 179;
2- 12/12/1968 JK é patrono da 1ª turma do curso de Economia; dia seguinte(13/12/1968) JK é homenageado no Clube Jaguarema; à noite janta no Olho D’Água;regressa ao Rio na manhã de 13/12/1968. Segundo Bojunga JK épreso dia 13/12/1968 no Teatro Municipaldo Rio de Janeiro.
Pergunto: O quê que é certo?
Sds
Antonio Carlos