A tônica principal das ações e da propaganda do atual governo é apontar os equívocos políticos e os erros administrativos das gestões anteriores, fato que temos visto que não passa de peça de retórica eivada de preconceito e messianismo, uma vez que os mesmos equívocos e muitos dos erros apontados são cometidos de forma recorrente pelo chefe e pelos membros do atual governo.
A mais recente demonstração disso é a rusga pública de dois secretários de governo se “engalfinhando” na busca e na disputa por espaços político-eleitorais para o pleito a deputado federal no ano que vem. Isso sem contar com os diversos membros do governo, que de posse das canetas de suas pastas não se cansam de fazer ações com o objetivo de se credenciar à disputa de mandatos eletivos na eleição de 2018.
As mesmas coisas eram comuns em governos passados.
O governador Flávio Dino elegeu a antiga casa de veraneio do estado como símbolo da “malvadeza” de governos anteriores e resolveu que assim que assumisse iria vendê-la. Desconhecedor da realidade do governo que iria administrar, ele descobriu que a casa não possui nenhum documento que comprove que ela pertence ao estado, logo não pôde se desfazer dela. Durante mais de dois anos de sua gestão não soube o que fazer com a casa até que descobriu que o melhor que tinha a fazer era usá-la como produto midiático, fazendo com que nela fosse implantada uma clínica para atendimento de crianças. Algo contra o qual ninguém poderia levantar a voz. Dito e feito! Só resta uma coisa a ser dita. Se o governo quisesse realmente atender e beneficiar as crianças hoje atendidas naquele local, ele teria feito isso dois anos antes, assim que assumiu o governo e instalado a Casa Ninar em um verdadeiro hospital, local destinado a esse fim.
No trato da política esse governo já provou e comprovou que conseguiu superar os anteriores em termos de arrogância e incapacidade de ouvir, digerir, interpretar e responder a ponderações e criticas. Trata muito mal os políticos que se antes não tinham acesso ao governo e ao governador, hoje tem uma coisa que antes não tinham em relação a eles. Medo!
Este é um governo para o qual todos são suspeitos de estarem fazendo alguma coisa errada e passível de punição. Somente depois de semear esse medo, o atual governo angaria os apoios que ostenta.
Não se pode negar o grande preparo intelectual do atual governador. Ele é dentre os de sua geração o mais preparado culturalmente, mas não consegue agregar a isso a simpatia necessária e indispensável para transformá-lo em um verdadeiro líder. Ele não possui o charme e a simpatia de Roseana, a dureza tenaz e autêntica de João Alberto, a sensibilidade política de Lobão e muito menos a capacidade de entendimento das conjunturas e a imensa rede de relacionamentos de Zé Sarney.
No auge de sua capacidade intelectual e cultural, Flávio Dino, ao ler o capítulo XVII de “O Príncipe” de Maquiavel, quando o sábio florentino nos oferece de bandeja a opção de escolhermos entre o amor ou o medo, opta diretamente pelo medo, sem saber que o medo pode vir a gerar o ódio, oposto ao amor. Em que pese o seu preparo, ele desconhece que em termos de poder, o amor pode acabar por gerar também o medo, só que um medo menos ofensivo e cruel. O medo gerado pelo amor, aludido por Maquiavel nesta quadra de sua obra, é um medo profilático, necessário para nos manter sadios e operantes, não é o medo do terror que os poderosos podem exercer em seus vassalos ou opositores.
Olho para esse governo de forma totalmente isenta e vejo algumas coisas realmente boas que estão sendo realizadas! Vejo uma grande perda de oportunidade de realizar mudanças verdadeiramente boas por limitação de espírito. Vejo, pelo lado bom e pelo lado ruim, algumas coisas iguais as de antes. E o que é pior, vejo outras muito piores que as praticadas anteriormente.
[…] Por Joaquim Haickel […]