O mais jovem governador do Maranhão

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Sempre que vem à tona a questão relacionada à idade cronológica do mais jovem governador do Estado do Maranhão, não há quem não se lembre de José Sarney, que chegou ao Palácio dos Leões no fulgor de seus 35 anos.

Mas os que assim pensam cometem um equívoco histórico. Para esclarecer o fato e não deixar dúvidas a respeito do assunto, necessário fazer um recuo no tempo e reviver o dia 25 de março de 1956, portanto, há 56 anos, quando a população de São Luís assistiu e acompanhou com invulgar interesse um ato político inédito na História do Maranhão.

Naquela data, um cidadão, no vigor da mocidade, assumia inesperadamente a chefia do Executivo do Estado: o deputado Eurico Bartolomeu Ribeiro, com apenas 28 anos de idade, fato jamais visto no Maranhão, seja na fase colonial, no período imperial e no ciclo republicano.

Ao eleger-se deputado estadual em 1954, o jovem advogado não imaginaria que, menos de um ano de exercício na Assembléia Legislativa, participaria de modo marcante de um episódio político, deflagrado em 31 de janeiro de 1956, quando o governador de Eugênio Barros passaria o governo para o seu sucessor, José de Matos Carvalho, o qual foi impedido de assumir porque as Oposições Coligadas impugnaram
as eleições majoritárias de 1955 e em processo de julgamento no Tribunal Superior Eleitoral.

Diante da inviabilidade da transmissão do cargo, Eugênio, em obediência à Constituição estadual, transmitiu o governo ao presidente da Assembléia, o deputado caxiense Alderico Machado. Este, porém, foi
destituído do cargo por uma manobra das Oposições, com apoio de um grupo do PSD, liderado pelo vice-governador Alexandre Costa.

Dessa conspiração oposicionista, a presidência do Legislativo do Estado acabaria nas mãos do deputado Costa Fernandes, que, também, não conseguiu ficar à frente do Executivo, porque os governistas não deixaram que ele ocupasse o cargo. Até o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Palmério Campos, foi convocado, em atendimento à sucessão hierárquica, para assumir o posto, mas desistiu diante da resistência governista.

Depois dessas malogradas tentativas, os governistas conseguiram, mediante acordos e conchavos, ter novamente maioria no plenário da Assembleia, permitindo que a bancada do PSD se rearticulasse em torno do jovem deputado Eurico Ribeiro para presidir o Poder Legislativo e, como tal, comandar interinamente o Executivo estadual até que a Justiça Eleitoral julgasse os recursos e mandasse diplomar o governador eleito.

Uma surpresa, todavia, estava reservada para Eurico Ribeiro. No dia 2 de maio de 1956, horas antes da eleição que determinaria a sua recondução à presidência da Assembleia Legislativa, sem o que ele não continuaria no cargo de governador, os vitorinistas perceberam que poderiam perdê-la por um voto, exatamente o do dissidente Euzébio Trinta, suplente de Eurico.

Enquanto os deputados votavam, Eurico, sem alarde, deixa o Palácio dos Leões em direção da Assembléia, onde se apresenta para votar como parlamentar e não como governador interino. A presença dele no plenário gerou um gigantesco tumulto. De um lado, os oposicionistas querendo impedi-lo de votar. De outro, os governistas, na base da intimidação e do grito, garantindo-lhe o direito (?) de participar do processo de votação da mesa diretora e   assim ser  reconduzido à presidência do Legislativo.

Ao se ausentar do Palácio dos Leões e  investindo-se no mandato de deputado, Eurico deixou o governo momentaneamente acéfalo, fato que levou os oposicionistas a espernear e a protestar contra um ato que
atentava aos princípios da legalidade. Mas cumprida a missão a que se determinara fazer, mesmo tendo passado por sobressaltos, Eurico retorna à sede do governo e assume novamente os encargos inerentes ao exercício do poder.

Não havia ainda se refeito da aflição pela qual havia sofrido na Assembleia Legislativa, eis que, no dia seguinte à sua penosa eleição, irrompe uma quartelada chefiada pelo capitão Antônio Alves Gondim, com
o objetivo de defenestrá-lo do governo.

O levante veio à tona nas primeiras horas da madrugada de 3 de maio de 1956. Nessa hora, o governador é despertado por um telefonema, dando-lhe conta de que o oficial da Polícia Militar, à frente de alguns
sublevados, já marchava rumo ao Palácio dos Leões para de lá arrancá-lo à bala.

Quando o capitão Gondim e os insurretos começaram a dar os primeiros tiros, na tentativa de alvejar os vitorinistas, os políticos do PSD e oficiais da Polícia Militar, leais ao governo, rapidamente mobilizaram-se
e conseguiram sufocar a rebelião e prender o insubordinado capitão, que depôs as armas depois de uma negociação em que o governador e o senador Vitorino Freire não aceitaram a proposta do coronel Anacleto Tavares de invadir o Quartel da Polícia Militar com as tropas do 24º Batalhão de Caçadores e garantiram a integridade física do oficial.

Serenados os ânimos políticos e debelada a escaramuça militar, Eurico conseguiu dirigir o Estado exemplarmente até 9 de julho de 1957, quando transmitiu o governo ao eleito e diplomado José de Mattos Carvalho. Este, ao assumir o Poder Executivo, criou a Secretaria de Viação e Obras Públicas e convidou Eurico para instalá-la e ser o seu primeiro titular.

Como prêmio de consolação, foi nomeado procurador geral do Estado, mas não assumiu o cargo. Nas eleições de 1958, candidatou-se a deputado federal. Ficou na primeira suplência, mas exerceu o mandato na quase totalidade. Em 1962, voltou a ser candidato ao Congresso Nacional e elegeu-se com facilidade, tanto que conseguiu levar para a Assembléia Legislativa o irmão Telêmaco Ribeiro.

Ao assumir o governo do Estado aos 28 anos de idade, que se imponha a verdade: é Eurico Ribeiro e não José Sarney o mais jovem governador do Maranhão. Dos tempos idos e vividos.

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Mulheres na política maranhense

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No dia 24 de fevereiro de 1932, portanto, há 80 anos, as mulheres brasileiras davam um passo importante para o futuro político do Brasil. Nessa data, o presidente Getúlio Vargas assinava o decreto instituindo o Código Eleitoral Brasileiro que considerava eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, mas com uma ressalva: nas eleições de 3 de maio de 1933, em que o povo brasileiro escolheria seus representantes à Assembleia Nacional Constituinte, as mulheres só poderiam votar com autorização do marido, as viúvas e as solteiras com renda própria.

Com a nova Constituição do Brasil, promulgada em 16 de julho de 1934, os constituintes acabaram com as restrições ao voto feminino e assim as mulheres puderam votar e ser votadas livremente nas eleições marcadas para 14 de outubro de 1934, quando seriam eleitos os representantes dos Estados na Câmara Federal e os constituintes estaduais.

No Maranhão, os partidos políticos, dissolvidos na Revolução de 30, voltaram a se organizar para o pleito de 1934, que garantia à agremiação partidária que obtivesse a maioria das 30 vagas na Assembleia Constituinte o controle do poder estadual. Disputaram as eleições a União Republicana Maranhense, o Partido Social Democrático, o Partido Republicano Maranhense, o Partido Socialista Brasileiro, a Liga Eleitoral Católica, a Ação Comercial Trabalhista, a Ação Integralista Brasileira e a Frente única Proletária.

Nestas eleições, pela primeira vez as mulheres maranhenses decidiram se candidatar aos cargos eletivos. Pela listagem publicada no Diário Oficial, o povo tomou conhecimento, ao contrário do passado, de que nas chapas que concorreriam aos mandatos parlamentares, figuravam representantes do sexo feminino.

Para disputarem as eleições à Assembleia Constituinte Estadual registraram-se as seguintes candidatas: Hildenê Gusmão Castelo Branco e Aliete Bello Martins, pelo Partido Republicano; Zuleide Fernandes Bogéa e Rosa Castro, pela União Republicana Maranhense; Zélia Maciel de Campos, pela Liga Eleitoral Católica; Othilia Cantanhede Almeida e Judith da Silva Ferreira, pela Ação Integralista Brasileira. Todas egressas do magistério.

Ao final da apuração, apenas duas conseguiram se eleger: Rosa Castro e Zuleide Bogéa, ambas da União Republicana Maranhense, que fazia oposição ao interventor Martins de Almeida.

Em razão dos numerosos recursos em julgamento no Tribunal de Justiça Superior Eleitoral, em que os candidatos impugnavam, por irregularidades, os concorrentes, somente em 14 de março de 1935, o Diário Oficial publicava a Ata Geral das Eleições de Outubro de 1934. Na relação dos eleitos, não constava o nome da professora Rosa Castro, que por erro praticado pelo seu partido, perdeu a votação e teve o diploma cassado.

Na fase política em que o Maranhão foi governado pelo interventor Paulo Ramos, realizaram-se no dia 12 de março de 1937 as eleições para prefeituras e câmaras municipais. Na maioria dos 65 municípios do Estado, o PSD elegeu os prefeitos e vereadores, por conta do prestígio do ex-governador Magalhães de Almeida.

Nestas eleições, uma mulher levantou a bandeira do feminismo e se candidatou a prefeita do município de São João dos Patos: Joana da Rocha Santos, a famosa Dona Noca, que se elegeu e virou personagem lendária pela coragem e destemida determinação. Era a primeira mulher eleita prefeita no Brasil.

Em decorrência da instalação do Estado Novo, os partidos políticos foram extintos e as eleições suspensas em todo o país. Mas com a deposição de Getúlio Vargas, em outubro de 1945, o Brasil retornava ao caminho democrático e marcadas as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, em 2 de dezembro de 1945, disputadas pelos Partido Social Democrático, Partido Proletário do Brasil, União Democrática Nacional, Partido Republicano, Partido Trabalhista Brasileiro, Partido Comunista Brasileiro e Partido Libertador.

As mulheres maranhenses não disputaram as eleições à Assembleia Nacional Constituinte. Elas só participaram do processo eleitoral em 19 de janeiro de 1947, quando o povo maranhense foi convocado para eleger os deputados que iriam preparar a nova Constituição do Estado do Maranhão.

Para estas eleições, apresentaram-se candidatas Maria Dalva Bacelar, do Partido Proletário do Brasil; Raimunda Mendes Coelho, do Partido Social Democrático; Aldeci de Oliveira Araújo, Maria José Aragão, Maria da Conceição Nogueira Medeiros e Anita Adelman Correia, do Partido Comunista do Brasil. Só foi eleita Maria Dalva Bacelar, recentemente falecida em Recife.

A partir dos anos setenta, as mulheres maranhenses passaram a ter maior participação na política e lançaram-se candidatas aos cargos eletivos majoritários e proporcionais. Na Assembleia Legislativa, ao longo desse tempo, marcaram presença as deputadas Conceição Mota, Maura Jorge, Marly Abdala, Conceição Andrade, Helena Heluy, Janice Braid, Maria Aparecida Furtado, Malrinete Gralhada, Teresa Murad, Ivete Botelho, Telma Pinheiro, Sandra de Deus, Cristina Archer, Graça Paz, Socorro Waquim, Cleide Coutinho, Eliziane Gama, Graciete Lisboa, Maria de Fátima Vieira Lins, Maria Vianey Bringel, Gardênia Castelo e Valéria Macedo.

No Congresso Nacional, Nice Lobão e Roseana Sarney, esta, a primeira mulher a ser eleita governadora do Maranhão e a segunda a assumir o cargo no país.

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